A Mata Atlântica é um bioma extremamente importante para o Brasil. São suas florestas que abastecem de água, fornecem alimentos e filtram o ar das regiões mais populosas do país – inclusive das megalópoles Rio de Janeiro e São Paulo. Também é um dos biomas mais degradados. Estima-se que menos de um terço da área original da Mata Atlântica permaneçam com cobertura vegetal nativa.

Apesar disso, dois estudos publicados nas últimas semanas trazem sinais de otimismo para o bioma. Os trabalhos mostram que, aos poucos, começam a surgir as condições ideias para conservar e recuperar a Mata Atlântica: vários estados já registram desmatamento zero no último levantamento e áreas importantes em regeneração foram mapeadas.

Um dos estudos foi publicado no começo de junho na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, com o título “There is hope for achieving ambitious Atlantic Forest restoration commitments” (Há esperança para alcançar compromissos ambiciosos de restauração da Mata Atlântica, em tradução livre). O estudo usou dados de mapeamento do uso do solo fornecidos pelo projeto MapBiomas para estimar a restauração no bioma. O trabalho estima que entre 673 mil e 740 mil hectares de áreas degradadas e florestas entre os anos de 2011 e 2015 estão em processo de regeneração natural ou restauração na Mata Atlântica.

O estudo foi produzido pelo Pacto para a Restauração da Mata Atlântica, um movimento de empresas, órgãos do governo, sociedade civil e academia para promover a restauração de 15 milhões de hectares na Mata Atlântica até 2050, e contou com mais de vinte autores, de dez instituições diferentes.

Os pesquisadores identificaram que parte da restauração detectada pelos satélites é por regeneração natural – possivelmente de áreas desmatadas no passado que foram abandonadas. Mas além disso, os autores acreditam que cerca de 300 mil hectares de florestas foram recuperados pelos 350 membros do Pacto. Isso indica que a restauração está acontecendo na Mata Atlântica, seja para fins econômicos, seja para fins ecológicos.

O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 e o Pacto para a Restauração da Mata Atlântica 1 milhão até 2020. Com o Pacto mostrando que restaurar é viável, o Brasil já dá um primeiro passo para conseguir cumprir seus compromissos.

Desmatamento zero

Outro sinal positivo para a Mata Atlântica veio dos dados anuais do Atlas da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo o Atlas, nove dos 17 estados onde o bioma ocorre estão com níveis tão baixos de derrubada de árvores que podemos considerar como situação de desmatamento zero: Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, São Paulo e Sergipe.

Ainda há estados com dificuldades para controlar o desmatamento, mas os resultados mostram que desmatar não é mais necessário. Ao olhar todo o contexto da Mata Atlântica, com muitos estados em desmatamento zero e os primeiros sinais positivos de monitoramento da restauração, é possível olhar com otimismo para o futuro das florestas do bioma a partir do surgimento de um grande movimento capaz de dar escala a essa restauração.

Uma economia para as nossas florestas

O próximo passo é dar escala para a restauração e criar uma verdadeira economia dos produtos da floresta, sejam madeireiros ou não madeireiros. Incentivar produtores rurais a recuperarem áreas degradadas é crucial para a sustentabilidade dos nossos biomas e bem-estar da sociedade. Para isso ser possível, é preciso que os produtores possam ter benefícios através da restauração.

Felizmente, já há exemplos de restauração para fins econômicos acontecendo, como os Sistemas Agroflorestais ou o plantio de espécies nativas para produção de madeira e produtos não-madeireiros. Inclusive na Mata Atlântica, com experiências interessantes ocorrendo no Vale do Paraíba, em São Paulo,, no programa Reflorestar, no Espírito Santo, e no município de Extrema, em Minas Gerais.