Na transição energética do Brasil, o transporte é um setor estratégico. Descarbonizá-lo permitirá ao país conciliar mitigação climática e promoção da qualidade de vida nas cidades, onde a poluição do ar contribui para milhares de mortes prematuras todos os anos. No entanto, enquanto há políticas públicas que promovem a venda de carros elétricos e a eletrificação dos ônibus urbanos, o mesmo não ocorre com o setor de logística.

O assunto foi debatido no Urban20 (U20), grupo de engajamento do G20 que, na última semana, reuniu no Rio de Janeiro representantes do setor privado, da sociedade civil e dezenas de prefeitos de cidades do G20. Um painel do WRI Brasil discutiu com Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Banco Mundial e WRI India a criação de uma plataforma nacional para descarbonização do transporte de carga, unindo governo, setor privado e sociedade civil. O objetivo da proposta do WRI Brasil seria promover a construção conjunta de soluções para alavancar a descarbonização, incluindo políticas públicas, soluções de financiamento e pilotos.

“Não é trivial planejar e efetivar a descarbonização de um setor complexo e pulverizado como o transporte de carga. A criação de uma plataforma permitiria aos diversos atores do ecossistema do transporte de carga avançar juntos e mais rápido”, afirma Virginia Tavares, coordenadora de Eletromobilidade do WRI Brasil. “Parcerias multissetoriais como essa que propomos são vitais para acelerar soluções para o clima e o desenvolvimento sustentável, como é o caso da descarbonização do transporte de carga”, acrescenta a coordenadora.

pessoas em palco olham para mulher que fala ao microfone
Cristina Albuquerque, Sharvari Patki, Mariana Barcelos e Adalberto Maluf (foto: Lilo Oliveira/SRCOM)

No painel estiveram presentes Adalberto Maluf, secretário nacional de Ambiente Urbano e Qualidade do Ambiente do MMA, Bernardo Serra, consultor em Transportes do Banco Mundial, Sharvari Patki, diretora associada de Mobilidade Elétrica do WRI India, Cristina Albuquerque, diretora de Eletromobilidade Global do WRI, e Mariana Barcelos, analista sênior de Eletromobilidade do WRI Brasil.

Mariana apresentou um mapeamento de políticas que o WRI Brasil já vem realizando, em cooperação com o MMA, para construção de diretrizes nacionais para a descarbonização do transporte urbano de carga, que tem envolvido a indústria e os transportadores. A pesquisadora mostrou que ainda não há políticas específicas que favoreçam a descarbonização do transporte de carga. A formação de uma plataforma multissetorial em 2025 garantiria a continuidade e ampliação do trabalho de apoio ao Governo Federal.

Proposta foi bem recebida

Segundo Adalberto Maluf, o governo federal tem priorizado a eletrificação do transporte público, pela menor pulverização do setor em relação ao setor de logística. Mas Maluf destacou avanços significativos para impulsionar a descarbonização do transporte como um todo, como a renovação do parque industrial, o financiamento e a legislação ambiental. “A plataforma, ao trazer ferramenta de modelagem, apoio, capacitação e aproximar o [financiamento] da operação, pode ser um grande alavancador, e nós como governo federal vamos continuar tentando avançar as políticas que precisam ser feitas”, afirmou o secretário.

Para Bernardo Serra, o governo federal pode ampliar sua atuação, considerando que investir no transporte de carga é política de desenvolvimento social. “[O setor de transporte de carga] tem muitos operadores pequenos, então é uma política que se acopla à geração de renda”, disse. Para Serra, a plataforma poderia funcionar como “pano de fundo” para os esforços de descarbonização, articulando a resolução de gargalos como a informação aos operadores sobre o custo total de propriedade e a proposição de modelos de negócios claros e que consigam captar financiamento.

Sharvari Patki, diretora associada de Mobilidade Elétrica do WRI India, disse que é importante ter em mente que a descarbonização “é uma maratona, não um sprint”. “Se conseguimos criar uma ponte de confiança e uma visão de futuro, [a plataforma] nos coloca em um caminho positivo”, avalia. O WRI India participa da implementação de uma plataforma similar que tem tido bons resultados. O programa e-FAST promove a colaboração entre o governo indiano e o setor privado para implantar 15 mil caminhões elétricos em cinco anos e desenvolver uma abordagem financeira autossustentável.

O WRI Brasil seguirá trabalhando com atores do setor de logística, do Governo Federal, de instituições financeiras e da indústria para mapear oportunidades e desenhar a plataforma. A intenção é consolidar a proposta para lançamento em 2025.