Nova meta climática do Brasil vai de razoável a insuficiente
Baku, Azerbaijão (13 de novembro de 2024): Hoje, o Brasil anunciou oficialmente seu novo compromisso climático de reduzir as emissões em 59% a 67% até 2035, em comparação a 2005. Em termos absolutos, essa meta se traduz em volumes totais de emissões de 1,05 bilhão a 850 milhões, respectivamente, de toneladas de CO2 equivalente até 2035. Esses números representam um aumento de ambição de 13% a 29% com relação a meta de redução para 2030, de 53% comparado à níveis de 2005, que se manteve igual à NDC apresentada pelo governo em 2023.
A seguir, o posicionamento de Karen Silverwood-Cope, diretora de Clima do WRI Brasil:
"O Brasil anunciou um intervalo de meta climática que vai de razoável a insuficiente. Por um lado, reduzir as emissões em 67% até 2035 (em comparação a 2005) pode colocar o Brasil no caminho para a neutralidade climática até 2050. Por outro, reduzir apenas 59% até 2035 é uma contribuição aquém do necessário para o mesmo objetivo. O anúncio do intervalo com tanta margem de impacto sobre a contribuição do País lança incertezas sobre a real trajetória a ser buscada pelo governo.
"O sucesso do novo compromisso brasileiro no Acordo de Paris dependerá das florestas – será preciso tanto resolver o desmatamento quanto restaurar em larga escala. A queda do desmatamento acumulada em 2023 e 2024 de 45% é um indicativo da capacidade de acabar com o desmatamento até o final desta década. Segundo o governo, foram 400 milhões de toneladas de carbono que deixaram de ser emitidas apenas com esse resultado.
"A captura de carbono pela preservação e restauração das florestas será essencial no balanço líquido para meta de 2035 e para a neutralidade em 2050. Porém, o país também precisa avançar em outros setores, como energia e agricultura, que devem crescer significativamente nos próximos anos e se tornarem as maiores fontes de emissões do país, caso o desmatamento seja resolvido. A longo prazo, projeta-se que as emissões do setor de energia aumentem de 458 MtCO2eq, ou 24% das emissões totais em 2024, para 543 MtCO2eq, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2034. Os setores de transporte e industrial devem representar 67% das emissões do setor energia até 2034.
"A estratégia climática do Brasil permanece desconhecida. Resta agora garantir que o Plano Clima impulsione todos os setores rumo ao percentual mais ambicioso da meta para 2035. O desafio é fazer a economia crescer e ao mesmo tempo reduzir a intensidade de carbono. Além disso, a estratégia de Longo Prazo do Brasil para a neutralidade líquida de carbono será em breve submetida à UNFCCC. Algumas questões cruciais permanecem em aberto, como quando será o pico das emissões do país e quais são os orçamentos de carbono setoriais. Alcançar esses objetivos exigirá um planejamento profundo e estrutural rumo à neutralidade de carbono até a metade do século.
“Os impactos econômicos e sociais da NDC e dos planos climáticos setoriais serão avaliados em 2025. Ao unir o progresso econômico com responsabilidade ambiental, o Brasil pode demonstrar que um desenvolvimento que beneficie as pessoas, a natureza e o clima é o caminho certo a trilhar."