Este artigo foi publicado originalmente no WRI Insights.


Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já enfrentamos e aponta o que ainda está por vir se não reduzirmos as emissões em um ritmo mais rápido.

A série Este mês na ciência climática, do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês, compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são explorados alguns dos estudos publicados em dezembro de 2019. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)

Impactos

Bebês prematuros: um estudo constatou que o calor extremo nos Estados Unidos levou mulheres grávidas a dar à luz antes das datas previstas. Entre 1969 e 1988, cerca de 25 mil bebês nasceram prematuros por ano devido à exposição ao calor. Impactos cognitivos e de saúde têm sido associados a partos prematuros.

Aves encolhendo: cientistas acompanharam 52 espécies de aves migratórias na América do Norte durante 40 anos e descobriram que o tamanho dos corpos das aves diminuiu com o aquecimento, enquanto o comprimento das asas aumentou. Eles levantam a hipótese de que asas mais longas ajudam as aves menores a continuar migrando apesar das mudanças climáticas.

Mudanças nas migrações: um estudo coletou dados sobre a migração noturna de aves nos Estados Unidos e descobriu que o aquecimento levou algumas espécies a chegarem mais cedo. Isso é um problema porque a migração geralmente é sincronizada com a disponibilidade de recursos – um desencontro pode ameaçar populações e impactar a estrutura e o funcionamento do ecossistema.

Tartarugas presas: tartarugas-de-Kemp estão viajando mais ao norte do Atlântico devido às águas mais quentes e ficando "presas" na península de Cape Cod. Quando chega o inverno, elas ficam "atordoadas pelo frio", e muitas acabam encalhadas. Tartarugas são muito sensíveis à mudança de temperatura; quedas de temperatura podem ser estressantes e potencialmente letais.

Peixes-papagaio suportam o branqueamento de corais: em um estudo sobre recifes em duas bacias oceânicas, cientistas descobriram que as populações de peixes-papagaio cresceram após mortes de corais por branqueamento, em contraste com quase todas as outras espécies de peixes, cujas populações diminuíram após o branqueamento de corais. Cientistas observaram que o branqueamento cria superfícies estéreis que são colonizadas por microalgas e cianobactérias, fontes de alimento do peixe-papagaio, mas afirmam que a população da espécie deve diminuir à medida que o recife se recupere.

Menos pescadores na Nova Inglaterra: cerca de 34 mil pescadores trabalham na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, onde as águas estão esquentando rapidamente. Um estudo constatou que o mercado de empregos da pesca na Nova Inglaterra diminuiu 16% em média entre 1996 e 2017, provavelmente devido a mudanças na variabilidade climática.

Cabras-das-rochosas estressadas pelo calor: cientistas estudaram os impactos do calor nas cabras-das-rochosas no Glacier National Park, em Montana, nos Estados Unidos. Manchas de neve normalmente proporcionam refúgio para a espécie, reduzindo o estresse térmico. Mas, dada a persistente diminuição da neve no verão, os animais podem não conseguir encontrar áreas para descansar e reduzir a frequência respiratória graças ao calor.

Mudança no suprimento de água: cadeias montanhosas armazenam água e proporcionam abastecimento a jusante, como uma torre de água natural. Um estudo identificou a variedade de torres-de-água globais e descobriu que as mais importantes também são as mais vulneráveis. Dadas as mudanças climáticas e socioeconômicas no futuro, 1,9 bilhão de pessoas que vivem nas áreas montanhosas ou a jusante das mesmas poderiam sofrer impactos negativos.

Eventos extremos

Extremos de calor simultâneos: pesquisadores observaram que dois padrões particulares de correntes de jato podem levar a extremos de calor que ocorrem em várias partes do mundo simultaneamente. Esses padrões podem prejudicar a produção agrícola regional em até 11%. Se várias regiões forem afetadas ao mesmo tempo, as consequências para a produção e a segurança alimentar global podem ser graves. Os autores observaram que alguns estudos descobriram que esses padrões de fluxo de jato aumentaram nos últimos verões.

Gelo

Derretimento de gelo na Groenlândia se acelera: Pesquisadores analisaram dados de 26 satélites para verificar as mudanças na manta de gelo da Groenlândia. Eles detectaram uma perda de cerca de 3,8 mil gigatoneladas de gelo entre 1992 e 2018, contribuindo para um aumento do nível do mar de 11 milímetros. A taxa de perda aumentou no período, de 18 Gt/ano entre 1992 e 1997 para 239 Gt/ano entre 2012 e 2017. Cientistas notaram que as perdas acumuladas são consistentes com os cenários mais pessimistas do IPCC.

Lagos da Groenlândia estão sendo drenados mais rapidamente do que o esperado: Cientistas descobriram que o lago West Greenland perdeu dois terços de seu volume em apenas cinco horas em 2018, e foi drenado apenas um ano antes. Eventos de drenagem parcial em geral ocorriam vagarosamente, mas os pesquisadores registraram que hidrofraturas – em que a superfície derretida atinge a base da camada de gelo através de rachaduras no gelo – podem levar a uma drenagem muita mais veloz. Nesse caso, o lago expandiu e reativou uma fratura pré-existente.

Ártico e Antártica transformados: O aquecimento é maior nos polos. Por exemplo, com 2°C de aquecimento global, o Ártico poderá testemunhar um aumento de 4°C na média anual e de 7°C no inverno. Um novo estudo olhou para as consequências desse aquecimento extremo no Ártico e na Antártica. No Ártico, pesquisadores descobriram que o aquecimento pode resultar em perdas de gelo e vida selvagem, ameaças a populações, eventos climáticos extremos e aumento de emissões do permafrost. O colapso da Geleira Thwaites e outras geleiras da Antártica pode aumentar o nível do mar em 3 metros em menos de um século.

Aceleração do aquecimento do Ártico: A agência de Oceanos dos Estados Unidos documentou mudanças sem precedentes no Ártico – incluindo aumento de temperatura, derretimento das mantas de gelo, redução da extensão da cobertura de neve, descongelamento do permafrost e menor extensão do gelo marinho. Mudanças estão ocorrendo mais rapidamente do que o antecipado, e ecossistemas e comunidades estão enfrentando riscos maiores.

Redução de neve aumenta aquecimento: Quando a cobertura de neve derrete, a superfície que antes estava coberta se torna mais escura, absorvendo mais radiação solar e aumentando o aquecimento. Cientistas descobriram que o declínio da neve na América do Norte pode causar um aquecimento de 2°C anualmente na região e 4°C na primavera. Pode também intensificar extremos de aquecimento. Esse efeito é maior no norte do Canadá, por conta da abundante cobertura de neve da região.

Descoberta perda de gelo no Ártico russo: Pesquisadores encontraram acelerado derretimento na calota de gelo Vavilov, no Ártico russo. Ela perdeu mais de 11% de sua massa de gelo entre 2013 e 2019. Os autores documentaram um aumento da velocidade do fluxo glacial, em que o gelo é rapidamente drenado de geleiras e segue para o oceano, criando uma “corrente de gelo”. O estudo é o primeiro a documentar a formação dessa corrente de gelo.

Emissões

Emissões recordes de dióxido de carbono proveniente de combustíveis fósseis: O Global Carbon Project mostrou que as emissões de gases de efeito estufa dos combustíveis fósseis de 2019 devem ser as maiores já registradas.

Emissões de metano subestimadas: Usando dados de satélites, pesquisadores descobriram que as emissões de metano associadas ao vazamento de um poço de extração de gás natural em Ohio, em 2018, foram bem maiores do que o reportado anteriormente. As emissões de metano foram maiores do que as emissões associadas com toda a indústria de gás e petróleo de França e Noruega. Os autores recomendaram que dados de satélites sejam usados para quantificar emissões de outros eventos.

Grande fonte de emissão de metano na África: O metano é um potente gás de efeito estufa, cerca de 28 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Cientistas descobriram que entre 2010 e 2016, as emissões de metano da África tropical aumentaram substancialmente, representando um terço do crescimento das emissões de metano do mundo no período. Isso pode ter relação com emissões associadas à agricultura e áreas úmidas.

Rios emissores: Cientistas descobriram que as emissões de óxido nitroso de rios pularam de 70,4 gigagramas (Gg)/ano para 291,3 Gg/ano entre 1900 e 2016. As emissões de óxido nitroso de rios ocorrem principalmente por conta do uso de fertilizantes na agricultura. Apesar de elas representarem apenas 3% das emissões terrestres de N2O, elas aumentaram a uma velocidade três vezes maior do que outras fontes.

Atraso na recuperação da camada de ozônio: Um novo esforço de modelagem mostra que o buraco na camada de ozônio será fechado em 2065 se os países continuarem cumprindo com o Protocolo de Montreal. No entanto, se as emissões de CFC-11 aumentarem, como ocorreu recentemente, a recuperação pode ser atrasada em mais de uma década.

Temperatura

2019 encerra a década mais quente: A Organização Meteorológica Mundial afirmou que 2019 deve ser o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado, encerrando a década mais quente já registrada. A média global de temperatura de janeiro a outubro de 2019 foi 1,1°C maior do que a era pré-industrial.

Um 2020 quente: O UK Met Office divulgou a previsão para a temperatura de 2020, estimando que ela será 1,11°C maior do que a média pré-industrial. O ano mais quente já registrado, 2016, foi 1,16°C mais quente que os níveis pré-industriais.

Cientistas dizem que modelos são certeiros: Em um esforço para entender a precisão dos modelos climáticos, pesquisadores compararam projeções de temperatura feita por modelos com as observações entre 1970 e 2007. Eles descobriram que os esforços de modelagem climática dos últimos 50 anos foram certeiros em prever mudanças na temperatura média global da superfície, o que deve aumentar a confiança na capacidade dos modelos projetarem o aquecimento global.

Oceano

Mares da Califórnia estão mais ácidos: O oceano está se tornando mais ácido conforme absorve dióxido de carbono. Cientistas usaram quase dois mil dados diferentes para criar um registro da acidificação das águas da costa da Califórnia, descobrindo que elas estão duas vezes mais ácidas do que a média global. Organismos marinhos e a cadeia de alimentos podem estar em risco conforme o oceano fica mais ácido.

Redução dos níveis de oxigênio: Modelos climáticos sugerem que o aquecimento levará ao declínio na dissolução do oxigênio nos oceanos. Águas pobres em oxigênio podem resultar em profundas mudanças nos ecossistemas marinhos, já que alguns organismos não conseguiriam sobreviver nessas áreas. Pesquisadores coletaram dados dos últimos 50 anos em águas do Atlântico Tropical e Pacífico Equatorial e descobriram que o oxigênio já declinou 0,09-o,34 micromoles por quilograma por ano.