Global Forest Watch completa 10 anos: histórias de quem cuida das florestas usando a plataforma
Todos os anos, o Global Forest Watch (GFW) publica dados sobre o estado das florestas no mundo. Este ano, por exemplo, os números mostraram que o Brasil foi responsável por 30% da perda de florestas primárias no mundo, se mantendo na primeira posição. Mas a plataforma não se resume às divulgações anuais. Em 2024, o GFW completa 10 anos e lançou uma série para mostrar histórias de pessoas e organizações que utilizam suas ferramentas para monitorar florestas.
Para quem não conhece, o Global Forest Watch utiliza imagens de satélite para monitorar florestas e paisagens do mundo todo. A plataforma disponibiliza dados sobre mudanças na cobertura florestal, uso e cobertura da terra, clima e biodiversidade. Através de alertas de queimadas e de desmatamento, qualquer pessoa no mundo consegue acompanhar em tempo real onde e como as florestas estão se alterando. O GFW pode ser usado para monitorar e gerenciar florestas, defender a terra e seus recursos, combater atividades ilegais, conter desmatamentos e incêndios, e apoiar pesquisas de conservação.
Todas essas funcionalidades só são possíveis por conta das ferramentas dentro do sistema. O Forest Watcher, por exemplo, é um aplicativo que pode ser acessado por smartphone e permite coletar dados das florestas e ligar o sistema de alertas e monitoramento mesmo estando offline. Outra ferramenta é o GFW Pro, que permite que empresas acessem facilmente dados geoespaciais com análises e painéis projetados para empresas de commodities e operações de bancos. O GFW também divulga relatórios com dados sobre perda florestal no mundo pelo Global Forest Review. O sistema ainda disponibiliza um portal de Open Data e um de MapBuilder, para a criação de mapas interativos e personalizados com os dados do usuário.
ICV usa a plataforma para proteger florestas no Mato Grosso
A série Voices of Global Forest Watch (Vozes do Global Forest Watch), em comemoração aos 10 anos do GFW, busca destacar os casos de sucessos dos usuários, parceiros e membros da comunidade. Uma dessas histórias é sobre o Instituto Centro Vida (ICV), uma organização sem fins lucrativos que foca em uso sustentável da terra e preservação dos recursos naturais no estado do Mato Grosso.
Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do instituto, conta que o ICV usa a imagem de satélite e os alertas de desmatamento do GFW em seu trabalho de proteção ambiental. “Floresta, para mim, é vida. Floresta é água, é terra, são as pessoas”, afirma Vinicius.
O ICV ajudou a responsabilizar os proprietários de terras por crimes ambientais ao expandir o uso do GFW no Ministério Público do Mato Grosso. O Instituto treinou os funcionários do Ministério sobre como usar as ferramentas e dados do GFW, e assim combater o desmatamento ilegal e os incêndios. Foi desenvolvida uma metodologia e um processo para que os promotores e a equipe técnica identifiquem e ajam em caso de alertas. O Ministério Público do Mato Grosso usa os dados do GFW para verificar essas infrações ambientais e, eventualmente, também mover ações contra os autores. “Percebemos um aumento nos esforços de fiscalização ambiental, tanto do Ministério Público quanto da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, para realizar fiscalizações em campo e apurar danos e infrações ambientais”, conta Vinicius.
Uma parte essencial desse trabalho é capacitar pessoas para usar as ferramentas de monitoramento florestal, visto que o ICV promoveu uma abordagem comunitária à vigilância ambiental, equipando os indivíduos com as ferramentas para coletar e reportar dados sobre crimes florestais. Hoje, mais de 40 povos indígenas no Mato Grosso têm potencial para usar ferramentas de monitoramento para monitorar seus territórios e protegê-los diretamente. Os povos indígenas estão sempre no território, o conhecem muito bem, e querem fazer valer os seus direitos e saber quando estão sendo violados. Por isso, ajudam no monitoramento.
Os indígenas também podem ser considerados vozes do GFW, uma vez que utilizam ferramentas como o Forest Watcher para proteger seus territórios. Eles recebem os alertas de desmatamento e analisam. Quando é verificada alguma degradação, os indígenas reportam. Isto serve para garantirem o direito a terra e denunciar violações.
O Instituto Centro Vida também é parceiro do WRI Brasil no projeto Promovendo e implementando a Regeneração Natural Assistida no Mato Grosso e Pará, que tem como objetivo incentivar a restauração de aproximadamente 300 mil hectares por meio da regeneração natural assistida em oito municípios (três no Pará e cinco no Mato Grosso).
Além da história de Vinicius e do ICV, a série já contou a história de Hen Mpoano, uma organização sem fins lucrativos em Gana que trabalha para proteger e restaurar a floresta do distrito de Takoradi. Durante o ano, outros projetos ainda serão destacados pela série.
Por que monitorar o uso da terra?
Existem milhares de produtores rurais, iniciativas empresariais, organizações da sociedade civil, governos e instituições de pesquisa que estão monitorando florestas utilizando as ferramentas do GFW. Esses atores têm um papel fundamental para acelerar e dar escala à recuperação dos nossos ecossistemas, permitindo que o Brasil cumpra seus compromissos nacionais e internacionais de restauração florestal.
O Brasil tem o compromisso de restaurar floresta e paisagens degradadas para recuperar seu potencial ambiental e capacidade de gerar ganhos econômicos. Além disso, a restauração florestal é essencial para o combate às mudanças climáticas. Para alcançar esse objetivo, é crucial monitorar o desmatamento e a mudança de uso da terra associada à produção de commodities, além de desenvolver um mercado de carbono para impulsionar a agenda da restauração de paisagens e florestas.