A Mata Atlântica já sofreu, no passado, com séculos de degradação e desmatamento. Hoje, apenas 26% de sua área original é coberta por florestas originais, restando poucas regiões com grande extensão de contínuo florestal. Felizmente, esforços pela defesa da Mata Atlântica conseguiram reduzir drasticamente o desmatamento na região. Agora, o grande desafio é restaurar a floresta.

Essa restauração já está acontecendo – segundo o Pacto para a Restauração da Mata Atlântica, mais de 700 mil hectares de florestas já foram restaurados no bioma. Porém, os números ainda são baixos perto do desafio enorme que o país tem pela frente. A meta de restauração do Brasil, por exemplo, é de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.

Um novo estudo publicado neste mês na revista científica Conservation Letters sugere um método para tornar a restauração nesta escala possível: a regeneração natural assistida. Segundo os pesquisadores, a Mata Atlântica tem todas as condições necessárias para permitir a regeneração de milhões de hectares de florestas.

O estudo, cujo título é “Achieving cost-effective landscape-scale forest restoration through targeted natural regeneration”, é assinado por pesquisadores de diversos institutos, incluindo o IIS, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadores de universidades da Austrália, Estados Unidos e Reino Unido. Dois co-autores do WRI Brasil, os especialistas Rafael Feltran-Barbieri e Marcelo Matsumoto, também assinam.

Uma mãozinha para a natureza

A regeneração natural é a recuperação espontânea ou assistida de espécies de árvores nativas que colonizam e se estabelecem em uma área abandonada.

Para entender o papel que a regeneração natural pode ter na restauração, os autores mapearam uma área de 70 milhões de hectares de áreas previamente desmatadas no bioma Mata Atlântica. Foram identificadas, no período de 1995 a 2015, 2,8 milhões de hectares que se regeneraram. Usando um modelo matemático, o estudo estima que, se nada mudar e as tendências atuais forem mantidas, outros 2,7 milhões de hectares podem se regenerar no bioma até 2030.

Esse número, apesar de impressionante, ainda é insuficiente, já que as metas brasileiras de restauração florestal somam 12 milhões de hectares. Além disso, o risco de áreas abandonadas que tiveram floresta regenerada serem desmatadas novamente pode comprometer as metas. Os autores, entretanto, mostram que há uma opção ainda mais efetiva: a chamada regeneração natural assistida.

Nesse método, o ser humano “auxilia” a regeneração que aconteceria naturalmente, com ações simples como cercar a área que está sendo regenerada ou mesmo com algumas intervenções pontuais, como plantios de espécies específicas para auxiliar a natureza no processo de ressurgimento da floresta. O estudo estima que há um potencial de restauração de 18,8 milhões de hectares na Mata Atlântica usando a técnica da regeneração natural assistida. Como esse método tem menos custos que a restauração ativa, ele pode ser um dos que tem melhor custo-benefício para a restauração.

Os benefícios de regenerar a Mata Atlântica

O trabalho também estimou quais os possíveis benefícios que a regeneração desses 18,8 milhões de hectares pode proporcionar. Os benefícios das florestas são bem conhecidos, e vão desde a proteção da biodiversidade e geração de serviços ambientais, até a geração de renda para produtores rurais por meio da comercialização de produtos florestais não madeireiros. No caso específico do estudo, olhou-se com mais atenção para três benefícios. Os resultados foram o seguinte:

  • O sequestro de carbono de 2,3 GtCO2eq – o equivalente a tudo o que o Brasil emite em um ano;
  • A diminuição de espécies ameaçadas de extinção – até 63 espécies hoje ameaçadas estariam mais protegidas;
  • A redução da fragmentação da Mata Atlântica, permitindo uma floresta mais conectada e saudável.

Mata Atlântica, o lugar ideal da restauração

Este não é o primeiro estudo que mostra que a Mata Atlântica é o lugar ideal para a restauração florestal acontecer em grande escala no Brasil. Uma pesquisa do ano passado identificou que, no Brasil, nenhum lugar supera a Mata Atlântica em oportunidade de restauração. Há bons motivos para isso: o bioma tem grandes áreas já degradadas, ele está próximo dos centros consumidores, o que ajuda na restauração para fins produtivos, e há leis que protegem e viabilizam a restauração, como a Lei da Mata Atlântica e o Planaveg. Essas leis criam segurança jurídica para o produtor rural, que já está plantando florestas: o Pacto para a Restauração da Mata Atlântica prevê que 2 milhões de hectares serão restaurados por seus membros até 2025.