As evidências do processo de aquecimento pelo qual o mundo vive são inegáveis. A temperatura média da superfície da Terra em 2018 foi a quarta mais alta em quase 140 anos de registros feitos pela NASA, a agência espacial americana. Os últimos cinco anos estão entre os mais quentes da história. Essa tendência contribui para a ocorrência de eventos climáticos extremos para os quais nenhum país está preparado. As mudanças climáticas são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das dez maiores ameaças a serem enfrentadas não no futuro, mas imediatamente.

Os impactos das mudanças climáticas já estão muito evidentes – em inundações costeiras, ondas de calor, chuvas intensas e mudanças nos ecossistemas, de acordo com Gavin Schmidt, diretor do Instituto de Estudos Espaciais (GISS) da NASA. Desde a década de 1880, a temperatura média da superfície global aumentou cerca de 1ºC, tendência que, segundo sólidos estudos científicos, vem sendo provocada em grande parte pela crescente emissão de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa causada pelas atividades humanas.

Um estudo do Institute for Public Policy Research (IPPR) afirma que, desde 1950, o número de enchentes ao redor do mundo aumentou 15 vezes, eventos de temperaturas extremas 20 vezes, e os incêndios se tornaram sete vezes mais frequentes. Os pesquisadores do IPPR destacam que, apesar de não haver certeza sobre como as alterações no clima irão se desdobrar em eventos, é possível concluir que entramos em uma nova era de rápidas mudanças ambientais, definida como a "idade do colapso ambiental".

Ameaças a saúde global

A Organização Mundial da Saúde (OMS) elegeu a poluição do ar e as mudanças climáticas como uma das dez maiores ameaças à saúde global. O órgão inicia nesse momento o seu 13º Programa de Trabalho Geral, que guiará a estratégia da OMS nos cinco próximos anos (2019-2023). A iniciativa vai buscar ampliar o trabalho com diferentes setores – incluindo transporte, energia, habitação, resíduos e planejamento urbano – em nível nacional e local para monitorar a qualidade do ar, desenvolver estratégias de transição para tecnologias e combustíveis mais saudáveis e buscar assegurar que evidências científicas sejam traduzidas em políticas eficazes.

A organização considera a poluição do ar como o "maior risco ambiental para a saúde" e afirma que nove entre 10 pessoas respiram ar poluído todos os dias. Poluentes microscópicos no ar podem penetrar nos sistemas respiratório e circulatório, causando doenças que atualmente causam a morte prematura de cerca de 7 milhões de pessoas todos os anos. "A causa primária da poluição do ar (a queima dos combustíveis fósseis) também contribui de forma importante para as mudanças climáticas, que impactam a vida das pessoas de diferentes maneiras. Estima-se que entre 2030 e 2050, as mudanças no clima causem 250 mil mortes adicionais por ano, por desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico", afirma a organização.

<p>poluição</p>

Em setembro, com a realização da Cúpula sobre mudança Climática das Nações Unidas, o órgão pretende fortalecer a ação climática mundial, pois estima-se que mesmo caso os países cumpram os compromissos firmados no Acordo de Paris, o planeta ainda estará caminhando para um aquecimento de 3°C ainda neste século.

Eventos climáticos extremos

Em 2018, alguns eventos climáticos como os furacões Michael e Florence, na costa oeste dos Estados Unidos, os tufões Jebi e Trami, no Japão, os incêndios na Califórnia, a tempestade Emma, a onda de frio "Besta do Leste", na Europa, ou as extensas enchentes na China e na Índia, foram destaques nos noticiários de todo o mundo. Porém, estima-se que 394 eventos climáticos extremos ocorreram ao longo do ano passado. Um levantamento anual realizado pela seguradora Aon buscou calcular as perdas econômicas dos desastres naturais ocorridos em 2018. A soma chega a US$ 235 bilhões.

No Brasil, quatro eventos foram registrados pelo estudo. Duas enchentes provocadas por fortes chuvas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, que deixaram sete mortos, um temporal, ocorrido no Rio Grande do Sul, que causou duas mortes e mais de 2,5 mil pessoas desabrigadas, e um deslizamento de terra na cidade de Niterói, que resultou em pelo menos 10 mortes.

O relatório confirma que a influência das mudanças climáticas é cada vez mais visível à medida que condições meteorológicas extremas atingem áreas geográficas maiores. Segundo o documento, as perdas econômicas decorrentes de desastres naturais e eventos climáticos (excluindo terremotos e vulcões) apresentam taxas anuais crescentes desde 2000. “É esperado que o crescimento da população e a sua exposição em áreas mais vulneráveis a riscos de desastres, somado à variabilidade climática extrema e às mudanças climáticas possa trazer perdas ainda maiores nos anos futuros.”

Os sinais de 2019

De acordo com o Emergency Events Database (EM-DAT), uma base de dados de desastres naturais e tecnológicos, fenômenos climáticos extremos afetaram 57,3 milhões de pessoas em 2018. Nenhuma parte do globo foi poupada do impacto dos eventos climáticos extremos, segundo Mami Mizutori, representante especial do escritório das ONU para Redução de Risco de Desastres: "O tempo está acabando para limitarmos o aquecimento global em até 1.5°C ou 2°C. Precisamos também agir rápido também em relação à adaptação às mudanças climáticas, o que significa reduzir os riscos de desastres nas nossas cidades evitando a criação de novos riscos por meio do melhor uso do solo, de regulamentos de planejamento e códigos de construção mais consistentes, da proteção de ecossistemas, da redução da pobreza e da adoção de medidas ativas para reduzir a exposição à elevação do nível do mar".

O ano de 2019 recém começou e alguns eventos climáticos já deixaram vítimas em diversas partes do mundo. No Brasil, o temporal que atingiu o Rio de Janeiro na madrugada do dia 7 de fevereiro causou a morte de pelo menos sete pessoas e deixou dezenas desabrigadas, derrubou mais de 150 árvores, causou deslizamentos de encostas, entre diversos outros problemas. A prefeitura da cidade precisou declarar estágio de crise por quase 60 horas e orientou as pessoas a não saírem de casa.

<p>frio extremo</p>

O aquecimento do Ártico vem causando alterações em todo o planeta (Foto: U.S. Army/Wikicommons)

No Hemisfério Norte, o aquecimento global desempenhou influência nas baixas temperaturas. O extremo frio que alcançou até -50°C no meio-oeste e noroeste dos Estados Unidos causou a morte de mais de 20 pessoas, fechou aeroportos, escolas, atrações turísticas, órgãos do governo e várias outras instituições e paralisou serviços.

Cientistas afirmam que o aquecimento do Ártico – tendência que está ocorrendo mais rapidamente do que no resto do planeta – enfraqueceu a “jet stream”, corrente que mantém contido o “vórtice polar”, uma grande área de baixa pressão e vento frio sobre os polos Norte e Sul da Terra. Isso fez despencar as temperaturas e deixar a sensação térmica em alguns estados americanos mais baixa do que em locais do Alasca.

A Austrália viveu entre dezembro e janeiro a maior onda de calor da história do país. Toda a área continental foi afetada e as temperaturas chegaram perto dos 50°C. Muitas pessoas procuraram hospitais em decorrência do calor, dezenas de animais não resistiram. O relatório de 2018 do Departamento de Meteorologia do governo australiano alertou para “novos aumentos nas temperaturas do mar e do ar, com dias mais quentes e ondas de calor marítimas, e menos frios extremos” e responsabilizou o aquecimento global fenômenos.