Este artigo foi escrito por Andrew Steer e Grant F. Reid e publicado originalmente no Fórum Econômico Mundial

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Números altos podem conduzir mudanças, então aqui vai um: 800 mil. É o número de anos que passaram desde a última vez em que a atmosfera terrestre esteve tão carregada de dióxido de carbono como agora. O aumento acentuado da concentração desse gás na atmosfera realça a necessidade de uma economia sustentável em escala global, pelo menos se quisermos evitar os impactos mais graves das mudanças climáticas ainda neste século.

Novas políticas e tendências de mercado mostram que a transição para uma economia de baixo carbono, como previsto pelo Acordo de Paris em 2015, está ganhando força ao redor do mundo – mas não rápido o suficiente. Os compromissos assumidos pelos países no Acordo só conseguirão reduzir em cerca de um terço as emissões necessárias para manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais. O os outros dois terços, de acordo com o relatório da ONU Emissions Gap, de 2017, dependem de ações rápidas de curto prazo e ambições nacionais mais robustas a longo prazo.

As empresas têm um papel crucial na escala de descarbonização de que o mundo precisa. De fato, algumas grandes empresas, com cadeias internacionais, emitem o equivalente a países inteiros: a Mars, por exemplo, tem uma pegada de carbono similar à do Panamá. Com tamanha escala, vem a responsabilidade. Tornando-se mais inovadoras e eficientes, trabalhando com fornecedores locais, algumas empresas estão encontrando maneiras de reduzir os custos e as emissões de carbono.

Entre agora e 2030, o mundo gastará US$ 90 trilhões em infraestrutura. Como esses investimentos serão feitos fará a diferença, já que tanto podem tornar cidades, energia, agricultura e outros setores mais sustentáveis quanto podem seguir utilizando tecnologias ultrapassadas que lançam ainda mais carbono na atmosfera e mantêm as temperaturas subindo. Agora é o momento das indústrias se transformarem e assumirem posição para criar um mundo mais sustentável. Empresas que priorizam tecnologias limpas, como energias renováveis, e evitam investir em infraestruturas de alto carbono não apenas são ambientalmente responsáveis: estão garantindo seu crescimento no futuro ao considerar riscos de longo prazo e se colocar como líderes da economia de baixo carbono.

Investir em operações sustentáveis é ao mesmo tempo a coisa certa e a mais inteligente a ser feita. A Mars, citada anteriormente, já começa a ver os benefícios de baixar os preços da energia renovável e a economia que resulta de utilizar tecnologias limpas. Em paralelo, companhias que abraçam a sustentabilidade mostram que levam suas responsabilidades a sério, o que é fundamental para clientes, funcionários, governos e organizações não governamentais.

Embora a liderança nacional permaneça primordial, as empresas são parceiros essenciais para os governos no trabalho para cumprir as metas climáticas. Na plataforma global da NAZCA, estabelecida pela UNFCCC, por exemplo, empresas e investidores registraram mais de 2,6 mil compromissos, desde o objetivo de utilizar energia 100% renovável até significativas reduções de emissões. Mais de 650 empresas, totalizando um capital de mercado superior a US$ 15 trilhões, estão implementando ações climáticas robustas através da campanha Take Action, da coalizão We Mean Business. E na vanguarda estão empresas que se comprometeram a estabelecer suas metas com base em evidências científicas. Desde dezembro de 2015, o número de organizações integrando a iniciativa Science Based Targets mais do que triplicou, somando hoje 338 empresas, incluindo nomes conhecidos como Mars, Hewlett Packard, PepsiCo, Carlsberg, Fujitsu, GlaxoSmithKline, Nestlé, Pfizer, Walmart e Xerox.

Este será um ano chave para ação climática, com as novas regras e orientações para implementar o Acordo de Paris, que devem ser finalizadas até o fim de 2018. Os países também se reencontrarão para fazer um balanço de seus planos climáticos, em um processo que, no final do ano, deve resultar em sinalizações claras – junto a empresas, cidades e estados – de que fortalecerão seus compromissos até 2020 e impulsionarão a mudança em larga escala de que o mundo precisa.

O setor privado tem nas mãos uma oportunidade única: a de ajudar a moldar essas estratégias climáticas, exigindo uma posição clara dos governos, o que levará as empresas a investirem com mais confiança na economia de baixo carbono. Daqui até a próxima COP, em dezembro, as empresas devem se manifestar e reforçar o fato de que os riscos financeiros e climáticos estão intimamente interligados, da mesma forma que a ação climática e a prosperidade também podem – e devem – andar juntas.

Empresários também podem fazer com que suas metas corporativas sejam complementares ou relevantes para as metas nacionais, como indicado no Global Action Playbook 2018, desenvolvido pelo Compacto Global da ONU e pelo WRI. Quando as empresas explicam como o esforço de reduzir suas emissões gera benefícios sociais e econômicos, também encorajam políticas mais inteligentes e ações mais robustas por parte dos governos. Quanto mais organizações e instituições estiverem engajadas em um diálogo construtivo sobre ações políticas, mais fácil será para os países cumprirem seus compromissos.

O que acontecer neste ano vai mostrar quais líderes de fato compreendem os riscos inerentes à ação climática – e as enormes oportunidades que vêm com a transição para um futuro de baixo carbono, mais próspero e sustentável.