Diante da necessidade de qualificar o transporte coletivo e mitigar emissões de poluentes, a eletrificação dos ônibus urbanos é estratégia cada vez mais presente nos planos ambientais e de mobilidade. Eletrificar o transporte coletivo tem muitos benefícios. Pode melhorar a qualidade do ar, o conforto dos passageiros e beneficiar a saúde e a economia urbana. Ao reduzir o uso de combustíveis fósseis, a eletromobilidade ainda apoia as metas climáticas das cidades e contribui para a segurança energética.

A saúde da população é um dos benefícios mais tangíveis. Isso porque a emissão de material particulado (MP), que causa doenças cardiovasculares e respiratórias, tem acentuado impacto local. Aqueles que circulam nos ônibus e perto de corredores são especialmente afetados pelas partículas emitidas junto aos gases de escape, pela frenagem e pelo desgaste de diferentes partes dos ônibus.

Quantificar esses benefícios é passo importante no planejamento da eletromobilidade e para o ganho de escala da eletrificação. Ao permitir uma maior clareza sobre os impactos positivos da eletrificação, a estimativa dos benefícios dá suporte a tomadores de decisão, instituições financeiras e outros atores do ecossistema da mobilidade e fortalece o argumento a favor da rápida transição para ônibus com zero emissão. 

Apoio a metas climáticas de cidades

Recentemente, o WRI Brasil apoiou a estimativa dos benefícios de saúde em três cidades. Rio de Janeiro, Salvador e Campinas fazem parte do grupo de cidades brasileiras que recebem apoio aprofundado da TUMI Missão Ônibus Elétricos. No âmbito da inciativa, o WRI Brasil apoiou as cidades na definição de metas de eletrificação alinhadas a seus planos ambientais e climáticos.

A cidade do Rio de Janeiro planeja a introdução de 20% de ônibus elétricos até 2030. Salvador prevê 40% de ônibus elétricos no sistema de transporte coletivo até 2032. Campinas, até o momento, tem como meta 35% de ônibus elétricos no Ano 5 da nova licitação da cidade.

Para fortalecer o compromisso das cidades, o WRI Brasil estimou o impacto que o cumprimento das metas de eletrificação terá na mitigação de emissões, na qualidade do ar e na saúde da população. Para as projeções, foi aplicada a ferramenta ImpactAr, que permite valorar os impactos da qualidade do ar na saúde e, assim, estimar os benefícios econômicos da mudança para frotas limpas.

Redução de internações e mortes 

A ferramenta mostrou que, combinada, as substituições, que abrangem apenas parte das frotas das cidades, podem gerar mais de R$ 1,5 bilhão em benefícios.

 

 

 

Caso o Rio de Janeiro eletrifique 20% de sua frota até 2030, estima-se uma redução anual de 58% das emissões de MP, de 19% de CO2 e 41% de NOx. A redução de Material Particulado tem potencial de evitar aproximadamente 7,8 mil hospitalizações e 587 mortes por doenças cardiovasculares e respiratórias em 30 anos. Em termos financeiros e econômicos, respectivamente, a redução das hospitalizações representa um potencial de redução de R$ 123 milhões e das mortes de R$ 1,2 bilhão (leia abaixo sobre como esses valores são calculados).

As projeções positivas se repetem para Salvador e Campinas. A eletrificação de 30% da frota da capital baiana até 2032 pode gerar redução anual de 75% das emissões de MP, 44% de CO2 e 73% de NOx. Em 30 anos, essa transição pode evitar 974 hospitalizações, o que representa R$ 12,7 milhões, e 45 mortes (R$ 95 milhões). A meta de Campinas traria redução anual de 83% das emissões de MP, 36% de CO2 e 74% de NOx. Seriam 987 hospitalizações evitadas em 30 anos (R$ 12,4 milhões) e 35 mortes (R$ 74 milhões).

Como a ImpactAr estima os benefícios?

A metodologia da ImpactAr segue três etapas. Primeiro, mede-se o impacto ambiental, ou seja, a redução de emissões resultante da substituição de ônibus a diesel em operação pelos ônibus elétricos, com foco em poluentes locais, que impactam diretamente a saúde da população (MP e NOx), e globais, que contribuem para o aquecimento do planeta (CO2). Depois, calcula-se o impacto epidemiológico da redução da poluição no número de mortos e doentes. Por fim, estima-se o impacto na economia e no bem-estar gerado por mortes e doenças prematuras evitadas.

Os impactos na saúde são traduzidos em termos econômicos por meio de duas metodologias consolidadas: o custo da doença (estimativa que considera despesas de hospitalização e ausências no trabalho por doença) e o valor estatístico da vida (estimativa que mede quanto as pessoas estão dispostas a pagar para reduzir marginalmente o risco de morrer). O número serve como um indicador dos ganhos de bem-estar das mortes evitadas.

Garantir os benefícios da eletromobilidade

Munidas dessas informações, Rio de Janeiro, Salvador e Campinas estão em melhores condições de avançar para as etapas seguintes da eletrificação, oferecer um serviço de melhor qualidade e servir de referência para outras cidades brasileiras.

Para que a eletromobilidade avance no Brasil, há outros fatores importantes, como a renovação dos modelos de contrato de concessão e o planejamento da infraestrutura de recarga. Vários destes aspectos são abordados no Guia de Eletromobilidade, elaborado em 2021 pelo Ministério do Desenvolvimento Regional com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o WRI Brasil.