Este artigo foi publicado originalmente no jornal Correio, da Bahia.


Salvador hospeda a partir desta segunda-feira (19) a Semana do Clima da América Latina e Caribe – um evento de impacto global, mas cuja relevância não é óbvia. Isso me lembra quando conheci um agente do FBI que trabalhava na unidade de prevenção a ataques terroristas aos Estados Unidos. Ele descreveu como não era fácil a natureza do seu trabalho, pois não importava quantos ataques ele e seus colegas evitassem, o que entrava para a história era o resultado de alguma falha que burlou todo esforço e inteligência coletiva e as vítimas dos atentados. Porém, a quantidade de vidas salvas no silêncio da profissão era incalculável.

Assim é a vida dos que trabalham com mitigação e adaptação climática e que estão reunidos na Bahia. Desde a Rio 92, quando foram criadas as convenções para discutir soluções para os desafios gerados pelas mudanças climáticas, desertificação e perda de biodiversidade, muitos diplomatas, empresários, cientistas e organizações passaram a se reunir e trabalhar para prevenir desastres humanitários e ambientais, salvar vidas em seus países e além de suas fronteiras.

Com a ajuda da tecnologia conseguiremos salvar potencialmente milhões, mas outros tantos sofrerão por falta de saneamento, de alimentos, de infraestrutura adequada, de calor ou de frio se não nos esforçarmos para desacelerar as mudanças climáticas já. Segundo estudo publicado em 2018 pelo painel da ONU sobre mudanças climáticas, se nada for feito corremos o risco de perder de 70% a 90% dos recifes tropicais da Terra se a temperatura global aumentar em 1.5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.

Pela natureza do trabalho, às vezes os esforços de combate às mudanças climáticas podem parecer um obstáculo para o crescimento econômico, mas não são. Quem trabalha com a questão quer garantir que a festa da vida e o desenvolvimento previsto para os próximos 100 anos sigam sem hora para acabar, e em paz!

A ideia por trás de tanto esforço e inteligência coletiva, desta vez reunidos em Salvador, é mobilizar vontade política e financiamento para os países poderem fazer a transição para um modelo econômico menos dependente de tecnologias poluentes para a atmosfera e para os ecossistemas do planeta – a OMS estimou que 51.821 brasileiros morreram em 2016 de doenças relacionadas à poluição do ar.

Segundo o relatório de 2018 da New Climate Economy, ações de mitigação climática podem gerar US$ 26 trilhões a mais em benefícios econômicos até 2030 no mundo em comparação ao modelo vigente. Seriam 65 milhões de novos empregos ligados a essa economia de baixo carbono que pode ajudar a tirar milhares da pobreza, permitir crescimento econômico em países em desenvolvimento e salvaguardar recursos como florestas, água e biodiversidade.