Os sistemas alimentares brasileiros estão repletos de contradições. Embora o Brasil seja um dos maiores produtores agropecuários do mundo, com o setor representando um terço do Produto Interno Bruto (PIB), o país ainda enfrenta níveis alarmantes de insegurança alimentar. Milhões de pessoas vivem em situação de vulnerabilidade à fome, reflexo de uma distribuição desigual de terras e rendimentos, além da baixa diversidade e concentração geográfica de certas culturas. 

Apesar das condições climáticas, de solo e biodiversidade favoráveis à produção de milhares de espécies, apenas 10 produtos — como refrigerantes, cervejas e açúcar — representam mais de 45% do consumo alimentar em todas as regiões do país. A agricultura familiar, que compõe 77% dos estabelecimentos agropecuários, ocupa apenas 23% da área destinada à agropecuária. 

Embora o Brasil tenha investido e aumentado significativamente a produtividade agrícola nos últimos anos, a produção agropecuária continua sendo um dos principais vetores de desmatamento, conversão de ecossistemas naturais, perda de biodiversidade e emissões de gases de efeito estufa do país. 

Para o WRI Brasil, fazer a transição para sistemas alimentares sustentáveis é urgente para garantir a segurança alimentar e nutricional da população, assim como um meio ambiente sadio e seguro para as futuras gerações. Por isso, desde 2023 o programa de Florestas, Uso da Terra e Agricultura atua nessa agenda nas seguintes linhas de ação: 

  • Sistematização do Conhecimento: A área trabalha na sistematização do conhecimento já existente sobre segurança alimentar, produção e consumo de alimentos e temas relacionados. A partir da geração de dados e informações, busca informar e articular com tomadores de decisão para que as informações mais recentes trazidas pela pesquisa científica seja incorporada em planos e políticas de governos, empresas e organizações.  
  • Articulação com atores-chave: Por meio da Coalizão FOLU Brasil (The Food and Land Use Coalition), o WRI Brasil atua com parceiros estratégicos de governos, empresas e sociedade civil para fortalecer e diversificar a produção local de alimentos, criando mecanismos para incentivar a produção de alimentos saudáveis e fortalecer comunidades locais. Além disso, articula com parceiros internacionais da FOLU, com foco em cooperação Sul-Sul.  
  • Apoio a políticas públicas: O WRI Brasil busca fortalecer políticas públicas relacionadas aos sistemas alimentares, atuando em parceria e apoiando planos como o Plano Nacional da Recuperação na Vegetação Nativa (Planaveg) e o Programa Nacional de Florestas Produtivas, entre outras. 

A abordagem sistêmica para a transformação da produção e o consumo de alimentos é fundamental e permite identificar alavancas, relações de causa e efeito entre diferentes elementos do sistema alimentar e identificar prioridades de ação, sempre considerando possíveis perdas e ganhos associados às intervenções.  

Também permite enfrentar múltiplos problemas, do combate ao desmatamento de florestas tropicais, passando pelo combate à pobreza e a fome, até o consumo de alimentos nutritivos pela população.  

Fazer essa mudança será fundamental para colocar o Brasil no caminho de uma transição justa para uma próspera economia de baixo carbono.