Um crescente conjunto de pesquisas, estudos, projetos e experiências no campo vem nos mostrando que não há melhor lugar para se restaurar, no Brasil e no mundo, do que na Mata Atlântica

A Mata Atlântica tem as condições ideais para que a restauração ganhe escala no Brasil. É um bioma bastante desmatado: estima-se que menos de um terço de sua área original permaneça com cobertura vegetal nativa. Ou seja, há uma grande quantidade de áreas degradadas que pode ser restaurada. 

Além disso, é na Mata Atlântica que se situam as maiores cidades do Brasil. Isso é importante do ponto de vista econômico, já que as áreas que podem ser restauradas estão próximas de centros consumidores, podendo assim estimular a economia da floresta, com comercialização de produtos como madeira de origem legal, frutas, castanhas, entre outros; e também do ponto de vista ambiental, já que grande parte da população poderá usufruir dos benefícios da restauração, como melhora da qualidade da água ou adaptação a eventos extremos. 

Abaixo, resumimos alguns dos principais pontos levantados por pesquisas e projetos que colocam o bioma Mata Atlântica como uma prioridade mundial na restauração de paisagens e florestas.  

Mata Atlântica é um hotspot de restauração 

Em um estudo publicado na revista científica Science Advances, uma equipe de pesquisadores buscou identificar quais são os locais que possuem grande potencial de benefício da restauração somado a boa viabilidade de que o plantio de árvores prospere. Os resultados mostram que a Mata Atlântica foi o ecossistema com maior quantidade e área de hotspots para a restauração em todo o mundo. 

O que são esses hotspots? São áreas dentro de um ecossistema com grande relevância de biodiversidade e serviços ecossistêmicos e que possuem maior oportunidade de restauração. O artigo identificou mais de 100 milhões de hectares de áreas degradadas em várias partes do mundo – como América do Sul e Central, África e sudeste da Ásia – que apresentam bons resultados em relação a oportunidades de restauração. Cinco países têm a maior área acumulada de hotspots de restauração: Brasil, Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia. No Brasil, a Mata Atlântica tem o maior destaque. 

Mata Atlântica tem ótimo custo-benefício para restauração 

É possível estimar o custo-benefício da restauração na Mata Atlântica? Um estudo do IIS, que contou com apoio do WRI Brasil, buscou fazer isso. O estudo fez uma priorização de áreas em que a restauração pode gerar os maiores benefícios a um menor custo.   

Na Mata Atlântica, essas áreas prioritárias somam aproximadamente 5 milhões de hectares. A restauração dessas áreas possibilitaria: reduzir o risco de extinção de até 647 espécies; sequestrar até 5,6 milhões de toneladas de carbono da atmosfera; aumentar em até 2,3 vezes o potencial de melhoria da qualidade da água. 

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Os resultados do estudo mostram que o planejamento espacial da restauração florestal tem o potencial de reduzir drasticamente os custos e ajudar a dar escala a esta agenda ambiental. 

Mata Atlântica gera emprego, renda e oportunidade para empreendedores 

Além dos benefícios ambientais, a restauração na Mata Atlântica tem um grande potencial econômico.  

A restauração pode mover a economia de uma região - e até de um país - ao gerar empregos no meio rural com a prestação de serviços como plantio, manejo, produção de mudas e coleta de sementes, e com a comercialização de produtos florestais madeireiros ou não madeireiros, entre outros.  

Quanto empregos? Um estudo avaliou a quantidade de postos de trabalho existentes na cadeia da restauração e estimou o quanto se criaria de novos empregos para cumprir a meta brasileira de restauração. Os autores identificaram que a restauração no Brasil gera 0,42 emprego por hectare restaurado. Isso equivale a um emprego criado a cada dois campos de futebol restaurados ou 42 empregos a cada 100 hectares restaurados. Destes, 44% se concentram em organizações atuando exclusivamente na Mata Atlântica, mostrando a relevância do bioma no cenário nacional. 

Para mover essa economia, é importante incentivar pequenas e médias empresas que atuam na cadeia da restauração e de agroflorestas na Mata Atlântica.  

Mata Atlântica melhora a qualidade da água dos grandes centros 

A restauração de paisagens e florestas pode melhorar a qualidade da água nas nascentes, rios e reservatórios de água, resultando em benefícios ambientais e econômicos para as empresas de saneamento e abastecimento e, consequentemente, para a sociedade. 

No bioma Mata Atlântica, onde estão localizadas as maiores cidades do país, investir em florestas pode ser crucial para garantir uma água de qualidade para as populações.  

O WRI Brasil conduziu estudos sobre o impacto da infraestrutura natural para a água - a conservação e restauração de florestas nos entornos de rios e reservatórios - nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Campinas. Os resultados mostraram não só uma redução significativa da poluição por sedimentos como também retorno econômico para as empresas de abastecimento de água.  

A restauração na Mata Atlântica já está a todo vapor 

Essa restauração já está acontecendo. Há experiências interessantes sendo promovidas por produtoras e produtores rurais, empresas, ONGs e governos em todo o território da Mata Atlântica. Abaixo, listamos algumas dessas iniciativas: 

  • Pacto pela Restauração da Mata Atlântica: O Pacto é um movimento nacional que reúne organizações, empresas e governos em prol da restauração da Mata Atlântica. O movimento tem a ambiciosa meta de restaurar 15 milhões de hectares até 2050. Um estudo recente mostrou que os membros do Pacto já são responsáveis pela restauração de mais de 700 mil hectares até o momento.  
  • Conservador da Mantiqueira: O Plano Conservador da Mantiqueira é outro exemplo de sucesso na restauração da Mata Atlântica. Ele começou no município de Extrema, sul de Minas Gerais, a partir do programa Conservador das Águas. Esse programa criou um mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) para produtores que conservam e restauram áreas de importância hídrica em suas propriedades. Com o sucesso da iniciativa, o programa se expandiu para os municípios da região, e há expectativa de ampliá-lo para outras áreas da Mata Atlântica. 
  • Reflorestar: No Espírito Santo, o programa Reflorestar tem uma meta de restaurar 80 mil hectares no estado até 2030, com possibilidades de ampliá-la para até 200 mil hectares. O programa, promovido pelo governo do estado, funciona como um sistema de Pagamento por Serviços Ambientais que fornece um recurso adicional para o produtor rural complementar sua renda, ajudando a proteger na propriedade as áreas sensíveis ecologicamente, como margens de rios e topo de morros. Saiba mais sobre ações de restauração no Espírito Santo.
  • Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba: No Vale do Paraíba Paulista, agricultores e agricultoras se organizaram por meio de uma rede para promover uma agricultura regenerativa e agroecológica. A Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba tem como objetivo expandir a restauração por meio dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) na região, com a ambição de recuperar até 80 mil hectares de áreas hoje degradadas. 

Além de redes e coletivos, a restauração tem sido liderada por produtores e produtoras rurais em toda a Mata Atlântica. A websérie As Caras da Restauração, do WRI Brasil, mostrou algumas dessas pessoas que estão trazendo formas inovadoras de recuperar florestas no Brasil. Três dessas histórias se passam na Mata Atlântica. Confira essas histórias no Youtube do WRI Brasil. 

 

A Mata Atlântica é referência da ONU para a restauração 

As características e benefícios da Mata Atlântica estão fazendo com que ela seja reconhecida internacionalmente como um ecossistema importante para a restauração. 

No final de 2022, a Organização das Nações Unidas, dentro da campanha da Década da Restauração de Ecossistemas, reconheceu dez iniciativas de referência para a restauração - sendo a Mata Atlântica uma delas.  

A ONU premiou o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e pela Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, que conta com organizações da Argentina, Brasil e Paraguai, pelos esforços de restauração no bioma nos três países.  

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Este texto foi originalmente publicado em julho de 2019, passou por revisão e atualização para incluir novos dados e resultados de pesquisa e foi republicado em março de 2023.