Este post foi escrito por C. Forbes Tompkins, Kelly Levin e Noah Kaufman e publicado originalmente no WRI Insights.

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Em uma nova série de conteúdos exclusivos sobre a administração do novo presidente norte-americano Donald Trump e suas implicações em clima, energia e economia, o World Resources Institute traz quatro verdades irrefutáveis sobre as mudanças climáticas nos Estados Unidos e no mundo. Durante as recentes confirmações dos nomes do gabinete de Trump, nota-se um padrão familiar. Ainda que alguns reconheçam que a mudança climática está acontecendo, também semearam a dúvida ou subestimaram a conexão entre a atividade humana e suas consequências, ou sugeriram que ainda há muita incerteza para começar a agir. O efeito geral dessas afirmações é confundir ou impedir o progresso.

A verdade é que sabemos muito sobre o papel determinante dos humanos nas mudanças climáticas e os governantes certamente sabem mais do que o suficiente para agir. Por exemplo, durante a audiência para assumir a chefia da Agência de Proteção Ambiental do país (EPA, na sigla em inglês), Scott Pruitt disse: “Existe uma variedade de pontos de vista sobre os principais impulsionadores das mudanças climáticas entre os cientistas".

Rex Tillerson, escolhido por Trump para ser o próximo secretário de Estado, comentou: “Concordo com o consenso de que a queima de combustíveis fósseis é uma causa líder para o aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. Eu entendo que esses gases são um fator para o aumento da temperatura, mas não acredito que o consenso científico apoie a sua caracterização como fator-chave”.

Para simplificar: essas opiniões não são precisas e ignoram a ciência estabelecida. Pesquisas mostram que a conexão entre o aumento das concentrações de CO2 e o aquecimento do planeta foi estabelecida há mais de 150 anos. As declarações acima contradizem as conclusões de todas as principais instituições científicas nacionais e internacionais (IPCC, NCA, OMM, Academia Nacional de Ciências e UK MET Office) e contradizem as conclusões dos departamentos e agências que esses nomeados poderão em breve liderar.

Essa é a hora para que os líderes olhem com atenção para a ciência climática e estabeleçam políticas baseadas nas melhores informações científicas disponíveis. Para isso, reunimos abaixo alguns entendimentos fundamentais sobre a ciência climática:

1) A temperatura global aumenta a níveis sem precedentes

  • 2016 foi o terceiro ano consecutive de recorde da média global de temperatura.
  • 16 dos 17 anos mais quentes registrados aconteceram neste século.
  • Nos últimos 40 anos, a temperatura media global esteve acima da média do século 20.
  • Desde 1880, as temperaturas globais aumentaram mais de 1ºC (1.8ºF), enquanto os níveis de dióxido de carbono na atmosfera cresceram de 280 partes por milhão (ppm) para mais de 400ppm.

Dois gráficos mostram CO2 e temperaura

Concentração de dióxido de carbono aumentou ao longo da história, assim como as temperaturas

2) Enquanto as temperaturas globais aumentam, eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes e severos

Como a atmosfera e o oceano aquecem, eles fornecem energia adicional para eventos extremo. Por exemplo, temperaturas mais quentes permitem que a atmosfera mantenha mais a umidade, o que pode levar a chuvas mais pesadas. O derretimento do gelo combinado com oceanos mais quentes leva a um maior nível do mar, o que aumenta o surgimento de tempestades e inundações costeiras:

  • As inundações costeiras provenientes das marés altas aumentaram de 364% para 925% nas três costas dos EUA nos últimos 50 anos.
  • Os fortes eventos de precipitação aumentaram em todas as regiões desde o final da década de 1950.

Mapa dos EUA mostra variação de chuvas

Probabilidade de chuvas muito fortes aumentou em diversas regiões americanas, chegando a 71% na região nordeste.

  • A precipitação recorde que devastou a Louisiana em agosto passado foi uma das seis ocorrências de chuva do tipo “uma a cada mil anos” que aconteceram nos Estados Unidos no ano passado. O dilúvio causou US$ 10 bilhões em danos ao inundar o estado com mais de sete trilhões de galões (3,785 litros) de água (três vezes mais chuva do que o estado recebeu durante o furacão Katrina). Os cientistas descobriram que isso é mais de 40% provável de ocorrer hoje do que em 1900, como resultado da mudança climática.
  • 15 eventos climáticos extremos, cada um custando US$ 1 bilhão ou mais, ocorreram nos Estados Unidos em 2016, causando US$ 46 bilhões em danos agregados. Mesmo com o ajuste da inflação, quatro dos cinco eventos climáticos extremos que geraram custos bilionários nos Estados Unidos ocorreram depois de 2010.

3) A atividade humana é a causa principal das mudanças climáticas

Cientistas afirmam que é extremamente provável que o aumento das emissões de gases de efeito estufa resultante da atividade humana causou mais da metade do aumento da temperatura observado nos últimos 60 anos, tornando esse o maior causador das mudanças climáticas.

Quando os modelos só incluem os causadores naturais das mudanças climáticas, como a variabilidade natural e as erupções vulcânicas, eles não reproduzem o recente aumento na temperatura. Apenas quando é incluído o crescimento das emissões de gases de efeito estufa proveniente das atividades humanas é que as mudanças observadas podem ser replicadas.

Diferença entre aumento da temperatura provocado pela ação humana e natureza

Gráfico compara o aumento real da temperatura (em preto) observado nos últimos 100 anos em comparação com a ação natural (em azul) e depois incluindo a ação humana (em rosa)

Enquanto isso, observações durante os últimos 40 anos indicam com alta confiança que o aquecimento nos oceanos, assim como as perdas glaciais em áreas como a Groelândia, representam a esmagadora maioria do aumento do nível do mar. De fato, o impacto da aquecimento pela ação humana é generalizado: no oceano, nas mudanças do ciclo global da água, nas reduções de neve e gelo, no aumento dos níveis do mar e em diversos eventos climáticos extremos.

4) Sem ação, a situação está prestes a piorar

O que temos testemunhado é apenas uma pequena amostra do que está por vir se não houver redução das emissões. Cientistas descobriram:

  • É virtualmente certo que aumentos de temperatura serão mais frequentes e extremos frios menos frequentes na maioria das áreas terrestres.
  • Ondas de calor muito provavelmente acontecerão com maior frequência e durarão mais.
  • As regiões do Oeste Americano, especialmente o sudoeste, devem se tornar mais secas.
  • O oceano está se tornando tão ácido e tão rapidamente que não está claro como a vida oceânica irá se adaptar.
  • Espera-se que a pecuária e a produção de peixe diminuam, assim como muitas outras produções, como resultado de períodos de chuva alterados, condições climáticas extremas e aumento das pragas.
Momento de agir

Está extremamente claro que se os seres humanos continuarem a queimar combustíveis fósseis, derrubar florestas e construir edifícios de alto gasto de carbono e ineficientes em energia, entre outras atividades que disparam gases de efeito estufa para a atmosfera, produzirão um clima que o nosso planeta não viu desde o surgimento da civilização humana.

Embora não possamos prever com exatidão como os impactos da mudança climática vão se desenvolver, isso não significa que não tenhamos mais do que informações suficientes para agir. A maioria de nós toma precauções razoáveis e investe em seguros para incêndios ou inundações, a fim de reduzir os riscos em nossas próprias vidas. Certamente, esperamos que os governos nos protejam contra as ameaças da sociedade - se estão relacionadas com a segurança nacional ou pandemias - mesmo quando a informação não é perfeita. Por isso, também precisamos que os governos continuem a definir políticas que tornem as pessoas, as infraestruturas e as empresas mais seguras contra a ameaça das alterações climáticas.

A ciência também nos diz isso: podemos evitar os piores riscos das mudanças climáticas ao reduzir as emissões e passar para uma economia de baixo carbono. Esperamos que os responsáveis pela proteção da saúde humana e do meio ambiente enfrentem os fatos. A verdade é que a ameaça é muito grave para ignorar.