Disponibilidade de água limpa, espaços de convivência e lazer, sem falar na regulação do clima, são apenas alguns dos serviços prestados pelas florestas para a vida no planeta, e em especial nos ambientes urbanos. Cidades dependem de florestas.

Ao mesmo tempo, cidades são centrais no enfrentamento às crises climáticas e ambientais que o mundo atravessa – e devem abraçar a proteção das florestas e da biodiversidade, determinantes para sua própria sobrevivência. Este é um desafio que extrapola a escala e os limites municipais e requer atuação coordenada e continuada em vários níveis. No Brasil, municípios estão buscando somar e coordenar esforços no avanço da agenda ambiental. É o caso de muitos integrantes da inciativa Cities4Forests. Um exemplo é Campinas (SP) que, junto a outros municípios de sua região metropolitana, deu um passo importante no dia 8 de abril com o lançamento do Plano de Ação para Implementação da Área de Conectividade (conheça o plano na íntegra).

Pioneira no cuidado com o verde, Campinas lançou em 2016 um Plano Municipal do Verde, que iniciou a recuperação da vegetação ciliar e a criação de parques lineares no município. Por isso, foi a primeira cidade brasileira certificada pela ONU como referência em boas práticas de resiliência. Naquele momento, Campinas percebeu que um impacto efetivo na conservação da biodiversidade não poderia se restringir aos seus limites territoriais.

Em 2017, os 20 municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) firmaram um termo de cooperação técnica para a conservação e recuperação da fauna e flora. A assinatura oficializou a criação do programa Reconecta RMC, uma estratégia integrada para reverter a fragmentação da Mata Atlântica, protegendo e recuperando a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

Resultado dos esforços da Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Campinas (SVDS), do Iclei América do Sul e de diversas outras organizações, o novo Plano de Ação é um avanço importante nesta agenda. Prevê, além de soluções baseadas na natureza como parques lineares e arborização urbana, a implementação de corredores ecológicos que conectem as áreas verdes remanescentes na região.

Além de permitir uma movimentação mais efetiva da fauna, aumentando o fluxo gênico das populações das diferentes espécies, essas soluções trazem múltiplos cobenefícios, como melhores condições de drenagem e recarga de aquífero. Ao mesmo tempo, promovem a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Identificando oportunidades para restauração

A fragmentação do território na escala metropolitana é um desafio. Ao se planejar a implementação de um corredor ecológico por meio da restauração florestal, é necessário considerar os remanescentes florestais mais relevantes e potenciais obstáculos para sua conexão: zonas urbanas, propriedades rurais e as atividades nelas desenvolvidas. Por outro lado, há que se mensurar os benefícios que a restauração dessas áreas poderia gerar – como a redução dos gastos em tratamento de água em toda a região ou com inundações evitadas.

Para promover a integração das ações pela biodiversidade prevista pelo Reconecta RMC, a SVDS e Iclei lideraram o desenvolvimento de um mapa da área de conectividade que orienta as ações de restauração para a reconexão dos remanescentes florestais na região. O WRI Brasil, por meio da iniciativa Cities4Forests (C4F), realizou análises para aprimorar estes mapas. O trabalho propôs novas camadas, considerando o custo de oportunidade da terra, a exportação de sedimentos e a infiltração de água. Sobrepostas, elas indicam as melhores oportunidades para conservação e restauração na região de abrangência do plano.

Munidos dessas informações, os municípios têm como alocar os recursos necessários tendo em conta o custo-benefício das ações. O mapeamento de custo de oportunidade da terra também permite observar as variações de custo sobre áreas rurais metropolitanas, que sofrem grande pressão. Viabilizar ações de conservação e restauração nessas áreas requer estratégias específicas – por exemplo, o Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) para os proprietários.

As informações técnicas geradas subsidiam uma tomada de decisão qualificada, levando em conta as diversas prioridades e expectativas, os custos envolvidos e os resultados para a biodiversidade e para as pessoas. A criação do plano com metas e indicadores claros consolida as ações em uma política pública e reforça o compromisso político das instituições envolvidas, potencializando a implementação e os impactos positivos no município e na região metropolitana.

Coordenar para conectar

Se os benefícios dessas ações extrapolam os limites dos municípios, garantir que elas ocorram de forma efetiva e coordenada é um desafio. A SVDS estabeleceu parceria com o Iclei para liderar a elaboração do plano. O processo colaborativo teve apoio do Instituto Courb e envolveu 80 atores distintos, incluindo vários órgãos dos 20 municípios da RMC.

O envolvimento e a coordenação intersetorial entre os diferentes atores e programas atuantes na região é essencial para garantir a continuidade da colaboração técnica, acelerar e dar escala à implementação dos projetos e programas para a conservação da biodiversidade e a restauração de ecossistemas.

O Plano de Ação para Área de Conectividade da Região Metropolitana de Campinas estabelece um modelo inspirador para a gestão regional da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Trata-se de uma nova referência com a qual outras regiões metropolitanas do país podem embasar suas estratégias para conciliar a agenda de restauração de suas florestas com o desenvolvimento local e regional.

Sobre o Cities4Forest e a parceria com Campinas

O Brasil tem o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Dar escala à atividade requer uma série de soluções que incluem diversos atores em diferentes níveis. As cidades são parte desse processo, e é também por isso que o WRI Brasil atua para que essa agenda seja abraçada de forma assertiva pelos municípios brasileiros.

O Cities4Forests é um movimento global para catalisar apoio político, social e econômico para integrar ações de proteção e conservação das florestas nos planos e programas de desenvolvimento das cidades. A estrutura em rede e as trocas de experiências entre as cidades têm efeito multiplicador. Foi assim, por exemplo, que o pioneirismo de Campinas inspirou Palmas (TO) na criação de seu próprio Sistema Municipal de Infraestrutura Verde (SisMIV) em 2019.

Confira o webinar de lançamento do Plano na íntegra: