Os vales e morros da parte paulista do Vale do Paraíba formam uma bela paisagem. Mas essa paisagem passou, historicamente, por processos que acabaram degradando a região.

O Vale já teve grande importância econômica no passado, desde a rota do ouro de Minas Gerais na era colonial, passando pelo desmatamento da Mata Atlântica para o avanço dos cafezais e, posteriormente, para a pecuária leiteira de baixa produtividade até o desenvolvimento da região para expansão urbana. O resultado desse histórico é uma região muito desmatada e que hoje tem uma grande quantidade de áreas degradadas de baixa aptidão agrícola.

Esse passivo, no entanto, pode ser uma oportunidade para o Vale do Paraíba desenvolver uma nova economia de baixo carbono: retomar a capacidade produtiva dessas áreas e florestas degradadas e recuperar as capacidades ecológicas delas. Tudo isso com uma possibilidade real de aumentar o PIB agropecuário e agroflorestal da região, gerando emprego e renda. Como? Com a restauração de paisagens e florestas.

A descoberta de uma vocação florestal e agroflorestal

A aplicação da ROAM no Vale do Paraíba, um trabalho publicado pela Secretaria do Meio Ambiente do estado de São Paulo em 2018, com o apoio do WRI Brasil e parceiros, buscou entender quais são as oportunidades que o Vale tem para desenvolver uma nova economia agroflorestal sustentável, produtiva e economicamente viável. A aplicação da ROAM mostrou um resultado bastante promissor nessa direção. A região tem uma grande vocação para uma economia agroflorestal. As análises mostraram que metade da área do Vale do Paraíba tem as condições climáticas e ambientais ideias para implantação de modelos de restauração, reflorestamento e sistemas agroflorestais. Sem considerar as áreas que poderiam atender a produção agropecuária, foram identificados 450 mil hectares de áreas degradadas com aptidão agroflorestal.

ROAM é a sigla em inglês para Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração. É uma metodologia que permite identificar oportunidades, analisar dados e promover a restauração de paisagens e florestas de modo a aumentar a cobertura florestal considerando as características de cada local. Uma característica importante dessa metodologia é tratar a restauração florestal não apenas como um processo ambiental, mas também social e econômico, porque envolve comunidades, produtores rurais, órgão governamentais, e todos os atores que convivem naquela paisagem. Por isso, a aplicação da metodologia precisa escutar os envolvidos e entender quais são suas motivações.

Ao fazer isso, os pesquisadores identificaram as três principais motivações que levariam os produtores rurais e comunidades do Vale a restaurar áreas degradadas:

  • Restaurar para reduzir a perda e erosão do solo;
  • Restaurar para melhorar a qualidade ou quantidade da água nas propriedades;
  • Restaurar para gerar emprego e renda.

Avaliando essas motivações, o estudo concluiu que 19% da área do Vale atende a uma, duas ou três das motivações acima. As áreas que atendem ao mesmo tempo as três motivações podem se tornar áreas prioritárias para um programa de restauração de paisagens e florestas no Vale. Elas podem ser visualizadas em um mapa de oportunidades de restauração online, construído a partir da ferramenta Map Builder.

Os benefícios para o Vale

O resultado da aplicação da ROAM também mostra que, se essas oportunidades forem aproveitadas, o Vale do Paraíba pode se tornar um importante centro de uma economia florestal e agroflorestal. Por exemplo, se todas as áreas identificadas forem restauradas o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário da região pode aumentar em cerca de 32%.Também há efeitos positivos para ouras motivações identificadas. Para o solo, por exemplo, a restauração reduziria em 19% a erosão e perda do solo. Com a redução da perda do solo, há efeito positivo para a qualidade da água, por reduzir quantidade de sedimentos.

Alguns produtores já estão aproveitando esses benefícios e investindo em restauração florestal. Um exemplo no Vale do Paraíba é o de Patrick Assumpção, da Fazenda Coruputuba. Desde 2007 a propriedade investe em plantios biodiversos, sistemas agroflorestais e silvicultura de espécies nativas. O carro-chefe da propriedade é o plantio de árvores nativas para madeira, que pode ser usada na construção civil ou para a produção de barcos, entre outros usos.

Outro exemplo é a Futuro Florestal, que tem dado assessoria técnica para centenas de produtores do Vale no plantio de espécies nativas e exóticas de valor econômico para recuperação de áreas degradadas.

O WRI Brasil, por meio dos projetos Pró-Restaura e VERENA, atua no Vale do Paraíba para articular com produtores rurais e atores locais e estimular o uso de modelos econômicos com espécies nativas e sistemas agroflorestais para adequação ambiental e recuperação de áreas de uso alternativo. A ideia é entender as relações de governança e ajudar a criar mecanismos financeiros para replicar ações como as da Futuro Florestal e Fazenda Coruputuba, transformando a região num polo florestal e agroflorestal, atraindo novos investimentos e aumentando a escala da restauração na região.

ROAM em outras paisagens

Além do Vale do Paraíba, a ROAM já foi aplicada em outras paisagens. No Espírito Santo, por exemplo, a metodologia identificou que a principal motivação para restaurar áreas degradadas no Estado é o aumento da qualidade e da quantidade de água. A ROAM também já foi aplicada nos estados do Pará, Pernambuco, Santa Catarina e Distrito Federal. Em Minas Gerais, já está em andamento a aplicação para entender necessidades de restauração no Vale do Rio Doce. Entender as motivações e oportunidades para restaurar e incentivar os atores locais é crucial para que o Brasil consiga cumprir sua meta de restaurar 12 milhões de hectares de áreas e florestas degradadas até 2030.