6 gráficos para entender as queimadas nas florestas do Brasil e da América do Sul
A América do Sul está em chamas, com incêndios recordes queimando até mesmo em ecossistemas tipicamente úmidos, como a floresta amazônica. Altas temperaturas e seca persistente, alimentadas pelo evento El Niño que terminou no início deste ano — além de mudanças de longo prazo causadas pelo desmatamento e mudanças climáticas — fizeram com que os incêndios se espalhassem por milhões de hectares e vários países, ameaçando vidas, propriedades e criando níveis perigosos de poluição do ar em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
Dados da plataforma Global Forest Watch do WRI mostram que o número de alertas de incêndio na região amazônica está 79% acima da média para esta época do ano.
Embora os incêndios recordes deste ano sejam preocupantes, eles também fazem parte de uma tendência alarmante de longo prazo. Analisando dados de 2001 a 2023, os incêndios na região amazônica estão queimando pelo menos o dobro da área florestal hoje em comparação a 20 anos atrás.
Gráfico: Um evento muito forte de El Niño em 2015-2016 causou um grande aumento na perda de floresta relacionada a incêndios na Amazônia. De forma semelhante, um forte evento de El Niño começou em 2023 e terminou em maio de 2024. Este gráfico reflete apenas os dados até o final de 2023.
Aqui, analisamos a situação atual e as tendências de longo prazo em alguns países chave da América do Sul, utilizando dados de incêndios disponíveis no Global Forest Watch.
Bolívia
A Bolívia está enfrentando sua pior temporada de incêndios em mais de 20 anos, levando o governo a declarar estado de emergência nacional. Nossos dados mostram mais de 29 mil alertas de incêndio no país desde o início do ano até 16 de setembro de 2024, com 90% deles ocorrendo desde 1º de julho. Aproximadamente 70% dos alertas estão em florestas primárias, ecossistemas valiosos que mantêm a biodiversidade, sustentam meios de subsistência e armazenam e sequestram carbono.
Embora 2024 seja um ano recorde para incêndios na Bolívia, os incêndios florestais são uma tendência crescente no país: os dados mostram que hoje os incêndios queimam aproximadamente cinco vezes mais florestas do que há 20 anos.
Brasil
O Brasil, que contém cerca de 60% da floresta amazônica, já registrou mais de 47 mil alertas de incêndio neste ano — mais que o dobro da média anual para esta época. Assim como na Bolívia, quase todos os alertas de incêndio ocorreram nos últimos meses, muitos deles na Amazônia.
Dados da ONG brasileira MapBiomas relatam que os incêndios queimaram mais de 11 milhões de hectares de terra entre janeiro e agosto deste ano, uma área aproximadamente do tamanho da Guatemala. Segundo seus dados, que remontam a 1985, apenas um ano — 1987 — teve uma área queimada maior até este ponto do ano.
O aumento da atividade de incêndios florestais, juntamente com altos níveis de desmatamento, já transformaram as florestas da Amazônia brasileira em uma fonte líquida de emissão de carbono.
Peru
O Peru, que abriga a segunda maior área da floresta amazônica na América do Sul depois do Brasil, já registrou mais de 450 alertas de incêndio em 2024 — mais que o dobro da média para este estágio do ano. Cerca de 61% dos incêndios no país estão queimando em florestas primárias.
Combatendo incêndios em um mundo mais quente
Incêndios como os que estamos vendo hoje fazem parte de um ciclo perigoso e amplamente impulsionado por atividades humanas.
Ao contrário das florestas boreais, onde os incêndios fazem parte natural do ecossistema, os incêndios naturais em florestas tropicais úmidas, como a Amazônia, são muito raros e quase inteiramente causados por humanos. Muitos dos incêndios na Amazônia são causados pelo desmatamento, que frequentemente envolve incêndios para limpar a terra para fazendas e pastagens.
Evidências sugerem que o próprio desmatamento é responsável por mudanças regionais nos padrões climáticos, resultando em secas maiores e mais severas que tornam as florestas mais suscetíveis a incêndios. Quando as condições estão quentes e secas, como este ano, os incêndios podem rapidamente sair de controle e queimar grandes áreas de floresta.
Além dessas causas diretas, as mudanças climáticas também estão tornando as florestas mais suscetíveis a incêndios ao aumentar as temperaturas e alterar os padrões de chuva em escala global. Os 10 anos mais quentes desde 1985 ocorreram na última década, e 2024 está a caminho de superar 2023 como o ano mais quente registrado.
E à medida que as florestas queimam, elas liberam grandes quantidades de dióxido de carbono e outros poluentes na atmosfera, contribuindo para as mudanças climáticas e impactando a qualidade do ar a milhares de quilômetros de distância. Embora as florestas possam recuperar parte do carbono perdido ao crescer novamente, pode levar décadas para recuperar o que foi perdido em um único ano.
À medida que os países sul-americanos enfrentam os incêndios recordes deste ano e os que virão, o foco deve estar em abordar tanto os fatores diretos quanto os indiretos que impulsionam os incêndios florestais.