Durante o mês de outubro, religiosos católicos se reuniram no Vaticano para o Sínodo da Amazônia, um importante debate sobre o papel da Igreja Católica e dos fiéis em relação à maior floresta tropical do mundo.

O encontro resultou em uma série de recomendações que dizem respeito ao mundo religioso dos católicos, como o ordenamento de homens casados ou a ampliação do papel das mulheres na Igreja. Mas também houve importantes recomendações sobre a construção de um caminho para a sustentabilidade na Amazônia.

Os religiosos não estão sozinhos. Quando o assunto é sustentabilidade na Amazônia, eles caminham lado a lado do que há de mais avançado na ciência. Pesquisadores e cientistas mostram a necessidade de se promover uma bioeconomia na Amazônia para gerar emprego e renda para as populações locais e produzir de forma sustentável e sem destruir a floresta.

O que disseram religiosos e cientistas neste outubro em que a Amazônia estava no foco das discussões? Confira abaixo.

O que dizem os religiosos

Um sínodo, no catolicismo, é uma reunião de religiosos para debater um tema específico, geralmente convocada pela autoridade máxima, o papa. O Sínodo da Amazônia foi convocado pelo Papa Francisco para que religiosos que conhecem, vivem e atuam em comunidades dos nove países amazônicos pudessem expor os desafios da região e oportunidades para o futuro.

As discussões de quase um mês entre esses religiosos resultaram num documento final onde eles expõem um diagnóstico da região – tanto do ponto de vista das atividades religiosas quanto em relação à sociedade e ao meio ambiente. O diagnóstico condena o atual modelo econômico predominante na Amazônia, um modelo de produção predatória que resultou no desmatamento de 17% de toda a floresta na região, na emissão de gases que provocam as mudanças climáticas e na criminalização de líderes indígenas e ambientalistas.

Além disso o texto final aponta novos caminhos para o futuro da Amazônia. Os religiosos apresentam ideias de como promover o desenvolvimento para as populações locais sem comprometer a floresta.

“Os especialistas mostram que utilizando ciência e tecnologia avançadas para uma bioeconomia inovadora de florestas em pé e de rios que fluem, é possível ajudar a salvar a floresta tropical, proteger os ecossistemas da Amazônia, as tradições dos povos indígenas e, ao mesmo tempo, promover atividades econômicas sustentáveis”, diz o documento final do Sínodo (originalmente em espanhol). O texto, agora, será analisado pelo próprio Papa Francisco, e pode ser incluído ainda neste ano em uma Exortação Apostólica assinada pelo papa.

O que dizem os cientistas

A ideia de incentivar uma bioeconomia na Amazônia não apareceu por acaso no texto do Sínodo da Amazônia. O cientista Carlos Nobre, um dos brasileiros que fez parte do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2007, apresentou o conceito de bioeconomia na abertura do encontro no Vaticano.

Uma bioeconomia, no conceito de Nobre, é a produção econômica de produtos da floresta em pé, como a castanha, o açaí ou o babaçu, por exemplo. Segundo o pesquisador, os produtos da floresta podem ter rendimento e eficiência muito melhores do que uma pecuária de baixa intensidade que é hoje praticada na Amazônia, com a capacidade de gerar emprego e renda para a população local e manter a floresta viva e produtiva.

Nobre defende um modelo de desenvolvimento que vá ainda além. Ele sugeriu, junto com outros cientistas em uma pesquisa publicada em 2016 pela revista científica PNAS, que se desenvolvesse uma quarta revolução industrial com base na bioeconomia. Essa Amazônia 4.0 misturaria os avanços da tecnologia digital com a internet das coisas e a biotecnologia. As plantas da Amazônia podem guardar segredos como princípios ativos para novos fármacos, óleos e essências ou mesmo matéria-prima para tecnologias do futuro. Destruir a floresta para transformá-la em pasto, como ocorre hoje, seria abrir mão de um imenso potencial tecnológico para as próximas décadas.

Incluir a floresta na economia

A fala de religiosos e cientistas sobre a Amazônia apontam um mesmo caminho: é possível resolver os problemas da região, gerar riqueza e manter a floresta em pé ao mesmo tempo. Para isso, é necessário incluir a floresta no nosso modelo de produção econômica.

Uma quarta revolução industrial pode estar, por enquanto, apenas no papel, mas incluir a floresta em meios produtivos já é uma realidade. O programa de Florestas do WRI Brasil incentiva a adoção de modelos que misturam produção agrícola com plantio de árvores, como os Sistemas Agroflorestais, por exemplo. O caminho para uma bioeconomia passa, necessariamente, pelo controle do desmatamento e pela restauração florestal. O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Essas florestas regeneradas e restauradas podem apontar o caminho para uma nova economia florestal na Amazônia.