Sharm El Sheik, 16 de novembro de 2022 – As negociações da 27ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP27), realizada em Sharm El-Sheikh, no Egito, terminaram com um acordo para a criação de um fundo para países vulneráveis lidarem com perdas e danos causadas pelos impactos climáticos. Os negociadores também pediram aos países que acelerassem a adoção de energias renováveis, mas o texto foi concluído sem uma linguagem nova e forte sobre a redução das emissões de gases do efeito estufa nem garantias de que o financiamento para adaptação em países em desenvolvimento aumentará no ritmo necessário para dobrar até 2025.

Leia o posicionamento de Ani Dasgupta, Presidente e CEO do World Resources Institute (WRI):

“Em um avanço histórico, as nações ricas finalmente concordaram em criar um fundo para ajudar os países vulneráveis que estão sofrendo danos climáticos devastadores. Este fundo de perdas e danos significa uma salvação para famílias pobres cujas casas foram destruídas, agricultores cujos campos foram arruinados e ilhéus forçados a deixar suas moradias ancestrais. Este resultado positivo da COP27 é importante para reconstruir a confiança com os países vulneráveis.

“Também é animador que os países tenham concordado em operacionalizar a Rede Santiago sobre Perdas e Danos, que dará a tão necessária assistência técnica aos países em desenvolvimento. Por outro lado, esses países estão deixando o Egito sem garantias claras sobre como este novo fundo de perdas e danos será gerido. No próximo ano, o Comitê de Transição deve estabelecer diretrizes sólidas para o fundo e trabalhar rapidamente para atender às necessidades e urgências dos países vulneráveis.

"Embora o avanço em perdas e danos seja positivo, é decepcionante que a decisão tenha copiado e colado a linguagem de Glasgow sobre redução de emissões, em vez de incluir novas medidas significativas. Pesquisas do WRI mostram que o mundo está coletivamente atrasado na ação climática em todos os setores. A única maneira de evitar impactos climáticos ainda mais severos e manter vivo o cenário de 1,5°C é reduzir rapidamente as emissões nesta década.

“Novos apelos para acelerar a implementação de energia renovável são muito bem-vindos. Mas é impressionante que os países não tenham reunido coragem para incluir a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, a principal causa das mudanças climáticas.

“O progresso em outros tópicos das negociações climáticas da ONU foi variado. Os negociadores concordaram em produzir um relatório para avaliar como a meta de dobrar o financiamento para adaptação até 2025 está avançando, mas os compromissos de financiamento assumidos em Sharm El-Sheikh não aumentaram a confiança de que ela será alcançada. Decisões importantes sobre a criação de uma meta global de adaptação foram adiadas.

“Momentos importantes ocorreram fora das salas de negociação no Egito. Um exemplo foi a mobilização de US$ 2 bilhões para comunidades locais e empreendedores restaurarem terras degradadas na África. Outro fundo criado na COP 27, o African Cities Water Adaptation ajudará centenas de cidades africanas a obter recursos para fornecer água segura, acessível e confiável às pessoas. Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia renovaram compromissos de preservação de suas florestas tropicais. E o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez um discurso emocionante garantindo ao mundo que proteger a floresta amazônica e respeitar os direitos dos povos indígenas estarão entre suas prioridades.

“Há motivos para esperança após os governos terem se unido para proteger mais de 3,3 bilhões de pessoas que vivem em áreas altamente vulneráveis às mudanças climáticas. O tempo está se esgotando, mas um planeta saudável para as pessoas e a natureza ainda está ao nosso alcance se os líderes tomarem medidas ambiciosas nesta década decisiva”.