De qualidade do ar aos oceanos: 6 temas críticos de meio ambiente e desenvolvimento para acompanhar em 2018
Este artigo foi escrito por Sarah Parsons e publicado originalmente no WRI Insights.
A grande questão para 2018 é se as tendências preocupantes do ano passado para o meio ambiente e o desenvolvimento – aumento das emissões globais de carbono, desastres naturais de vários bilhões de dólares, abandono por parte do presidente dos EUA, Donald Trump, da ação climática – continuarão ou tomarão uma direção mais positiva. Andrew Steer, presidente e CEO do WRI, destacou durante a apresentação do Stories to Watch na última semana, em Washington, que o desenvolvimento em vários tópicos principais determinarão essa resposta.
Abaixo estão as seis histórias para acompanhar de perto em 2018:
1) Dias de ar ruim
Em novembro de 2017, respirar o ar em Nova Deli por um dia era o mesmo que fumar 50 cigarros (Foto: Onewhohelps/Wikimedia Commons)
"Em novembro, respirar o ar de Nova Delhi, na Índia, durante apenas um dia era a mesma coisa que fumar 50 cigarros”, disse Steer. A cidade não é a única com o céu poluído – uma em cada nove mortes globalmente são causadas pela poluição do ar atualmente, tornando esse um dos principais problemas ambientais para a saúde.
Será que os governos e as novas tecnologias controlarão essa crescente crise?
A China já está limitando a produção de aço e reduzindo o uso do carvão – a poluição do ar em Pequim caiu 20% em 2017. Enquanto a Índia avançou com políticas como planos de ação nacionais e urbanos e padrões mais limpos de combustível, não está claro se eles serão devidamente aplicados.
Enquanto isso, o monitoramento está melhorando. Os sensores pessoais de poluição do ar, como o PurpleAir, da Colômbia, permitem que os cidadãos meçam e relatem os níveis de poluição quase em tempo real. O satélite Sentinel-5P, lançado no ano passado, fornecerá mais dados em 2018. "Não temos dados consistentes sobre poluição do ar nas cidades de todo o mundo", disse Steer. “Agora teremos isso a partir do espaço".
2) O futuro do petróleo
Areia betuminosa em Alberta, Canadá (Foto: Eryn Rickard/Wikimedia Commons)
Apesar do recente desenvolvimento da energia renovável, "As grandes do petróleo ainda são muito grandes", lembrou Steer. Cinco das 12 maiores empresas do mundo em receitas são as companhias de petróleo.
No entanto, forças disruptivas estão trabalhando para destronar as gigantes do petróleo. Será que elas moverão a indústria em uma direção mais verde?
As grandes montadoras, como a Volvo, a Ford e a GM, estão aumentando suas frotas de veículos elétricos, enquanto o Reino Unido, a França, a Noruega e os Países Baixos proibiram novos carros a gasolina depois de 2040. Mais de 150 deliberações de acionistas provocaram as companhias de petróleo a abraçar a sustentabilidade, com pedidos como a divulgação dos riscos climáticos. E a companhia de seguros AXA retirou as areias betuminosas de seu portfólio.
As companhias de petróleo estão começando a reagir. Exxon irá divulgar seus riscos climáticos, Shell e StatOil se comprometeram a reduzir a intensidade das emissões, mas ainda é preciso mais ação.
3) Progresso na ação climática internacional
Campo de energia solar em Rajasthan, Índia (foto: Bkwcreator/Flickr)
Trump pode ter esvaziado as regulamentações ambientais nacionais e prometeu retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, mas é claro que o resto do mundo está avançando com a ação climática. Quem assumirá a liderança?
Fique atento a ações da Europa, China e Índia. Apesar das emissões e do uso do carvão na China terem aumentado no ano passado, o país também é líder mundial de investimento em energia renovável e lançará um mercado nacional de carbono neste ano. Será necessário conciliar essas duas realidades para garantir o status como líder global do clima. A Índia tem alguns dos mais ambiciosos compromissos de energia renovável, entre eles instalar 100 gigawatts de energia solar até 2022. O país já fez progressos significativos na expansão de sua capacidade solar. Será que vai manter o ritmo e seus ambiciosos objetivos? A Cúpula Global de Ação Climática em setembro na Califórnia e a COP24 na Polônia, em dezembro, serão momentos-chave para que os países deem um passo adiante.
Enquanto isso, cidades, estados e empresas dos EUA que representam US$ 10 trilhões declararam seu compromisso contínuo com a ação climática. Esse impulso continuará a ser construído em 2018 diante da falta de ação a nível federal?
4) Emissões negativas
A narrativa sobre a ação climática internacional geralmente se concentra em quanto os países precisam reduzir suas emissões de dióxido de carbono para evitar os piores impactos nas mudanças climáticas. “O que não é dito é que, mesmo que você se dedique incrivelmente a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, não é suficiente, especialmente se você quiser limitar o aumento da temperatura global em 1,5 ºC”, ressaltou Steer. “Você tem que ir mais longe e sugar o carbono que já está no céu e transferi-lo para a Terra".
A questão é: os líderes prestarão atenção nisso e, em caso afirmativo, como eles irão retirar esse carbono da atmosfera?
O caminho mais fácil e econômico para chegar a emissões negativas é plantar e conservar árvores, arbustos, culturas e solo. A restauração florestal não está recebendo investimentos suficientes, mas há mais de 2 bilhões de hectares de terra degradada globalmente - uma área do tamanho da Austrália - potencialmente aptos para a restauração.
Outros métodos incluem estratégias mais caras e técnicas, como a bioengenharia combinada com a captura e o armazenamento de carbono (BECCS), melhoramento climático, captura direta de ar e muitas outras. A primeira usina de energia de gás com zero emissões do mundo abrirá no Texas, em 2018, o que poderia dar um sinal sobre o potencial para esse tipo de alternativa ganhar força.
5) Água e conflitos
Trinta e três países enfrentarão escassez de água até 2040 (foto: Senior Airman Lael Huss/Extreme Joint Task Force, Horn of Africa)
A maioria das pessoas aponta a dinâmica sociopolítica e a economia como as razões por trás das crises humanitárias, mas a falta de água é muitas vezes outro gatilho oculto e subestimado. A seca precedeu a guerra civil da Síria. A secagem do lago Chade causou o deslocamento de mais de 2 milhões de pessoas. Sem intervenções, a situação deve piorar: as projeções mostram que 33 países enfrentarão crises hídricas graves até 2040.
Ao mesmo tempo, o mundo está passando por um grande progresso no monitoramento da água. Alertas preventivos poderiam impedir futuros conflitos?
O Conselho de Segurança da ONU pode adotar uma resolução climática no final deste ano que reconhecerá formalmente o papel da escassez de água na prevenção de conflitos. Plataformas emergentes como a ferramenta de mapeamento Aqueduct podem fornecer dados para possibilitar um melhor gerenciamento dos recursos: ele analisa o cenário atual e futuro da água e, em breve, analisará o impacto potencial da disponibilidade de água no cultivo de culturas básicas em todas as regiões do mundo.
6) Alta nos níveis dos oceanos
Especialistas preveem que os oceanos terão mais plástico do que peixe em 2050 (foto: Belgueblimohammed2013/Wikimedia Commons)
Metade dos corais do mundo foram perdidos pelo branqueamento; Cerca de 60% das espécies pesqueiras já foram pescadas em toda a sua capacidade; e os especialistas preveem que os oceanos terão mais plástico do que peixes em 2050. “Essa é uma enorme tragédia para todos", disse Steer.
Os oceanos estão subindo – literalmente, em termos de níveis do mar – e também em agendas políticas. Será suficiente para salvar os mares?
Quarenta países já proibiram ou restringiram o uso de sacolas plásticas, que muitas vezes acabam na água. No ano passado, a ONU nomeou um Enviado Especial para os Oceanos, enquanto os países fizeram 1.400 compromissos com a proteção dos oceanos na Conferência do Oceano da ONU.
Neste ano, o Canadá prometeu colocar os oceanos na agenda da próxima reunião do G7. Veremos novas iniciativas para melhorar a gestão dos oceanos no Fórum Econômico Mundial no final deste mês. E as negociações podem começar para um Tratado da ONU sobre o Alto Mar. As pesquisas mostram que o mundo precisa proteger 30% dos oceanos do mundo para garantir a sustentabilidade. Líderes políticos e empresariais fariam bem em prestar atenção. Os recursos oceânicos equivalem a impressionantes US$ 24 trilhões.
Veja Andrew Steer falando sobre as seis histórias em entrevista para a rede de TV C-SPAN: