Produtores rurais da região de Mariana (MG) estão se tornando protagonistas de uma transformação nos modelos de produção agropecuária que pode servir de modelo para Minas Gerais e para o Brasil. Sistemas agroflorestais (SAFs), manejo de pastagem ecológica (MPE) e silvicultura de espécies nativas com finalidade econômica vêm sendo implementados em municípios da bacia do Rio Doce que foram atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015.


<p>quintal agroflorestal</p>

Maria Dominiguite é moradora de Ponte Nova, próximo de onde os rios Carmo e Piranga se unem dando origem ao Doce. Em sua propriedade, a horta de produção abundante é sombreada por coqueiros e mangueiras. Sempre cultivou de tudo. Em 2019, começou a reorganizar o quintal em um SAF que vai abranger meio hectare.


<p>sistema agroflorestal</p>

Na propriedade de Maria, o SAF foi implantado recentemente em uma área inclinada, antes sujeita à degradação e à erosão. No início, o sistema não impressiona pela beleza. Com o tempo, a cobertura vegetal e arbórea vai tornar a área produtiva e mais resiliente sob chuvas fortes, comuns na região.


<p>jiló de sistema agroflorestal</p>

Mandioca, jiló (foto acima), abóbora, coco, mamão, feijão, quiabo, couve, pimenta, salsa e amendoim crescem junto a árvores como mangueiras, limoeiros e ipês. Além da diversificação de espécies arbóreas e agrícolas, o SAF inclui manejo (carpinas, plantios, podas) que otimiza a produção econômica e as funções ecológicas nas áreas.


<p>coco de sistema agroflorestal</p>

As grandes mangueiras foram podadas, equilibrando sombreamento e insolação de acordo com as espécies plantadas nas proximidades. “Olha a jabuticaba. Olha quanto cacau! Tem que cortar um bocado de coisa mesmo", pondera Dona Maria, que tem aprendido como o emprego de podas pode beneficiar todo o sistema.


<p>Alisson com mudas de árvores nativas</p>

Alisson Patricio Cota espera que seus cacaueiros também produzam assim. Morador de Santa Bárbara, ele iniciou uma agrofloresta com espécies da Mata Atlântica na propriedade da família em Barra Longa. Jatobás, cotieiras, sapucaias, cacau e siriguelas crescem em consórcio com mandioca, banana e abacaxi.


<p>silvicultura de nativas</p>

Em uma parte mais alta da propriedade, a silvicultura de espécies nativas para finalidade econômica começa a ganhar forma. Despontam espécies pioneiras plantadas no início de 2019, que garantirão insolação e solo mais propícios para as recém-plantadas mudas de espécies arbóreas de alto valor comercial.


<p>silvicultura</p>

A silvicultura permite ao produtor plantar árvores para, no futuro, colher madeira de lei de qualidade sem recorrer ao desmatamento de áreas naturais. Espécies de alto valor como jequitibá-rosa, ipê felpudo, angico vermelho e vinhático levam décadas para crescer e são uma poupança para daqui a 20 ou 30 anos.


<p>mata vista de dentro</p>

À medida que as mudas se desenvolvem, capturam carbono, favorecem a absorção da água pelo solo e evitam o assoreamento dos rios. Alisson vislumbra um futuro em que seu vizinho, dono de pastos degradados, também aderisse à silvicultura de espécies nativas. “A nascente ia aumentar muito", aposta


<p>nascente</p>

Na propriedade de José Geraldo Carneiro, a principal nascente já foi cercada e forma um pequeno lago. A segunda maior (foto acima) está na fila. O cercamento impede que o gado pisoteie as áreas e prejudique a qualidade e a quantidade de água.


<p>ordenha do leite</p>

Também em Barra Longa, o Sítio da Onça tem despontado pela produção de leite. Vagner Carneiro, filho de José, comemora: o acesso a tecnologias de reprodução, aliado ao manejo de pastagem ecológica (MPE), tem aumentado a produtividade. Uma vaca foi premiada recentemente por dar 39 litros em um dia.


<p>manejo de pástagem ecológica</p>

O MPE parte do reconhecido método Voisin incrementado com cercamento elétrico de baixo custo (o produtor aprende a construir e manter cerca e dispositivos). A técnica Voisin consiste na rotação diária do gado por piquetes: enquanto pastejam em uma quadra, a vegetação nas demais se recupera.


<p>manejo de pastagem ecológica</p>

Com o cercamento recém-finalizado, a propriedade dos Carneiro já mostra a contribuição do MPE para a qualidade do pasto. O recomendado pelo método Voisin é que o gado fique até um dia em cada piquete, mas os animais não têm dado conta de comer tanto, e o pasto recém-liberado segue pleno de capim.


<p>vaca em m p e</p>

Sobre as iniciativas

Os SAFs, MPE e silvicultura de espécies nativas de Dona Maria, Alisson, José e Vagner são parte de 25 unidades demonstrativas (UDs) instaladas em 22 propriedades rurais nos municípios de Mariana, Barra Longa, Ponte Nova, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado. O trabalho é resultado de uma parceria entre WRI Brasil, Fazenda Ecológica e Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF) com a Fundação Renova, organização responsável por implementar as ações de compensação e restauração na região afetada pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015.

Produtoras e produtores foram selecionados levando em conta o interesse demonstrado nas práticas sustentáveis e a disponibilidade em participar de capacitações e receber visitas de técnicos que fazem o acompanhamento da implementação. Compreendendo uma área total de cerca de 150 hectares, as UDs são “sementes”: têm por objetivo disseminar as boas práticas agrícolas, silviculturais e pastoris na região, mostrando que, além de restaurarem paisagens, geram renda para o produtor – e podem ser replicadas não só por produtores da região, mas de todo o Brasil.

Saiba mais na página do projeto Renovando Paisagem.