
Como monitorar, reportar e verificar um projeto de restauração de paisagens e florestas
Medir o impacto de projetos de restauração pode ser exaustivo. Para os líderes da restauração do mundo - organizações locais que restauram paisagens degradas através do plantio de árvores - o desafio começa com escolher os indicadores corretos, as fontes de dados, os aplicativos e as plataformas a serem usadas. Fica ainda mais complexo ao coletar, analisar e compartilhar dados. Então vêm as contrapartidas. Diferentes atores interessados, como financiadores e agências governamentais, querem informações diferentes. Doadores e investidores privados estão demandando mais transparência e querem dados verificados melhores para impulsionar os projetos mais bem-sucedidos, mas orçamentos para monitoramento e avaliação são apertados. Leves discrepâncias na definição de termos comuns como “hectare restaurado” ou “árvore” podem mudar radicalmente os dados e os métodos usados para medir progresso. Coletar dados de localização precisos que cubram cada árvore plantada pode ser custoso e trabalhoso.
No fim, esses desafios tornam difícil de entender por que certos projetos têm sucesso, enquanto outros encontram dificuldades.
Uma única receita para monitorar o progresso de restauração
Na África, onde a necessidade por financiamento é maior, a iniciativa Restore Local está lidando diretamente com esse problema. Desde 2022, sua parceria com o TerraFund canalizou US$32 milhões para aproximadamente 200 líderes da restauração. Ao financiar projetos que atendem as necessidades das comunidades locais e utilizam dezenas de técnicas de restauração comprovadas – como cultivar milhões de árvores em fazendas de agroflorestas ou plantando espécies nativas dentro de florestas comunitárias degradas – ele está construindo soluções desde o início.
Desde que os primeiros projetos receberam financiamento em 2022, nosso time esteve desenvolvendo um robusto e compreensivo sistema de monitoramento, reporte e verificação para medir seu impacto. Nosso guia, How We Monitor, Report and Verify (MRV), resume essa prática custo-efetiva. É um documento vivo, moldado por especialistas e implementadores locais, e que foi sendo aprimorado a partir de novas técnicas e engajamento com novos parceiros.
Esse guia ganha vida através do TerraMatch, uma plataforma de ponta a ponta que conecta quem está fazendo a restauração no campo com financiadores, e a partir de então os ajuda a submeter dados de alta qualidade para monitorar progresso por 6 anos. Esses dados são então analisados e publicados para trazer uma nova transparência ao setor de restauração.
Depois de testar em mais de 240 projetos e consultar com parceiros financeiros importantes e dezenas de especialistas técnicos, nós identificamos que essa abordagem está alterando o modo de pensar do setor em direção ao ganho de escala e consistência.
Os ingredientes para restaurar, monitorar, reportar e verificar
Desenvolver um novo processo de MRV é como criar um prato de receitas clássicas mas adicionando um toque novo. É uma mistura de criatividade, conhecimento científico e experiências do mundo real.
Como qualquer prato novo, você precisa impressionar os seus críticos e estar preparado para ouvir diferentes opiniões. Nosso processo de MRV é essa receita. Nós definimos o que nossos indicadores significam e por que eles importam, e como coletar e mensurar os dados. Nós também destacamos a frequência para avaliar, gerenciar e verificar informação, e como compartilhar os resultados com embaixadores da restauração e financiadores. Documentar o processo ajuda o TerraFund a ver o panorama geral e como partes de encaixam. Mapear o fluxo de trabalho mostra onde líderes da restauração ou analistas podem ganhar tempo sem sacrificar qualidade.

Vamos demonstrar um exemplo de como cada ingrediente é combinado em um verdadeiro local de restauração de paisagem em Ruanda, gerenciado por um de nossos líderes da restauração, Nature Rwanda, e seu parceiro de implementação, BirdLife International.
Ingrediente #1: polígonos geoespaciais
Não podemos monitorar progresso se não sabemos onde a restauração está acontecendo. Entram os polígonos: dados de localização mostrando as fronteiras de um projeto. Criar polígonos precisos não é coisa fácil. Restaurar uma paisagem é complexo, sensível ao tempo, e dependente de padrões de clima variáveis e necessidades das comunidades. Polígonos são melhor coletados depois que o plantio está completo e diretamente do campo, uma tarefa especialmente desafiadora quando os locais de projetos são remotos ou espalhados ao longo de terras de centenas de proprietários individuais.

Para tornar essa tarefa mais fácil, nós fizemos uma parceria com a Wells for Zoë, uma embaixadora da primeira leva de investimentos do TerraFund e uma parceira da Matercard Priceless Planet Coalition, para desenvolver um aplicativo de coleta de dados de campo. O Flority permite que restauradores facilmente criem polígonos em campo, mesmo em áreas sem conexão segura com a internet.
Os analistas de qualidade de dados do TerraFund treinam os líderes da restauração em como coletar dados, corrigir erros e adicionar informações contextuais a cada arquivo de polígono, incluindo o uso da terra alvo da área que eles estão restaurando, suas estratégias de restauração e o número de árvores que eles plantaram em cada área.
Essa informação permite um amplo entendimento de como as organizações estão restaurando cada paisagem - e quais estratégias de restauração são mais bem sucedidas em determinadas áreas. Ao somar a área total de todos os polígonos coletados, nós podemos determinar os hectares totais sob restauração e comparar com os dos objetivos do projeto.
Ingrediente #2: reportes de progresso do campo
Localização é uma importante fonte de dados e um ingrediente básico da verificação independente. Porém, ela não pode nos dizer tudo. Para conseguir um sabor mais completo de nossos projetos, nós precisamos adicionar reportes de progresso do campo na receita.
Líderes reportam a cada seis meses através da plataforma do TerraFund, submetendo informações sobre indicadores chave que satélites não podem capturar, mas que criam uma figura poderosa do impacto da restauração nas comunidades. Esses reportes incluem dados quantitativos sobre o número de empregos criados e as espécies de árvores plantadas, bem como informações narrativas que iluminam os desafios e sucessos de cada projeto.
Por exemplo, a BirdLife International e a Nature Rwanda reportaram em 2024 que haviam plantado mais de 300 mil plantas ao longo de 500 hectares no Distrito Rusizi de Ruanda. Eles também treinaram mais de 3400 domicílios com habilidade de resiliência climática e manejo sustentável da terra.

Além da restauração, essas organizações também empoderam comunidades locais. A Nature Rwanda apoiou a formação de dois grupos de comunidade, Rasano e Nyamihanda, cada um começando com 30 membros. Aquele juntou suas economias para lançar uma pequena fazendo de porcos, enquanto este está começando um projeto avícola. Para garantir sucesso de longo prazo, Nature Rwanda recrutou 25 “zeladores de árvores comunitários” que se voluntariam semanalmente para monitorar a saúde das árvores. Isso levou a um aumento de 85% na taxa de sobrevivência das árvores.
Nós contamos as histórias desses embaixadores para destacar como dados robustos podem aprimorar a defesa do caso de investimento para restauração - e catalisar financiamento adicional.

Ingrediente #3: dados de satélite e de campo para verificação
É importante para nós verificar indicadores chave, como o número de árvores plantadas, empregos criados e árvores restauradas, ao fim do projeto. Nós fazemos isso pelo referenciamento cruzado de informações com fontes independentes, como sensoriamento remoto de dados ou registros de emprego.
Se os números diferem significativamente, nós averiguamos com os líderes dos projetos para entender a razão da discrepância e corrigir os números ou criar um plano de trabalho atualizado. Organizações que continuam a mostrar discrepâncias passam por verificação adicional através de visitas de campo para fortalecer a manutenção de registros e reportes. Identificar esses desafios tão cedo quanto possível na vida útil de um projeto nos ajuda a oferecer suporte quando projetos precisam e manter o trabalho nos trilhos.
Também usamos dados de sensoriamento do Land & Carbon Lab, Michigan State University (MSU) e Maxar para analisar indicadores biofísicos adicionais e avaliar o progresso de restauração ao longo da vida útil do projeto.
Vamos começar por observar como nós verificamos a contagem de árvores e empregos criados. Então, nós seguiremos com um olhar sobre outros indicadores biofísicos de progresso.
Contagem de árvores
Para verificar o número de árvores plantadas e restauradas ao fim de um projeto, nosso time conta árvores dentro de cada polígono usando um modelo de inteligência artificial (IA) de detecção de objetos que analisa imagens de satélite em alta resolução. O modelo é treinado para reconhecer e contar árvores identificando copas de árvores, e resultados iniciais mostram que a contagem da IA corresponde precisamente aos dados coletados em campo. Com essa abordagem, nós contamos árvores na linha de base (antes do projeto começar), no meio do andamento do projeto para verificar que o plantio aconteceu, e novamente ao fim de cinco anos para avaliar a taxa de sobrevivência.
Para projetos onde imagens de satélites não estão disponíveis ou condições basais fazem essa abordagem de sensoriamento remoto imprecisas, nós enviamos pessoal para contar o número de árvores plantadas em uma amostra do lote e extrapolamos o total a partir disso.


Cobertura florestal
Usando o conjunto de dados do WRI Tropical Tree Cover, nosso time calcula a porcentagem de cobertura florestal em cada local de projeto ao longo de seu ciclo de vida. Comparando a cobertura florestal ao início de um projeto com o total cinco anos depois, nós podemos confirmar que árvores plantadas estão crescendo e avaliar o quanto elas estão mudando a cobertura florestal geral dentro e no entorno do local.

Estoques de Carbono
Todas as árvores armazenam carbono que pode aquecer o planeta; nós queremos saber o quanto. Em uma parceria com pesquisadores do MSU’s Global Observatory for Ecosystem Services, nós medimos árvores em projetos piloto do TerraFund na linha de base para quantificar estoques de carbono existentes. Então combinamos essas medidas com imagens de alta resolução de satélites para mapear a quantidade de carbono que cada árvore sequestra na paisagem mais ampla. Nós vamos coletar dados novamente depois de cinco anos para avaliar quanto carbono árvores recém-plantadas sequestraram.
WRI e MSU estão também utilizando estoques de carbono basais e métricas padrão de crescimento para prever os estoques de carbono estimados 30 anos no futuro. Esses resultados podem ajudar a identificar quais técnicas de restauração sequestram mais carbono – e podem estrategicamente visar créditos de carbono para financiar seu trabalho.

Empregos Criados
Projetos de restauração são tão importantes para pessoas quanto são para natureza e o clima. Nós verificamos o número de pessoas que cada projeto emprega comparando o número de empregos reportado e o número de registros empregatícios. E nós prestamos atenção para sinais de alerta, como o aumento repentino no número de empregados fora da temporada de plantio ou números repetidos nos relatórios.
Fazemos uma checagem cruzada com a idade e gênero dos empregados, também para avaliar quais projetos estão atingindo suas metas de equidade social. E nós olhamos para o número de empregados de meio período e de período integral para entender qual desenho de projeto leva a mais oportunidades econômicas permanentes para as comunidades locais.
Servindo a refeição: exibindo progresso através do painel de dados do TerraMatch
O processo de compreensão nos dá percepções vitais, mas os resultados não valem muito se eles não são comunicados. Assim como servir uma refeição, apresentar dados de restauração deve atender a gostos únicos. Diferentes audiências querem saber detalhes diferentes sobre projetos e seu progresso.
- Líderes da restauração podem usar dados e sensoriamento remoto para demonstrar seu progresso e impacto.
- Doadores e investidores podem ver o impacto de seus investimentos através de projetos.
- Organizações como o WRI e parceiros, como Realize Impact e Barka Fund, podem usar dados para gerenciar riscos e fortalecer a capacidade de embaixadores da restauração.
Passamos os últimos três anos construindo o sistema TerraMatch para sistematicamente coletar e assegurar a qualidade de dados. Mais de 240 organizações sem fins lucrativos estão acompanhando seus impactos lá.
O painel do TerraMatch exibe essa riqueza de dados sobre o progresso de cada projeto, em países inteiros, e dentro de portfólios de investimento. Ao embalar claramente os dados coletados através da estrutura MRV, nós podemos contar uma história mais completa do progresso de restauração.
E aí está o progresso. O TerraFund fez significativos avanços desde seu início em 2022.

Melhorando a receita para monitoramento da restauração
Nosso time está trabalhando para combinar dados coletados em campo com percepções de IA sobre dados de satélite para ajudar embaixadores do TerraFund para contar suas histórias completas de impacto. Enquanto concentramos nosso trabalho em paisagens prioritárias, estamos explorando técnicas de baixo custo para mensurar ainda mais complexos serviços ecossistêmicos, como qualidade da água e biodiversidade.
Junto com os embaixadores da restauração e especialistas técnicos, nós vamos demonstrar como dados acessíveis sobre progresso robusto podem desbloquear mais investimento para transformar as paisagens vitais do planeta, árvore por árvore.
Centenas de organizações estão adotando essa visão de uma receita prática, custo-efetiva e escalável para monitoramento, reporte e verificação de impacto de projetos de restauração. Você se juntará a nós?