
GT de Sustentabilidade do G20 busca mudar a narrativa sobre o financiamento da adaptação
A cada ano, os impactos climáticos ficam mais intensos e deixam rastros cada vez maiores de impactos em vidas humanas – e os países em desenvolvimento, geralmente, são os que mais têm dificuldades de responder a essas crises. O G20 está discutindo esse assunto no Grupo de Trabalho Sustentabilidade Climática e Ambiental (GT de Sustentabilidade), que tem como um de seus quatro eixos temáticos a adaptação preventiva e emergencial frente a eventos climáticos extremos.
Em reunião no início de outubro no Rio de Janeiro, os ministros de Meio Ambiente do G20 que fazem parte do GT de Sustentabilidade firmaram um acordo em que assumem o compromisso de promover uma transformação na maneira com que o tema da adaptação climática é tratado. De acordo com o texto, os ministros se comprometem a "mudar a narrativa de que medidas de adaptação climática são caras demais e que concorrem com as prioridades de desenvolvimento para uma [narrativa] em que a adaptação seja um ingrediente central do desenvolvimento social e econômico".

A grande questão é que esse tipo de investimento ainda é interpretado como um custo, quando na verdade é uma economia quando se compara com não agir a respeito. Além disso, são investimentos que proporcionam enormes benefícios sociais e ambientais. Investir em adaptação é ao mesmo tempo suprir demandas históricas de infraestrutura, qualidade de vida e redução de desigualdades.

O WRI Brasil esteve no 4º encontro do GT Sustentabilidade para uma apresentação sobre os benefícios e o custo-benefício de se investir em adaptação. Rogger Barreiros, analista de Socioeconomia e Finanças do Clima, fez uma apresentação da metodologia dos Dividendos Triplos, que contribui para o desenvolvimento de um argumento financeiro robusto para incentivar os países e instituições a aumentar seus investimentos em adaptação. Esse método contribui para tornar mais visíveis os retornos desse tipo de investimento, indo além da questão monetária.
A lacuna do financiamento para adaptação ainda é grande
A questão é que para dar passos concretos em adaptação é preciso de dinheiro – e em montantes significativos. Também por isso, a demanda por financiamento é gigantesca. É preciso aumentar de 10 a 18 vezes o fluxo de financiamento para adaptação em países em desenvolvimento para que possam enfrentar as crises climáticas que já estão ocorrendo. A lacuna é gigantesca: o fluxo foi de US$ 21 bilhões em 2021, mas a necessidade é de cerca de US$ 387 bilhões por ano até 2030. É por isso que na COP29 os países devem chegar a um acordo para uma nova meta global de financiamento climático que seja ambiciosa o suficiente para responder à escala das necessidades dos países em desenvolvimento seja para adaptação ou mitigação.
Uma das grandes discussões sobre esse tipo de investimento é a diferenciação entre projetos de desenvolvimento e de adaptação climática. É importante garantir que projetos de desenvolvimento do tipo que sempre se fez (o chamado “business as usual”) não sejam embalados como projetos de adaptação. Por outro lado, a adaptação climática acaba sendo uma nova forma de fazer projetos de desenvolvimento, que considera as mudanças climáticas em todas as suas camadas.
Financiamento para adaptação demanda novas abordagens
É dentro desse contexto que o WRI Brasil está trabalhando em um novo estudo para avaliar os benefícios dos investimentos em adaptação climática, expandindo a análise anterior feita em 2022. Com ênfase para quatro setores – agricultura, saúde, infraestrutura e água – em 13 países, o trabalho dará maior ênfase na análise de retorno sobre investimento (ROI).
São três categorias de dividendos analisados: perdas evitadas, benefícios econômicos e de desenvolvimento induzido e benefícios sociais e ambientais adicionais. O principal argumento apresentado ao GT de Sustentabilidade do G20 foi o de que muitas vezes os benefícios da adaptação são subestimados já que tradicionalmente o foco está nas perdas evitadas. Ainda que iniciais, dados de projetos já avaliados utilizando-se a metodologia dos Dividendos Triplos mostram que os benefícios econômicos de desenvolvimento induzido e os benefícios sociais e ambientais são igualmente importantes e muitas vezes duradouros – chegando, em média, a ser 50% maiores que as perdas evitadas.
Também foi reforçado na apresentação que uma das maiores vantagens da metodologia que avalia os dividendos triplos é justamente permitir que os tomadores de decisão vejam o quadro completo dos benefícios gerados pelos investimentos em adaptação, ajudando a superar a percepção incompleta de que adaptação é um custo adicional, quando na verdade é a melhor ação.
Foi destacada também a estratégia de financiamento misto, em que os custos e benefícios do projeto são compartilhados entre setores público e privado, fato que pode incentivar parcerias público-privadas e atrair mais investimentos do setor privado para adaptação climática.
Declaração será encaminhada aos chefes de Estado e de governo
A Declaração Ministerial do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Climática e Ambiental, que contou com adesão unânime dos países presentes, reforçou o compromisso coletivo dos países do G20 com relação a temas sensíveis como justiça climática e transição justa, biodiversidade e conservação de ecossistemas, financiamento climático e ambiental, oceanos e economia azul além de outros nove temas relacionados a ação climática e a sustentabilidade ambiental.
Em relação ao financiamento, houve o reconhecimento da urgência de aumentar o financiamento climático e a mobilização de recursos, além da exploração de mecanismos financeiros inovadores (sendo o financiamento público necessário para alavancar os investimentos). Apesar da linguagem positiva, a declaração também tem lacunas como a falta de menção a compromissos vinculantes para o financiamento ou mesmo metas quantitativas claras, além de não incluir detalhes sobre como os países irão criar um ambiente favorável para aumentar a participação de investidores privados. Por fim, também não houve a menção de soluções concretas para superar a desigualdade no acesso dos recursos e de mecanismos de acompanhamento ou transparência para monitorar o fluxo de recursos financeiros.
Considerado um importante passo no reconhecimento da necessidade de escalar recursos financeiros para combater as mudanças climáticas, a declaração deve ser encaminhada aos chefes de Estado e de governo, que se reunirão na Cúpula da Presidência do G20, em novembro, também no Rio de Janeiro. Também há expectativas de que as declarações e recomendações do G20 sejam encaminhadas aos respectivos órgãos responsáveis da UNFCCC de modo a integrar o debate e negociação climática que estar por vir na COP 29.