O Brasil é reconhecido por sua biodiversidade abundante e por suas extensas áreas florestais, além de ser um grande produtor de alimentos. No entanto, mesmo com esses recursos, cerca de 20 milhões de brasileiros ainda enfrentam insegurança alimentar, e o setor de uso da terra do país responde por cerca de 70% das emissões anuais de carbono no país, impulsionadas em grande parte pelo desmatamento para expansão agrícola.

As florestas produtivas podem ser uma tecnologia social fundamental para produzir alimentos e proteger a biodiversidade com foco na agricultura familiar.  

As florestas produtivas são agroecossistemas que aliam conservação ambiental e produção agrícola e florestal, permitindo a coexistência sustentável entre a natureza e a atividade econômica, com benefícios como restauração de áreas degradadas, promoção da biodiversidade, segurança alimentar e geração de renda para comunidades locais. Em 2024, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) lançou o Programa Nacional de Florestas Produtivas, que visa promover essa abordagem para recuperação de áreas degradadas, além da segurança alimentar e regularização ambiental, integrando práticas agrícolas e florestais sustentáveis para agricultores familiares, comunidades tradicionais e assentados da reforma agrária.

Durante a 16a Conferência das Partes da Convenção de Biodiversidade (COP 16), o WRI Brasil esteve junto com a FOLU Brasil e a FOLU Colômbia em Cali, Colômbia, promovendo a agenda dos Sistemas Alimentares Sustentáveis e apresentado alguns exemplos bem-sucedidos de florestas produtivas no Brasil.  

Fortalecimento de agricultura familiar e comunidades tradicionais

A agricultura familiar é essencial na promoção da segurança alimentar local e nacional, mas os pequenos agricultores estão entre os mais afetados pelas mudanças climáticas e pela perda de biodiversidade, o que coloca em risco seus meios de subsistência.  

Práticas como a agricultura regenerativa e sistemas agroflorestais já estão sendo adotadas em várias regiões do Brasil por agricultores familiares. Para dar luz a essas ações e mostrar como que as Florestas Produtivas podem funcionar na prática, a Coalizão FOLU Brasil, com apoio do WRI Brasil e Systemiq Brasil, produziu em levantamento de quatro casos exemplares de florestas produtivas no país, em quatro biomas diferentes. 

Confira a seguir quais são esses casos, e como eles pode ser fundamentais para o desenvolvimento sustentável, o combate às mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade.  

1. Regeneração natural e produção sustentável na Amazônia

No Pará, os assentamentos de reforma agrária Abril Vermelho e João Batista estão restaurando áreas degradadas por meio da Regeneração Natural Assistida (RNA) e Sistemas Agroflorestais (SAFs). Além de melhorar a biodiversidade local, essas práticas estão garantindo segurança alimentar e renda para famílias assentadas. O projeto, que faz parte do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), beneficia 725 famílias e é um exemplo claro de como é possível integrar preservação ambiental com produção agrícola.  

O WRI Brasil e o Imazon apoiaram esses assentamentos com implementação, construção de capacidade local e assistência técnica por meio do projeto “Regeneração Natural Assistida em Larga Escala na Amazônia”, exemplificando como práticas similares podem ser replicadas na Amazônia.  

2. Conectando agricultura familiar e políticas públicas na Mata Atlântica  

No Espírito Santo, a MV Gestão Integrada está auxiliando agricultores familiares a acessarem o Programa Reflorestar, que promove a restauração de áreas através de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Com suporte técnico, os agricultores estão preservando a Mata Atlântica, implementando práticas agroflorestais e aumentando sua resiliência. O projeto já beneficia 977 famílias, que têm visto suas rendas aumentar com a venda de produtos como o café agroflorestal.

A MV também participou da Aceleradora de Negócios Florestais promovida pelo WRI Brasil e parceiros. Durante a aceleração, a empresa recebeu mentorias e suporte técnico, o que fortaleceu suas operações para apoiar pequenos agricultores no acesso ao Programa Reflorestar. Com o conhecimento adquirido na Aceleradora, ampliou sua capacidade de orientar agricultores na implementação de práticas de restauração e sustentabilidade.

3. Sementes crioulas para uma agricultura resiliente na Caatinga  

Na Caatinga, a iniciativa "Sementes da Paixão" promove a conservação de sementes crioulas, adaptadas às condições climáticas da região. Gerido por comissões locais e envolvendo mais de 8 mil famílias, o projeto garante a segurança alimentar dos agricultores, ao mesmo tempo em que conserva a biodiversidade genética e promove a agroecologia.

4. Sistemas Agroflorestais no Cerrado para segurança alimentar  

No Distrito Federal, os Sistemas Agrocerratenses Inclusivos (SACIs) estão regenerando áreas degradadas e promovendo a segurança alimentar. Inspirados nas características únicas do Cerrado, esses sistemas combinam práticas agroecológicas com a produção de alimentos, beneficiando diretamente as famílias locais e restaurando a biodiversidade do bioma.

Protagonismo para a agricultura familiar

Esses exemplos de Florestas Produtivas mostram como os agricultores familiares podem ser protagonistas na construção de um futuro mais sustentável, considerando que há hoje no Brasil cerca de 88 milhões de hectares de terra e 1 milhão de famílias envolvidas na produção de alimentos, seja para fins comerciais ou subsistência.

O Programa Nacional de Florestas Produtivas, lançado em 2024, tem como meta apoiar 100 mil famílias até 2030, com o objetivo de restaurar mais de 1 milhão de hectares de áreas degradadas.  

Ao fortalecer políticas públicas e expandir iniciativas como essas, o Brasil pode avançar em suas metas de desenvolvimento sustentável e combater a crise climática, a insegurança alimentar e a perda de biodiversidade.