A restauração de florestas e paisagens já acontece em todo Brasil, levada a cabo por governos estaduais, municipais, pequenos, médios e grandes produtores rurais, empresas, investidores e organizações da sociedade civil. Mas para atingir a meta nacional de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030, é preciso acelerar e dar escala a essas iniciativas. Políticas públicas precisam facilitar e incentivar financiamentos público e privado, pesquisa e desenvolvimento, capacitação e utilização de ferramentas que ajudem a planejar a restauração e aproveitar as oportunidades e benefícios por ela gerada.

Ferramentas não faltam para ajudar investidores, produtores rurais e pessoas interessadas em restauração a conseguir tornar o plantio de florestas um negócio lucrativo e benéfico ao meio ambiente e às pessoas. O WRI Brasil, junto com parceiros, desenvolveu uma série dessas ferramentas. Abaixo, listamos algumas delas que podem contribuir no ganho de escala da restauração e do reflorestamento no Brasil.

1. Ferramenta de investimento VERENA

Disseminar evidências de que a silvicultura de espécies nativas e sistemas agroflorestais são um bom negócio para o produtor rural e outros investidores é uma das formas mais efetivas de aumentar a escala da restauração e do reflorestamento. O problema é que o conhecimento sobre a taxa de crescimento, produtividade e mercado para a maioria das espécies nativas nobres, assim como modelos de negócios, é limitado. Isso dificulta a atração dos produtores e investidores para o negócio.

Para ajudar a preencher essas e outras lacunas, o WRI Brasil, em parceira com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), criou uma ferramenta que permite analisar o retorno financeiro de modelos de reflorestamento com espécies nativas e Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Essa ferramenta não só permite fazer análises financeiras considerando taxas de crescimento, produtividade e funções de afilamento, mas também estimar o valor econômico de várias espécies nativas.

2. ROAM

A restauração não pode ser uma decisão tomada de cima para baixo. É preciso escutar e conhecer as motivações e demandas das pessoas que serão incentivadas e irão investir na restauração. Além disso, também é necessário identificar as oportunidades e benefícios que a restauração pode gerar para elas.

Uma metodologia desenvolvida pelo WRI e pela UICN permite fazer justamente isso: reconhecer estímulos para a promoção da restauração na escala da paisagem, engajar e articular os agentes e entender suas necessidades, desafios e interesses, definir porquê, o quê, aonde, quem e como restaurar para ter o máximo de resultados, avaliar custo-benefício e assinalar fontes de recursos públicos e privados para financiar a restauração. A metodologia é conhecida como ROAM, sigla em inglês para Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração.

Ou seja, a ROAM permite indicar possibilidades, analisar dados e incentivar a promoção da restauração de paisagens e florestas de modo a aumentar a cobertura florestal considerando as características locais.

O WRI Brasil, em parceria com várias instituições, já apoiou a aplicação da metodologia no Distrito Federal e em outros seis estados brasileiros: Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo. Confira um resumo dos resultados da ferramenta em alguns estados.

3. Avaliação de Investimento em Infraestrutura Natural

A aplicação da ROAM em várias paisagens mostra que uma das principais motivações e oportunidades para a restauração da paisagem florestal é o benefício que ela pode trazer para a melhoria da qualidade da água. Uma das formas de fazer isso é recuperar e conservar nascentes, áreas de recarga e áreas suscetíveis à erosão.

A avaliação de Investimento em Infraestrutura Natural (Green-Gray Assessment) foi desenvolvida pelo WRI Brasil, World Resources Institute e diversos parceiros nacionais e internacionais, e combina ferramentas financeiras com o uso do Invest, software aberto desenvolvido pela Universidade de Stanford e parceiros nos Estados Unidos, aplicado para avaliar o desempenho da restauração e conservação de ecossistemas na provisão dos mais diversos serviços ecossistêmicos, incluindo fluxo hídrico, infiltração, recarga de aquíferos e produção de sedimentos.

A Avaliação de investimento em infraestrutura natural já foi aplicada em 3 grandes bacias hidrográficas brasileiras e está sendo replicada pela equipe do WRI Brasil e parceiros em outras 3 bacias, a fim de auxiliar tomadores de decisão, incluindo empresas de saneamento e produtores rurais, a encontrarem soluções baseadas na natureza que sejam economicamente viáveis e possam atender a diferentes interesses em ações convergentes.

A avaliação mostrou que a restauração florestal de áreas degradadas na bacia do sistema Cantareira em São Paulo, reduz a erosão do solo, consequentemente diminuindo a turbidez dos rios e reservatórios e portanto os custos de tratamento da água. Produtores rurais podem ser beneficiados com a adequação da propriedade ao Código Florestal e ainda receber pagamentos por serviços ambientais. O estudo foi replicado no Rio de Janeiro, concluindo em todos os casos serem investimentos economicamente viáveis tanto do ponto de vista do saneamento quanto para o proprietário rural.

Em São Paulo, por exemplo, a Sabesp poderia reduzir em até US$ 69 milhões os custos de tratamento em 30 anos. Já no Rio de Janeiro, a Cedae conseguiria uma redução de até R$ 156 milhões em 30 anos.

<p>Bacia do Guandu, Rio de Janeiro</p>

No Rio de Janeiro, a infraestrutura natural pode reduzir custos no tratamento de água (foto: Marizilda Cruppe/ WRI Brasil)

4. GFW Pro

O Global Forest Watch (GFW) é uma plataforma online que congrega várias ferramentas capazes de fornecer dados e auxiliar as pessoas e empresas no monitoramento e proteção das florestas no mundo. Muitos desses dados são provenientes dos satélites que orbitam o planeta, o que permite monitorar a perda da cobertura florestal semanalmente e anualmente.

Uma das ferramentas é o GFW Pro, desenvolvido para ajudar na gestão de risco de desmatamento nas cadeias produtivas. As empresas do agronegócio e setor financeiro são dois exemplos de públicos que podem se beneficiar dessa ferramenta. As empresas do agronegócio, por exemplo, precisam garantir que suas cadeias de fornecimento estejam livres de desmatamento para não ter restrições no mercado. Em 2019, o lançamento do GFW Pro permitiu que multinacionais pudessem garantir que a matéria-prima de seus produtos não estava provocando desmatamento e degradação.

No caso do setor financeiro, o GFW Pro ajuda na avaliação de risco do seu portfólio de investimento e financiamento. Os usuários do GFW Pro poderão adicionar, de forma segura, dados sobre seus fornecedores ou investimentos. Eles poderão ver os dados recentes e históricos de desmatamento na área de interesse, focos de incêndio ativos, mudanças no uso do solo e mais. Poderão inclusive analisar riscos em toda sua rede global de fornecedores ou portfólio de investimentos para determinar onde as operações da empresa correm mais risco de desmatamento, e monitorar se suas estratégias de sustentabilidade corporativa estão livres de risco.

5. MapBuilder

O monitoramento é um componente importante para garantir que a restauração florestal aconteça e persista na qualidade e quantidade desejada. Porém, dependendo da área e da escala que precisam ser monitoradas, precisamos contar com a ajuda das lentes de satélites. O GFW já conta com uma boa base de dados a partir de um conjunto de sensores e imagens de satélites. Com a ajuda da ferramenta MapBuilder, é possível fazer mapas personalizados com os dados específicos dos projetos, além de ter acesso às informações disponibilizadas pela plataforma GFW. Com isso os atores-chave podem monitorar os resultados e metas da restauração.

O MapBuilder , desenvolvido pelo GFW e parceiros, permite criar mapas personalizados através de aplicativos para os mais diversos interesses e objetivos, permitindo visualização espacial de conteúdos e geração de dados estatísticos sobre a paisagem de interesse. Ele já está sendo utilizado, por exemplo, pela Fundação Black Jaguar na região do rio Araguaia, onde a organização está promovendo a restauração de áreas degradadas e florestas para recuperar o habitat da onça pintada.

E também está sendo utilizado no Vale do Paraíba Paulista para ajudar os produtores rurais da região a entender com clareza onde estão as principais regiões e oportunidades para dar escala aos esforços da criação de um polo florestal com florestas multifuncionais na região. Outra experiência mais recente tem sido com o Fórum Florestal do Extremo Sul da Bahia para hospedar e permitir acesso aos dados e análises do monitoramento da perda de cobertura florestal feita anualmente.

<p>reprodução do software mapbuilder para projeto no rio Araguaia</p>

Uso customizado do Map Builder pela Fundação Black Jaguar para monitoramento de restauração nas margens do Rio Araguaia (foto: Divulgação)

6. Matriz de impactos e resiliência

O produtor rural depende do clima, da qualidade do solo e da água e de serviços ambientais para produzir e garantir retorno ao seu investimento. Não por acaso, ele é um dos mais expostos e vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas em seu negócio. Uma forte seca ou chuvas torrenciais, que ocorrem todos os anos no Brasil, podem levar à perda de todo o trabalho e investimento feito pelo produtor.

Um estudo lançado recentemente por WRI Brasil, GIZ e Coalizão Brasil Clima, Agricultura e Florestas , com a participação de vários cientistas renomados, mostra que os produtores devem planejar a adaptação da produção às novas tendências climáticas, a fim de tornarem sua produção menos vulnerável a perdas e mais resiliente às mudanças do clima, garantindo produtividade e renda. A matriz de impactos e resiliência mostra quais modelos de produção tornam a propriedade e o produtor menos susceptíveis aos prováveis sinistros decorrentes das alterações do clima e seu impacto na produção e produtividade, auxiliando, inclusive, agentes financeiros e de crédito na avaliação de riscos das atividades.

Por exemplo, sistemas integrados com a inclusão de árvores no pasto ou de florestas na lavoura permitem que os produtores mitiguem vários riscos, além de melhor a capacidade produtiva, proporcionada pelo aumento potencial de infiltração de água no solo e maior abrigo para polinizadores.

7. GHG Protocol Florestas e Sistemas Agroflorestais

  O Brasil tem uma grande oportunidade de reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE), fazendo uma transição para uma economia de baixo carbono. O setor de floresta e agrofloresta pode se beneficiar dessa transição. A Ferramenta de Cálculo para Balanço de Emissões de Gases de Efeito Estufa em Florestas e Sistemas Agroflorestais no Brasil (GHG Protocol Florestas e SAFs) auxilia produtores e empresas a estimarem as emissões e remoções de GEE de suas atividades produtivas e melhorar a gestão e eficiência de seus negócios, podendo inclusive aumentar sua produtividade e reduzir seus impactos ambientais.

A ferramenta faz parte do GHG Protocol, um pacote de padrões, orientações, ferramentas e treinamentos para que empresas e governos mensurem e gerenciem as emissões antropogênicas responsáveis pelo aquecimento global. Desenvolvido para a realidade do Brasil, o GHG Protocol Florestas e SAFs contém fatores de emissão adequados ao cenário do país e foi baseado em publicações e estudos brasileiros. A ferramenta é organizada por tipos florestais, incorporando plantações homogêneas de eucalipto, pinus e paricá, plantações heterogêneas (plantio multidiverso de espécies tropicais nativas e exóticas para uso madeireiro) e sistemas agroflorestais (SAFs), compostos de 307 espécies.

O setor agroflorestal brasileiro tem o desafio e o potencial de restaurar paisagens, gerar riquezas e produzir de forma sustentável, agregando redução de emissões como um de seus diferenciais. A ferramenta ajuda a compreender e corroborar que práticas de baixo carbono são aliadas do setor e podem colaborar para atingir investimentos e ampliar o mercado consumidor, validando práticas sustentáveis já aplicadas ou provocando a adoção de novas práticas de redução de emissões e aumento das remoções de GEE.

8. GHG Protocol Agropecuário

A ferramenta GHG Protocol Agropecuário permite aos produtores, assim como às outras empresas das cadeias de valor da agricultura, pecuária, silvicultura, entre outras, incluir o reporte e a mitigação de emissões de GEE em suas estratégias de produção e planejamento anual. Especificamente, permite que as empresas identifiquem oportunidades de redução de emissões de GEE, rastreiem progresso em direção de metas de redução, comuniquem os resultados aos investidores e aos consumidores finais, e respondam às demandas nacionais e internacionais por produtos menos intensivos em carbono.

Seu principal objetivo é apoiar o setor para aumentar a produtividade a partir de técnicas de baixo carbono, o que poderia reduzir as taxas de desmatamento — e, consequentemente, as emissões de gases do efeito estufa (GEE) — pela contabilização das emissões e implementação das políticas relacionadas ao Plano ABC. Mais especificamente, objetiva engajar e capacitar as empresas agroindustriais e sua cadeia de fornecimento no uso da contabilidade e redução de emissões de GEE e promover o debate sobre Mensuração, Relato e Verificação (MRV) no setor agrícola entre a sociedade civil, o governo e o setor privado.

9. Terra Match

  As árvores são ativos econômicos essenciais para as pessoas cujos meios de subsistência dependem da madeira, frutas e outros produtos fornecidos pelas árvores. É por isso que empresas, ONGs e órgãos governamentais, especialmente em economias emergentes, buscam fontes de financiamento para investir no cultivo de árvores. 

Embasado em anos de pesquisa do WRI, o TerraMatch é um aplicativo e plataforma online que conecta os desenvolvedores e implementadores de projetos com financiadores interessados em financiar ou investir em restauração de áreas e florestas degradadas. Pessoas de todas as partes do mundo podem colocar seus projetos de restauração na plataforma e aguardar potenciais financiadores interessados no projeto. A plataforma permite desenvolvedores e implementadores de projetos informar as espécies de árvores, o histórico da área, os método de restauração utilizado, os custos, os benefícios ambientais, sociais e econômicos, fotos, e muito mais.

Os financiadores, por sua vez, publicam suas ofertas, explicando os tipos de projeto que esperam apoiar e a quantia em dinheiro que podem oferecer. A partir daí, ambas as partes usam o algoritmo do TerraMatch para buscar parcerias até que uma combinação aconteça.