O que o mundo ainda pode fazer para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C
Quando o assunto é mudanças climáticas, as manchetes às vezes parecem contraditórias. Em um dia, lemos sobre incêndios florestais catastróficos causando estragos pelo mundo; no dia seguinte, temos um artigo otimista sobre o rápido avanço da energia solar e eólica. Juntas, essas narrativas podem dificultar a compreensão do panorama geral da ação climática. Os países estão de fato implementando soluções efetivas se as emissões de gases do efeito estufa (GEE) continuam aumentando? Em que áreas o mundo tem progredido o suficiente para superar a crise climática e quais são as lacunas? Que medidas específicas são necessárias para entrarmos no rumo certo?
Para ajudar a responder essas perguntas, a edição de 2023 do relatório State of Climate Action traça um roteiro detalhado das ações necessárias até 2030 e 2050 para manter o aumento das temperaturas abaixo de 1,5°C, o limite considerado seguro pela ciência para evitarmos impactos ainda mais devastadores e irreversíveis das mudanças climáticas. O relatório estabelece metas específicas que cada setor precisa atingir para cumprir os objetivos do Acordo de Paris e avalia a situação do mundo hoje. A edição deste ano mostra que, dos 42 indicadores avaliados, o mundo está no ritmo certo em apenas um – vendas de veículos elétricos.
Quais indicadores apresentaram os maiores avanços e retrocessos no ano?
Entre os 42 indicadores avaliados, a edição de 2023 do State of Climate Action mostra que a obrigatoriedade de divulgação dos riscos climáticos pelas empresas, as vendas de caminhões elétricos e de veículos elétricos de passageiros registraram os maiores avanços em um único ano. Em 2022, por exemplo, o número de países que obrigam as empresas a divulgarem riscos climáticos passou de cinco (representando 3% das emissões globais de GEE) para 35 (20% das emissões globais). Novas leis na União Europeia e em outros países altamente emissores, como Índia e Japão, contribuíram para esse crescimento.
Por outro lado, os esforços para eliminar o financiamento público para combustíveis fósseis, reduzir o desmatamento e ampliar os sistemas de precificação de carbono são os indicadores que registraram os maiores retrocessos no ano. O desmatamento aumentou pela primeira vez desde 2016, enquanto os subsídios governamentais para combustíveis fósseis quase duplicaram desde 2020, atingindo os níveis mais altos em quase uma década. E, devido à restrição de dados disponíveis para 2021, é provável que essa seja uma subestimativa.
Para mais de metade dos indicadores – desde esforços para eliminar a geração de eletricidade a partir do carvão, cortar as emissões das edificações e reduzir o desmatamento –, o mundo permanece muito distante do ritmo necessário; tão distante que precisamos avançar pelo menos duas vezes mais rápido ainda nesta década. Para outros seis indicadores, as tendências recentes chegam a apontar inteiramente na direção contrária.
Mas nem todas as notícias são ruins: ao longo dos últimos cinco anos, a parcela de veículos elétricos nas vendas de veículos de passageiros cresceu de forma exponencial, a uma taxa média anual de 65% – de 1,6% em 2018 para 10% das vendas em 2022 –, colocando esse indicador no ritmo certo para 2030. Os esforços globais também caminham na direção certa em um ritmo promissor (embora ainda insuficiente) em outros seis indicadores, incluindo os focados na expansão de energia limpa, reflorestamento e na obrigatoriedade, para as empresas, de divulgação de riscos climáticos.
Claro que, para proteger as pessoas e a natureza de incêndios florestais cada vez maiores, secas, tempestades extremas e outros impactos climáticos, é preciso que todos os indicadores estejam no ritmo certo. Para isso, todos os principais setores precisam agir – da produção de alimentos e eletricidade, passando por transportes, construção e indústrias até a conservação de ecossistemas.
Navegue pelo gráfico interativo abaixo e leia mais sobre oito conclusões do relatório que dão um panorama da ação climática hoje – e o que o mundo precisa para entrar no rumo certo.
1. As fontes de energia limpa estão avançando rápido, mas a eliminação da geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis não.
Em 2022, as emissões de dióxido de carbono (CO2) originadas pela geração de eletricidade atingiram um pico histórico, mas o crescimento tanto das instalações quanto da produção de energia renovável sugere que as emissões do setor energético se estabilizaram e podem começar a cair ainda este ano. Tecnologias de zero carbono, como energia solar e éolica, já são maduras e amplamente comercializadas, e o custo da energia renovável, bem como das tecnologias complementares de armazenamento de energia, continua caindo a taxas sem precedentes. Para pelo menos dois terços da população mundial, a energia solar fotovoltaica e a energia eólica onshore (em terra), especificamente, hoje são as fontes mais baratas provenientes de instalações recém-construídas. Em decorrência da queda nos custos, os últimos anos registraram aumentos recordes na adoção dessas tecnologias, com evidências sólidas de um crescimento exponencial e contínuo da energia solar.
Uma notícia encorajadora é que alguns dos cenários de crescimento mais expressivo na geração de energia renovável vêm de países em desenvolvimento, como Namíbia e Uruguai, onde a expansão da energia eólica e solar também ajuda a reforçar a segurança energética e ampliar o acesso à eletricidade. Alcançar metas alinhadas ao limite de 1,5°C, no entanto, exige que essas transformações acelerem de forma substancial – a parcela de energia solar e eólica na geração de eletricidade tem crescido a uma média de 14% ao ano, mas precisa atingir a marca dos 24% ao ano até 2030.
A descarbonização do setor de energia também depende de uma redução rápida na geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis, mas os avanços na eliminação gradual do carvão e do gás estão aquém do necessário. Embora as energias renováveis estejam crescendo rápido, muitos países ainda investem em usinas movidas a combustíveis fósseis. Hoje, estão em operação mais de 2,4 mil usinas elétricas a carvão, além de outras 530 novas usinas previstas. No entanto, para entrar em um rumo condizente com o Acordo de Paris, a participação do carvão na produção de eletricidade precisa diminuir sete vezes mais rápido do que o ritmo atual – o equivalente a desativar cerca de 240 usinas médias por ano até 2030. Em paralelo, os países também devem promover a eliminação gradual do gás fóssil não mitigado a um ritmo mais de 10 vezes mais rápido, para evitar um cenário futuro de emissões intensivas.
2. A mudança para meios de transporte mais sustentáveis, como a bicicleta, ainda precisa avançar, mas as vendas de veículos elétricos estão disparando.
O aumento na renda média da população levou ao aumento também dos deslocamentos feitos de carro e da posse de veículos, causando um crescimento constante nas emissões de GEE do setor de transportes. Em escala global, a posse de veículos passou de cerca de 240 veículos a cada mil habitantes em 2015 para quase 280 veículos a cada mil pessoas em 2020, com as taxas mais altas registradas nos países desenvolvidos.
Não é surpresa, portanto, que os deslocamentos de veículos privados continuem aumentando e permaneçam em um patamar bastante alto em países ricos como os Estados Unidos.
Para reduzir o número de quilômetros percorridos em carros privados, o mundo precisa mudar para modos mais sustentáveis – caminhada, bicicleta e transporte coletivo. Nas principais cidades emissoras, porém, as iniciativas para ampliar ciclovias e a infraestrutura de transporte coletivo permanecem muito aquém do necessário, ainda que estejam na direção certa. Juntas, essas cidades precisam construir 140 mil quilômetros de ciclovias e em torno de 1,3 mil quilômetros de trilhos de metrô e faixas de ônibus por ano até 2030.
Enquanto o avanço na transição para esses meios se mostra um desafio, o mundo progrediu de forma significativa na eletrificação dos modos existentes. As vendas de veículos elétricos de passageiros, por exemplo, avançam no ritmo certo para atingir sua meta de 2030, alinhada ao limite de 1,5°C. Quedas nos custos e melhorias no alcance e na expansão da infraestrutura de carregamento contribuíram para o crescimento exponencial dos últimos anos, com Noruega, Islândia, Suécia, Holanda e China registrando os aumentos mais rápidos. Em compensação, os avanços na descarbonização de meios de transporte de longas distâncias, como caminhões, transporte marítimo e aviação, estão atrasados e precisam de mais investimentos para bater as metas de 2030.
3. Depois de aumentar por décadas, as emissões de GEE do setor de construção finalmente estabilizaram, mas é preciso acelerar a redução.
Para estimular reduções de GEE ainda mais expressivas no setor, o mundo precisa implementar uma estratégia multidisciplinar para melhorar a eficiência energética das edificações, descarbonizar a energia restante utilizada e modernizar os edifícios existentes com tecnologias de carbono zero – além de garantir que novas edificações operem com zero carbono desde a construção.
Também é preciso reduzir as emissões geradas durante a construção e reverter o uso crescente de gases fluorados em sistemas de resfriamento (os quais apresentam um potencial de aquecimento global ainda maior do que o CO2). Dados disponíveis hoje indicam que os esforços nessas frentes, porém, estão fora do ritmo necessário para 2030.
Ainda assim, um recente aumento nas regulamentações de construções, em especial na Europa, sugere que alguns avanços estão em curso. Diante da crise energética após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a União Europeia propôs uma legislação que proibiria a utilização de combustíveis fósseis para aquecimento em edifícios novos e renovados, além de exigir a eliminação completa do uso de combustíveis fósseis para aquecimento em todos os edifícios até 2035. De forma semelhante, as vendas de bombas de calor – uma tecnologia que ajuda a descarbonizar sistemas de aquecimento – continuam em ascensão, registrando aumentos de 120% na Polônia, 38% na Europa e 11% globalmente em 2022. Agora, esses avanços precisam se espalhar pelo mundo.
4. Embora a descarbonização nas indústrias de cimento e aço tenha estagnado, algumas mudanças recentes sugerem que essa maré pode virar.
Desde 2000, as emissões industriais de GEE – que abrangem a produção de materiais como cimento, aço e produtos químicos, além da construção de rodovias e outras infraestruturas – aumentaram mais rápido do que em qualquer outro setor.
É possível reverter essa tendência, mas não existe uma solução mágica para isso. Mitigar as emissões do setor exige diminuir o consumo de produtos como cimento e aço; melhorar a eficiência energética nos processos industriais e eletrificar aqueles que dependem de aquecimento a baixas e médias temperaturas; e desenvolver novas soluções, como o hidrogênio verde, para processos cuja eletrificação é mais complexa. Os esforços para implementar esse roteiro de descarbonização na produção de cimento e aço – duas das indústrias mais intensivas em emissões – permanece fora do ritmo necessário no primeiro caso e, no segundo, avançando na direção oposta. Além disso, melhorias recentes nos dois casos estagnaram, deixando as metas de 2030 completamente fora de alcance.
No entanto, algumas novidades positivas têm despontado nas duas indústrias. A Corporação Financeira Internacional, a maior instituição global de desenvolvimento focada no setor privado de mercados emergentes, recentemente concedeu seu primeiro empréstimo verde para a produção de materiais na África à principal empresa fabricante de cimento do Senegal. O governo da Índia, país que abriga um dos setores industriais que mais crescem no mundo, anunciou que irá estabelecer um esquema de mercado de carbono para ajudar a acelerar a descarbonização das indústrias de cimento e aço, entre outras. E, em âmbito global, os projetos de gasodutos siderúrgicos estão substituindo tecnologias de produção dependentes do carvão por usinas menos intensivas em emissões, com o anúncio de 28 novos projetos a partir de hidrogênio verde entre 2021 e 2022.
5. Conservar florestas, turfeiras e mangues gera benefícios climáticos substanciais a um custo relativamente baixo – mas mesmo assim os esforços para proteger e restaurar esses ecossistemas ainda estão perigosamente longe da direção correta.
Juntas, as florestas, turfeiras e manguezais em todo o mundo armazenam mais de mil toneladas de carbono – e aproximadamente um terço dessas reservas (cerca de 340 gigatoneladas) estão vulneráveis a perturbações, de forma que acabariam liberadas na atmosfera, desencadeando processos de conversão ou degradação. Algumas dessas perdas de carbono podem acontecer muito rápido – e, se uma quantidade assim de carbono for liberada, seria difícil para os ecossistemas se recuperarem em ritmo suficiente para chegar ao zero líquido das emissões de CO2 até a metade do século. Reconstruir esses estoques de carbono levaria de seis a dez décadas para as florestas, mais de um século para os mangues e de séculos a milênios no caso das turfeiras.
É alarmante, portanto, que o mundo tenha perdido cerca de 15 campos de futebol de florestas por minuto em 2022, que 57 milhões de hectares de turfeiras (uma área do tamanho do Quênia) estejam atualmente em processo de degradação e que as áreas costeiras tenham perdido 560 mil hectares de manguezais desde 1999.
Uma onda de eventos recentes, porém, trouxe algumas boas notícias, em especial no que diz respeito às florestas. Desde a COP26, por meio da Declaração de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra, mais de 140 países se comprometeram a conter e reverter o cenário de perda e degradação florestal. Quase 190 países se comprometeram a proteger 30% dos ecossistemas do planeta e a restaurar outros 30% de ecossistemas degradados até 2030. Poucos dias depois da posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva empreendeu uma série de ações para combater o desmatamento na Amazônia brasileira. Na Indonésia, à luz dos níveis historicamente baixos de desmatamento do país, o governo assinou outro acordo de financiamento florestal com a Noruega. E a União Europeia recentemente adotou uma nova regulamentação para combater o desmatamento e a degradação florestal associada à produção de commodities.
Embora essas mudanças sejam promissoras, a história não pode se repetir. Metas provisórias acordadas na Declaração de Nova York sobre florestas e no Desafio de Bonn, por exemplo, ficaram para trás, e os recursos prometidos para a proteção e restauração de ecossistemas ainda precisam ser materializados.
6. Avanços inexpressivos colocam em risco as metas do setor de alimentos e agricultura.
Nas próximas três décadas o mundo precisará alimentar quase dez bilhões de pessoas de forma mais nutritiva – e, ao mesmo tempo, eliminar a pobreza, interromper o desmatamento e a degradação ambiental e reduzir as emissões de GEE da produção agrícola. Essas metas exigem ações imediatas em todas as cadeias de valor. Diante de impactos climáticos que ameaçam diminuir o rendimento das colheitas, os produtores precisam produzir mais alimentos em menos hectares a fim de evitar a derrubada de florestas para abrir espaço para lavouras e pastagem. Ao mesmo tempo, também precisam reduzir as emissões de GEE de uma série de práticas agrícolas, como as associadas ao cultivo de arroz, produção pecuária e fertilizantes.
Embora estejam na direção certa, essas mudanças ainda são lentas. Melhorias na eficiência da produção pecuária e no rendimento das culturas, por exemplo, não conseguiram acompanhar o ritmo da demanda de alimentos, e a expansão contínua das terras agrícolas prejudica os esforços de proteção e restauração de ecossistemas. O rendimento das culturas precisa aumentar dez vezes mais rápido em todo o mundo, e os ganhos de produtividade na pecuária devem acontecer a um ritmo 1,2 vez mais rápido para manter o aquecimento dentro de 1,5°C. Os esforços para reduzir as emissões de GEE por caloria de alimento produzida também estão abaixo do ritmo necessário: as taxas recentes precisam triplicar ao longo da década.
Mudanças na demanda por alimentos também podem contribuir. Cortar pela metade a perda e o desperdício de alimentos até 2030 – assim como diminuir o consumo de carne de boi, cordeiro e cabra para cerca de duas porções por semana ou menos até 2030 e 1,5 porção por semana ou menos até 2050 nas regiões com altos índices de consumo (Américas, Europa e Oceania) – pode diminuir drasticamente as emissões do setor. Embora os dados disponíveis sejam insuficientes para avaliar o panorama global do desperdício de alimentos, tendências observadas na perda alimentar atualmente apontam na direção errada. Já a mudança para dietas mais sustentáveis, embora esteja na direção certa, precisa acontecer a um ritmo oito vezes mais rápido para entrar no rumo necessário.
7. Atualmente, tecnologias de remoção de carbono sequestram menos de 1% da quantidade necessária até 2030, mas o cenário par a adoção dessas técnicas tem se tornado cada vez mais favorável.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas mostra que, além de reduções imediatas e profundas nas emissões de GEE, manter o aumento das temperaturas dentro de 1,5°C (sem ultrapassar esse limite ou ultrapassando por muito pouco) depende também da remoção de carbono – incluindo tanto medidas baseadas no uso da terra, como a restauração de florestas, quanto abordagens tecnológicas, como a captura direta de ar. Até 2030, as taxas de remoção de carbono tecnológica, especificamente, precisam alcançar entre 30 e 690 MtCO2 por ano, mas em 2022 a remoção foi de menos de 1 MtCO2. Para entrar no ritmo, é preciso expandir essas tecnologias mais de dez vezes mais rápido.
Felizmente, as tecnologias de remoção de carbono evoluíram nos últimos anos, deixando de ser um conceito de nicho para se tornar um componente comum nos portfólios de ação climática, recebendo investimentos de bilhões de dólares de financiamento público e privado. Nos Estados Unidos, a Lei Bipartidária de Infraestrutura de 2021 forneceu US$ 3,5 bilhões para construir quatro centros de captura direta do ar capazes de remover 1 MtCO2 por ano cada um, e a Lei de Redução da Inflação de 2022 mais do que triplicou os créditos fiscais que os operadores desses centros recebem. Em 2022, uma coalizão internacional de empresas se comprometeu a adquirir mais de US$ 1 bilhão em remoção permanente de carbono até 2030. Para manter esse contexto favorável, são necessários novos investimentos públicos em pesquisa, desenvolvimento, simulação e implementação de soluções, a fim de criar um portfólio de técnicas diverso e equilibrado. Para assegurar uma expansão responsável das tecnologias, os governos também precisam desenvolver estruturas de governança sólidas – por exemplo, estabelecendo padrões consistentes e confiáveis para mensurar a remoção de carbono e concentrando a atenção nos impactos ambientais e sociais dos projetos.
8. O financiamento climático, em especial nos países em desenvolvimento, ainda é inexpressivo se comparado às necessidades, enquanto o financiamento para combustíveis fósseis continua aumentando.
Os recursos financeiros são viabilizadores essenciais para a ação climática, mas os padrões atuais de investimento estão atrasando o ritmo e a escala da transição para uma economia baseada no zero líquido. Em todo o mundo, o financiamento climático estimado – incluindo fluxos domésticos e internacionais e de fontes públicas e privadas – atingiu em 2022 um pico histórico, de US$ 1,4 trilhão, de acordo com novos dados publicados pela Climate Policy Initiative depois que o relatório State of Climate Action entrou em processo de revisão. Ainda assim, esses ganhos continuam aquém dos US$ 5,2 trilhões anuais necessários até 2030. Os fluxos financeiros precisam aumentar em quase meio trilhão de dólares por ano ao longo desta década para entrar no ritmo certo.
As necessidades financeiras são particularmente urgentes nos países em desenvolvimento, onde impactos climáticos cada vez mais intensos, a pandemia de Covid-19, o endividamento e a inflação nos preços de alimentos e energia depois da invasão da Ucrânia pela Rússia sugam os recursos dos cofres públicos. Com exceção da China, os investimentos nos países em desenvolvimento chegam a menos de um décimo dos US$ 2,4 trilhões de que essas nações precisam anualmente até 2030 para viabilizar medidas de mitigação e adaptação.
Aumentar o financiamento climático sem eliminar gradualmente os investimentos em atividades emissoras, como extração de combustíveis fósseis e desmatamento, não vai reduzir as emissões de GEE rápido o suficiente para manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5°C. Nesse aspecto, o progresso também está aquém do necessário. Embora os investimentos globais no fornecimento de energia de baixo carbono tenham excedido os investimentos em combustíveis fósseis pela primeira vez em 2022, os avanços recentes precisam acelerar mais de dez vezes até 2030.
E o que é ainda pior: o financiamento público para combustíveis fósseis subiu para US$ 1,1 trilhão em 2021 – uma reviravolta preocupante nas tendências recentes de redução. Em paralelo, os esforços para expandir a precificação de carbono parecem estagnados, sem qualquer aumento significativo nas emissões globais de GEE cobertas pelos esquemas de precificação desde 2021. Esses atrasos em alinhar os fluxos financeiros às metas do Acordo de Paris impedirão a ação climática em todos os setores.
COP28 e os rumos da ação climática
À medida que se aproxima o encerramento do primeiro Balanço Global do Acordo do Paris, na conferência climática da ONU deste ano (COP28), as lideranças mundiais precisam reconhecer a lentidão da ação climática e traçar um rumo baseado nas conquistas e pontos positivos obtidos até aqui. Esse momento deve ser um catalisador para ações rápidas para mitigar as mudanças climáticas – desde a eliminação gradual e equitativa dos combustíveis fósseis, a transformação do setor alimentar e agrícola e o fim do desmatamento, até o aumento das energias renováveis e do financiamento climático–, que devem ser acompanhadas de ações focadas em adaptação e perdas e danos.
Nós sabemos que, com o apoio necessário, mudanças transformadoras podem acontecer – e nós sabemos o caminho para manter o aumento das temperaturas abaixo de 1,5°C. Não é tarde demais.
Este artigo foi publicado originalmente no Insights e integra o Systems Change Lab, uma iniciativa colaborativa – que abrange uma plataforma de dados abertos – criada para estimular a ação climática no ritmo e escala necessários para manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5°C, impedir a perda de biodiversidade e construir uma economia justa e equitativa.
Veja os resultados dos relatórios de anos anteriores: 2022, 2021, 2020.