![Foto: Claudio Soares](/sites/default/files/styles/500x300/public/2024-12/5N6A4937.jpg?h=2992ba0a&itok=k3EAN8Ny)
Por que o combate à desertificação se tornou um tema estratégico na Caatinga
A desertificação é uma ameaça silenciosa que compromete a saúde dos ecossistemas, a produtividade agrícola e a qualidade de vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. No Brasil, o fenômeno é particularmente preocupante na Caatinga, um bioma que ocupa cerca de 11% do território nacional e abriga comunidades que dependem diretamente de seus recursos naturais.
A COP 16 da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), que acontece em Riad, na Arábia Saudita, entre 2 e 13 de dezembro de 2024, é o principal evento global dedicado à luta contra a degradação de terras e a mitigação dos efeitos da seca. Diferentemente de outras COPs, como a do Clima ou da Biodiversidade, esta se concentra exclusivamente nos desafios enfrentados por regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas.
No Brasil, a desertificação se concentra no semiárido, onde estão localizadas áreas do bioma Caatinga. O evento é uma oportunidade para apresentar soluções, como programas de restauração e monitoramento ambiental, além de fortalecer parcerias internacionais para enfrentar a crise climática e social que a degradação das terras provoca.
A desertificação na Caatinga
A desertificação ocorre em regiões áridas e semiáridas devido à interação entre fatores climáticos e práticas humanas insustentáveis. Na Caatinga, 85% do semiárido brasileiro está em processo de desertificação moderado e 9% está efetivamente desertificado, de acordo com dados do Instituto Nacional do Semiárido (INSA). Os estudos apontam que algumas áreas previamente classificadas como semiáridas agora apresentam características de terras áridas, indicando uma aceleração no processo de degradação.
Essas mudanças impactam diretamente a biodiversidade e a economia local, além de intensificar problemas como escassez de água e perda de solo fértil. O monitoramento é uma ferramenta essencial para compreender essas alterações e orientar a tomada de decisão.
Monitoramento como ferramenta estratégica
O monitoramento ambiental tem sido uma ferramenta indispensável para compreender e combater a desertificação na Caatinga. Ele permite identificar tendências de degradação e avaliar os impactos de intervenções no bioma. Um estudo do Mapbiomas Caatinga, em parceria com o WRI Brasil, revelou que a cobertura vegetal nativa da Caatinga perdeu mais de 50% de sua extensão original. Essa perda acelerada compromete os serviços ecossistêmicos do bioma, intensificando os efeitos da degradação do solo e da aridez.
O uso de dados de satélites, mapas detalhados e estudos de campo auxiliam na identificação de áreas prioritárias para restauração e na medição do progresso de projetos em andamento. Além disso, o monitoramento contínuo fornece subsídios para políticas públicas que promovem a recuperação da vegetação nativa e incentivam práticas agrícolas sustentáveis, como o manejo adequado do solo. Essas ações são fundamentais para evitar a transformação do bioma em um deserto irreversível e para aumentar a resiliência das comunidades locais diante das mudanças climáticas.
Histórias da Caatinga na COP 16
Entender a desertificação na Caatinga é também compreender as histórias das comunidades que resistem nesse bioma. Durante a COP 16, um vídeo produzido pelo WRI Brasil em parceria com IDH Brasil, Rede para restauração da Caatinga (Recaa) e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) conta relatos de agricultores, quilombolas e povos indígenas que enfrentam os desafios da degradação do solo. Essas histórias são um lembrete da conexão intrínseca entre o meio ambiente e as pessoas que dele dependem.
Importância da ação coletiva
O combate à desertificação exige ação integrada entre ciência, políticas públicas robustas e cooperação global. No Brasil, o Programa Raízes da Caatinga, conduzido pela IDH, em parceria com o WRI Brasil e a Diaconia, é um exemplo prático de como unir esforços para restaurar ecossistemas degradados. O programa promove o manejo sustentável da vegetação nativa, apoia pequenos produtores e comunidades locais e fomenta cadeias de valor que conciliam conservação e geração de renda.
Com o fortalecimento do monitoramento, a promoção de práticas sustentáveis e a valorização das comunidades locais, é possível reverter a degradação e proteger o futuro da Caatinga.