Nós já sabemos que milhares de produtores rurais, iniciativas empresariais, organizações da sociedade civil, governos e instituições de pesquisa estão recuperando áreas degradadas e florestas, promovendo a restauração ecológica, a silvicultura e o reflorestamento de espécies nativas e exóticas para produção de madeira, papel, celulose, serviços ambientais e muitos outros produtos não madeireiros. Esses atores têm um papel fundamental para acelerar e dar escala à recuperação dos nossos ecossistemas, permitindo que o Brasil cumpra seus compromissos nacionais e internacionais de restauração florestal.

Apesar desse grande esforço, ainda há pouco reconhecimento no Brasil e no mundo dos resultados já alcançados. É preciso dar visibilidade para essas iniciativas e projetos, apresentando os resultados de forma sistemática, transparente e confiável.

Para atender a essa necessidade a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com o apoio de WRI Brasil, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (Pacto) e The Nature Conservancy (TNC), lançam o Observatório da Restauração e Reflorestamento. Trata-se de uma iniciativa pioneira e inédita para unir dados de iniciativas e projetos de restauração em andamento no Brasil com dados de monitoramento via satélite.

Veja o webinar de lançamento do Observatório, com apresentação sobre a ferramenta, contextualização dos dados e dos números mapeados:

Como o Observatório funciona

A plataforma conta com duas principais interfaces. A primeira, voltada para um público mais técnico, apresenta os dados em um mapa do Brasil e disponibiliza ferramentas para que os usuários possam fazer análises espaciais com as informações. Isso é crucial para dar transparência e ajudar a contabilizar os avanços dos compromissos nacionais e internacionais de restauração.

A segunda interface consolida os números e apresenta os dados principais da plataforma de forma simples. Ela pode ser uma importante ferramenta na tomada de decisões ao mensurar pela primeira vez o avanço da restauração e do reflorestamento no país.

Gestores públicos, sejam federais, estaduais e municipais, podem identificar a localização das áreas em restauração e reflorestamento. Isso pode ser crucial para acompanhar a permanência e o sucesso dos investimentos nessas áreas, assim como planejar novos programas e projetos de restauração. Empresas privadas também podem monitorar suas áreas de restauração para fins de adequação ambiental, rastrear suas cadeias de produtos florestais, ou verificar o cumprimento de suas políticas de sustentabilidade. Assim como o setor financeiro e o mercado podem monitorar suas metas ESG (Ambiental, Social e Governança).

Os números já mapeados – e o que vem pela frente

Antes de apresentar os números já mapeados pelo Observatório, é importante ressaltar que trata-se de um processo contínuo de busca de informações das iniciativas de restauração. A plataforma apresenta os dados que já estão disponíveis, acessíveis e compartilhados publicamente até o momento do lançamento. Sabe-se que muitas iniciativas e projetos importantes ainda não estão contabilizados, mas o Observatório convida a todos – produtores, empresas, sociedade civil, instituições de pesquisa e governos – a entrar em contato para disponibilizar seus dados, num processo contínuo de melhoria e monitoramento das áreas em processo de restauração no Brasil.

Para melhor apresentar os dados coletados, o Observatório os dividiu em três categorias: restauração, regeneração natural e reflorestamento. Não se recomenda somar os dados das três categorias, que poderiam apresentar um panorama diferente do que se encontra na realidade. Eis os dados identificados em cada uma delas:

  • Restauração: A plataforma considera como restauração a recuperação dos serviços ambientais de uma área, por meio de projetos que recuperam a vegetação nativa, façam intervenções ativas para restauração ou usem sistemas produtivos integrados com árvores (ex.: Sistemas Agroflorestais). Nessa categoria foram identificados até o momento 79 mil hectares de restauração em todo o Brasil.
  • Regeneração natural: Nesta categoria consideramos as áreas que foram abandonadas e se encontram em processo de restauração. Foram identificados 10 milhões de hectares. É importante ressaltar que os dados de regeneração natural são baseados em mapeamentos por satélite feitos pelo MapBiomas e a Plataforma FloreSer do Imazon. Considerar a intencionalidade na regeneração e trabalhar para estabelecer incentivos para tal é determinante para que ela possa ser considerada nos cumprimentos das metas e compromissos do Brasil nas esferas internacionais, como no Acordo de Paris.
  • Reflorestamento: O plantio de árvores para fins econômicos, sejam nativas ou exóticas, em monocultura ou policultura, faz parte dessa categoria. Por exemplo, os reflorestamentos para produção de madeira nativa ou papel ou celulose utilizando espécies exóticas (ex.: pinus e eucalipto). Nessa categoria, foram identificados 9 milhões de hectares de reflorestamento. Esse número é bem próximo da estimativa feita pela IBÁ.

Visibilidade para quem está fazendo acontecer

Uma das mais importantes características do Observatório da Restauração e Reflorestamento é dar visibilidade para os produtores e organizações que estão restaurando na ponta. Essa visibilidade é crucial para dar transparência e reconhecer o importante trabalho desenvolvido por produtores rurais que estão fazendo a restauração se tornar realidade. Facilitar esse reconhecimento pode melhorar o acesso a recursos e ao financiamento necessário para acelerar e aumentar a escala da restauração.

O papel de movimentos de restauração, produtores, empresas, governos, organizações da sociedade civil e instituições de pesquisas engajadas em restauração foi crucial em disponibilizar os dados para o Observatório. Por exemplo, o Observatório conta com os dados do Pacto e da Aliança pela Restauração na Amazônia. No Pacto, são mais de 300 organizações-membro restaurando a Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado do Brasil, resultando em ganhos ambientais e econômicos. Na Aliança, embora nem todas as áreas estejam já totalizadas na plataforma, sabemos que existem cerca de 2,7 mil iniciativas de restauração que mostram grandes oportunidades para acelerar e aumentar a escala. As mesmas incluem projetos de restauração ecológica, Sistemas Agroflorestais (SAFs) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF).

Também é importante dar visibilidade para políticas públicas que promovem e incentivam a restauração. O Observatório permite que o usuário faça buscas por município, tornando possível ver onde a restauração está acontecendo, como por exemplo o trabalho da prefeitura de Extrema (MG) e do programa Conservador da Mantiqueira. Na esfera estadual, duas importantes bases de dados já foram incluídas: as dos estados de São Paulo e Espírito Santo. Gestores públicos de outros estados são encorajados a disponibilizar seus números e disseminar suas boas práticas governamentais.

Um observatório vivo e dinâmico

A restauração de paisagens e florestas tem se destacado no debate público e privado no Brasil e no mundo por ser uma das melhores soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, assim, combater as mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, a restauração gera emprego e renda e assegura uma agricultura mais resiliente e sustentável. Não por acaso as Nações Unidas definiram o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração dos Ecossistemas. Para que os benefícios da restauração sejam disseminados e percebidos pela sociedade, é crucial reunir e atualizar as iniciativas de restauração e reflorestamento e apresentá-las com transparência e confiabilidade à sociedade, tanto no Brasil quando no exterior.

O Observatório da Restauração e Reflorestamento está dando um primeiro passo nesse sentido. Para isso, ele precisa ser uma plataforma viva e dinâmica, sempre adicionando novos dados e atualizando as informações para retratar o cenário da restauração no Brasil de forma fidedigna. WRI Brasil, Imazon, TNC e Pacto, junto com a Coalizão Brasil e parceiros, convida os produtores rurais, gestores públicos, gerentes de projetos e empresas e sociedade civil engajados na agenda da restauração a disponibilizar e compartilhar seus dados, mostrando para o mundo que o Brasil é o país da restauração.


Milena Ribeiro é especialista em Geoprocessamento da TNC Brasil, Laura Lamonica é coordenadora de Relações Institucionais da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Luis Oliveira é pesquisador do Imazon e Edson Santiami é especialista em geoprocessamento e membro do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.