Nas últimas semanas o Brasil esteve sob os holofotes do mundo. Há muito tempo a agenda climática não ganhava tanta repercussão no país, mas não foi apenas por causa dos incêndios na Amazônia. Salvador também fez parte desse movimento, pois reuniu líderes de governo do Brasil e da América Latina e uma grande inteligência coletiva entre membros do setor privado, academia e da sociedade civil ao organizar a Semana do Clima junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Enquanto os incêndios florestais recebiam a atenção da imprensa, na capital da Bahia as soluções para combater as mudanças climáticas – entre elas a conservação da Amazônia – ganharam força e maior ambição.

O momento para o tema receber notoriedade é oportuno. Em 23 de setembro, líderes mundiais estarão reunidos em Nova York para a Cúpula do Clima e, em dezembro, o país estará novamente em evidência durante a Conferência do Clima (COP 25), no Chile. Essa é uma oportunidade que se abre para uma nova economia na qual o Brasil pode ser um dos protagonistas.

Em um debate sobre soluções baseadas na natureza promovido pelo WRI Brasil em Salvador, o plantio de florestas ganhou uma perspectiva financeira e econômica. Zerar o desmatamento ilegal e expandir as florestas plantadas são algumas das melhores medidas para combater as mudanças climáticas. A restauração oferece uma chance para dar uso a milhares de hectares de terras degradadas, abandonadas após poucos anos de uso como pasto e sem potencial para a produção agrícola.

O mercado florestal gera emprego, renda e o Brasil pode ser um grande líder de produção de madeira a partir de espécies arbóreas tropicais. Para alcançar esse posto, será preciso enfrentar agora alguns desafios, como diminuir a percepção de risco para os investidores, oferecer um bom portfólio de projetos capazes de ganhar escala, avançar na pesquisa e desenvolvimento de espécies nativas e desenvolver modelos de financiamento robustos. Essa visão foi corroborada por especialistas que participaram da mesa e contribuíram com visões para tornar isso uma realidade, como o economista Joaquim Levy, Miguel Calmon e Rachel Biderman, do WRI Brasil, Ana Yang, da Chatham House, Andre Guimaraes, do IPAM, Johannes Van de Ven, da fundação Good Energies, Leonardo Fleck, da fundação Gordon and Betty Moore, Alexandro Prado, do WWF, Manoel Serrão, do Funbio e Marcelo Furtado, da fundação Alana.

Quando olhamos para as cidades, onde vivem 85% dos brasileiros, a Semana do Clima também permitiu que prefeitos de capitais relevantes reforçassem seu compromisso com a pauta climática. Esse foi o tom do painel de fechamento do evento, apresentado pelo anfitrião ACM Neto e com a participação dos prefeitos de Campinas, Jonas Donizette, que também é presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP); São Paulo, Bruno Covas; Curitiba, Rafael Greca; Manaus, Arthur Virgílio; Recife, Geraldo Júlio e a prefeita da cidade de Arima, Lisa Morris-Julian.

“O aquecimento global não é um tema de esquerda nem de direita, é um tema ético, de compromisso nosso com as futuras gerações”, pontuou Covas, que também é vice-presidente da FNP para mudanças climáticas. Donizette, que reforçou a parceria com o WRI Brasil em projetos como Ruas Completas e Cities4Forests, anunciou um posicionamento da FNP no qual prefeitas e prefeitos, que governam 400 cidades brasileiras que representam 60% da população e 75% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, reafirmam o compromisso com a agenda do clima e se colocam à disposição para trabalhar em conjunto com o governo federal e os governos estaduais na mitigação do aquecimento global.

Ao mesmo tempo, importantes lideranças do setor empresarial brasileiro apresentaram ao governo federal um posicionamento formal de apoio à precificação de carbono como uma ferramenta necessária para avanços econômicos, tanto para um mercado de carbono nacional quanto para um de âmbito global. Um mercado de carbono bem estruturado, que garanta tanto a integridade ambiental quanto estimule a participação do setor privado com a agilidade necessária para atender a urgência climática, é parte importante para o sucesso do Acordo de Paris. No Brasil, instrumentos econômicos, incluindo mercado de carbono, podem gerar diversas oportunidades econômicas, visto que o país conta com um vasto portfólio de ativos nesse setor.

Todos esses fatos mostram que o Brasil também pode ganhar holofotes pelo que está fazendo de bom na pauta ambiental – mas para isso precisa dar escala a essas ações. O mundo caminha para uma nova economia, na qual a neutralidade de carbono é um dos pilares. O país pode ser ambicioso nesse cenário, pois contamos com os elementos necessários para isso.