Este post foi escrito por Frances Seymour e Jonah Busch e publicado originalmente no WRI Insights.


As florestas não têm a atenção que merecem no que diz respeito a seu potencial como solução para as mudanças climáticas. Agora, uma década depois de as florestas tropicais terem entrado nas negociações internacionais sobre o clima, as pessoas entendem que perder árvores para o desmatamento e a degradação ambiental contribui para as emissões e sabem que mais árvores implicam mais dióxido de carbono retirado da atmosfera. No entanto, como argumentado no livro “Por que as florestas? Por que agora?”, mobilizar ação global para conservar e restaurar florestas no combate às mudanças climáticas é mais importante, mais acessível financeiramente e mais viável do que muitas pessoas pensam.

Uma grande parte do problema, uma parte ainda maior da solução

O modo como as emissões florestais são relatadas obscurece o papel do desmatamento como parte do atual cenário de emissões, assim como o potencial das florestas como uma solução climática.

Isso acontece porque as florestas podem ser tanto fontes quanto “sugadores”, dependendo de como forem gerenciadas: quando intactas, até mesmo florestas mais maduras capturam ativamente o carbono da atmosfera através da fotossíntese, agindo como uma tecnologia segura e natural de captura e armazenamento de carbono.

Quando as emissões florestais líquidas são reportadas como uma parcela do total de emissões globais, o número é o resultado de uma subtração: as emissões brutas do desmatamento menos o carbono capturado pelas florestas através do crescimento. No entanto, seu potencial de mitigação é um acréscimo: emissões brutas (que podem ser evitadas interrompendo o desmatamento) mais o resultado da função de captura de carbono que pode ser mantida e até aumentada.

Impedir todo o desmatamento nas florestas tropicais, e ao mesmo tempo permitir que essas florestas se recuperem, levaria a uma redução de carbono na atmosfera equivalente a até 30% das emissões líquidas globais.

Estudos recentes da Climate Focus e da The Nature Conservancy confirmaram o papel fundamental das florestas em manter o aumento da temperatura média global abaixo de 1,5°C ou 2°C, respectivamente.

Proteger as florestas não custa caro

Incluir a redução do desmatamento das florestas tropicais nas estratégias de mitigação para atingir a meta dos 2°C levaria a uma economia de mais de US$ 100 bilhões por ano até 2030, mesmo que todos os agricultores precisassem ser compensados por não converter florestas em solo para uma cultura agrícola.

Para começar, muito do desmatamento que acontece hoje é ilegal – ocorrendo, por exemplo, em áreas protegidas ou como resultado da obtenção de autorizações irregulares ou impunidade por meio da corrupção. Esses usuários da terra não precisam ser compensados. Durante a década que começou em 2004, o Brasil alcançou reduções substanciais nas taxas de desmatamento na Amazônia por meio de medidas de comando e controle, a um custo direto de menos de US$ 5 por tonelada de emissões de carbono evitada. Isso se compara a um preço de carbono de US$ 25/tonelada, considerado o limite mínimo necessário para atingir metas de redução de emissões de longo prazo nos Estados Unidos.

Em segundo lugar, estimativas do custo da proteção florestal não incorporam os benefícios locais e regionais dos serviços que as florestas oferecem além do armazenamento de carbono. As florestas estão associadas, por exemplo, à geração de chuvas que mantêm a produtividade agrícola, impedindo o assoreamento de reservatórios atrás de represas hidrelétricas e protegendo comunidades vulneráveis dos impactos de eventos climáticos extremos. Pode ser desafiador estabelecer um valor econômico preciso para esses benefícios, mas é considerável a contribuição das florestas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados à pobreza, fome, saúde, água e energia.

Já existem estruturas globais disponíveis

Será que nós precisamos de uma nova “grande ideia” para capitalizar o potencial das florestas como solução para as mudanças climáticas? Não – nós já temos um consenso global sobre a maneira que devemos prosseguir. O que nós precisamos é de recursos.

O Acordo de Paris endossa um quadro de cooperação acordado em Varsóvia em 2013, o REDD+, no qual os países ricos pagam aos países em desenvolvimento por sua contribuição na redução de emissões florestais. Diversas iniciativas bilaterais e multilaterais já utilizaram os acordos do REDD+, e o Green Climate Fund (Fundo Climático Verde) aprovou recentemente um novo aprovou recentemente um novo fundo de US$ 500 milhões para pagamentos baseados em resultados do REDD+.

Em 2014, diferentes atores reuniram-se Cúpula do Clima das Nações Unidas para endossar a Declaração de Nova York sobre Florestas. Os signatários da Declaração se comprometeram a remover o desmatamento das cadeias de fornecimento de commodities até 2020 e, até 2030, acabar com o desmatamento de forma geral e restaurar 350 milhões de hectares de florestas.

Porém, como argumentamos em “Por que florestas? Por que agora?”, o financiamento ainda é a peça que falta nesse quebra-cabeça. Em comparação a outros setores que são foco de atenção e fundos para reduzir emissões de combustíveis fósseis, as florestas ainda são um tanto negligenciadas no que diz respeito à ação climática: uma avaliação recente das metas 8 e 9 da Declaração de Nova York estima que as florestas recebem pouco mais de 1% dos fundos de desenvolvimento global para mitigação.

Países em desenvolvimento deveriam aproveitar o potencial de mitigação das florestas e incluí-las em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas. Os países ricos, por sua vez, deveriam se comprometer a oferecer o financiamento proporcional a esse potencial.