O cacau, matéria-prima do chocolate, é um fruto que gosta de floresta. O cacaueiro cresce e desenvolve-se à sombra de outras árvores e, naturalmente, prospera em meio a uma área florestal.

Essa característica levou ao desenvolvimento de uma forma tradicional de produzir cacau: a cabruca. O termo cabruca surgiu do ato do agricultor “cabrocar a floresta”, isto é, fazer o manejo de uma área florestal enriquecendo-a com o cacau e, assim, produzindo e mantendo a cobertura florestal. A cabruca se tornou uma forma muito comum, há muitos anos, de se produzir cacau no estado da Bahia.  

Por conta de mudanças no mercado agropecuário nas últimas décadas, muitas áreas de cabruca acabaram sendo desmatadas no sul da Bahia, dando lugar a pastagens e, posteriormente, tornando-se áreas degradadas e abandonadas. Essas áreas precisam ser restauradas, tanto para melhorar produtividade e gerar renda, como para cumprir com o Código Florestal, recuperando Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reserva Legal (RL). 

Como fazer isso?  O Programa Arboretum, em parceria com PRETATERRA, WRI Brasil, Floresta com Ciência e pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos e Universidade Federal de Viçosa, e com o apoio do Instituto humanize, desenvolveu na região o projeto “Cadeias Produtivas Sustentáveis no Extremo Sul da Bahia”, com o objetivo de entender como a restauração pode acontecer na região envolvendo a produção sustentável de cacau. O projeto apoiou ações para recuperar áreas utilizando Sistemas Agroflorestais (SAF) com cacau. E a inspiração dessa abordagem vem justamente da tradicional cabruca.  

Uma agrofloresta com cacau

O projeto desenvolveu ações para entender a restauração florestal com modelos produtivos no extremo sul da Bahia considerando duas frentes de trabalho. Na primeira, a viabilidade de redes e coletas de sementes. Depois, na implantação de unidades demonstrativas de SAFs com cacau.  

O objetivo de uma unidade demonstrativa é testar um conceito, em conjunto com os produtores, e ensinar lições para técnicos que atuam em campo, além de servir de exemplo para que outros agricultores se interessem pela técnica. Dessa forma, foram instaladas duas áreas no Sul da Bahia, nos municípios de Cumuruxatiba (BA) e Itamaraju (BA).  

Como funcionam essas agroflorestas? Primeiro, o local onde elas foram implantadas foi identificado, incluindo sua vocação produtiva e os conhecimentos locais, interesses e motivações dos produtores. Ao entender quais são as espécies de maior interesse local, foi elaborado um arranjo produtivo que envolvesse culturas agrícolas e árvores, incluindo o cacau, dispostos de forma inteligente na área.  

E para construir essa abordagem um elemento importante foi o da mobilização, assistência técnica e capacitação para produtores rurais. Cerca de 28 agricultores locais participaram de um processo de treinamento e capacitação presencial. Essas aulas foram gravadas em vídeo e estão disponíveis abaixo e no Youtube para quem estiver interessado em conhecer mais. 

 

 

 

 

A viabilidade econômica do cacau

Os benefícios ambientais das florestas já são bem conhecidos: elas melhoram a qualidade do solo, das nascentes da propriedade, o microclima, retiram carbono da atmosfera, por exemplo. Mas economicamente, é viável para um produtor rural produzir em sistema agroflorestal?  

Muitos estudos recentes indicam que sim. Um deles, produzido em 2021 pelo Instituto Arapyaú com apoio do WRI Brasil, analisou modelos de SAF de cacau no Pará e cabruca na Bahia, e identificou a possibilidade de retorno de investimento de 12%, gerando renda entre R$ 5 mil e R$ 8 mil por hectare para o produtor. Porém, o estudo mostrou que esse retorno só é possível se houver a quantidade de sombreamento certa para o cacau – por isso a importância de se ter um desenho de um arranjo agroflorestal aderente, inteligente e elástico, que, além de bem conduzido deve gerar pertencimento ao agricultor ou agricultora que conduz o plantio.  

Recuperando a Mata Atlântica baiana

O cacau é um produto com mercado consolidado e grande demanda. Porém, o Brasil tem apenas uma pequena fatia desse mercado internacional. Produzir cacau com sustentabilidade, a partir de sistemas agroflorestais, pode ser lucrativo e ampliar as possibilidades de negócios para pequenos e médios produtores rurais.  

No extremo sul da Bahia, onde há a necessidade de recompor áreas de APP e RL, os SAFs com cacau são grandes aliados dos agricultores, ajudando a restaurar e recuperar a Mata Atlântica com benefícios ambientais e econômicos.