
Estudos mostram potencial da Regeneração Natural Assistida na Amazônia e Mata Atlântica
O Brasil tem o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Uma técnica com bom custo-benefício para dar escala à restauração, em particular na Amazônia e na Mata Atlântica, é a regeneração natural assistida.
A regeneração natural é a capacidade de um dado ecossistema de se regenerar e recuperar suas funções ecológicas com o tempo, sem intervenção humana. Na regeneração natural assistida (RNA), a participação humana se dá no sentido de potencializar essa habilidade natural por meio de algumas intervenções. As pessoas ajudam na regeneração florestal, por exemplo, eliminando barreiras e ameaças ao crescimento da floresta, utilizando o conhecimento da terra. Trata-se de um misto do plantio ativo com a restauração passiva.
Para trabalhar com a regeneração natural, é preciso levar em consideração o contexto local. A técnica não funciona para qualquer paisagem. As áreas que tendem a receber melhor essa abordagem são aquelas ainda não altamente degradadas, onde ainda existem remanescentes florestais no entorno e sementes vivas no solo. Consideradas as particularidades de cada contexto, porém, a RNA pode ser aplicada em diferentes paisagens e biomas. Estudos publicados recentemente oferecem novas evidências desse potencial em diferentes florestas e ecossistemas.
A capacidade de regeneração na Amazônia
A Amazônia apresenta uma alta capacidade de regeneração natural – ou seja, de restaurar suas funcionalidades e estrutura física por meio da sucessão ecológica. No entanto, a assistência humana nas áreas que passam por esse processo, por meio de políticas públicas de proteção e fiscalização, eliminação dos fatores de degradação, entre outras medidas, pode garantir a permanência da vegetação secundária e sua evolução para floresta madura.
Em estudo recente publicado pelo Imazon, chamado “Restauração Florestal em Larga Escala na Amazônia: o potencial da vegetação secundária”, foram identificados 7,2 milhões de hectares de vegetação secundária a partir de seis anos de idade (já que, antes disso, pode se tratar apenas de uma área em estado de pousio, em temporária regeneração) no bioma Amazônia. Porém, o aproveitamento desse potencial de regeneração natural não está garantido. São necessárias medidas que formalizem compromissos de manutenção dessas áreas nos contextos territoriais em que se encontram.
Segundo esse estudo, 71% da vegetação secundária com idade mínima de seis anos estão localizados em apenas quatro classes territoriais: imóveis titulados (26%), áreas públicas não destinadas (19%), assentamentos rurais (15%) e imóveis no Cadastro Ambiental Rural (CAR) (11%). Os 29% restantes ocorrem em unidades de conservação, terras indígenas, áreas de quilombolas, entre outras.
Por fim, o estudo ressalta algumas recomendações e destaca a importância de monitorar as áreas de vegetação secundária, a fim de gerar dados e estatísticas, e de garantir a formalização e intencionalidade de proteção das áreas identificadas em imóveis rurais, por meio da implementação efetiva do Código Florestal.

Esses destaques reforçam algumas das recomendações da Aliança pela Restauração na Amazônia apresentadas no position paper 2020. Nesse relatório a Aliança descreve a RNA como um método com grande potencial para dar escala à restauração na Amazônia, devido ao baixo custo com insumos e mão de obra, e ressalta a necessidade de assegurar regras e mecanismos legais para a proteção, uso e manejo da vegetação secundária.
Bom custo-benefício para a Mata Atlântica
Também na Mata Atlântica temos uma alta capacidade para a regeneração natural assistida. Um estudo já identificou quase 740 mil hectares em processo de regeneração natural e restauração ativa.
Para acelerar e dar escala à recuperação da vegetação nativa, um dos principais movimentos da restauração no bioma, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – organização criada em 2009 que hoje conta com mais de 300 membros, incluindo o WRI Brasil – definiu em sua estratégia 8 linhas de ação para a regeneração natural. São estratégias que vão desde a capacitação de produtores até o desenvolvimento de mecanismos financeiros para garantir a persistência de florestas nas áreas regeneradas.
Saiba mais sobre o papel da regeneração natural na Mata Atlântica e na Década da Restauração de Ecossistemas da ONU no podcast Tom da Mata:
Além das ações de movimentos, produtores e academia, os governos também estão incentivando a RNA. No Espírito Santo, estado com predomínio da Mata Atlântica, a maior parte da área rural é ocupada por famílias que em geral não possuem condições de restaurar por conta dos custos envolvidos nas ações. A regeneração natural, portanto, é um método especialmente atrativo para o estado e pode contribuir para aumentar a cobertura florestal nativa de forma eficiente, com baixo custo e maior aceitação entre os produtores. O estado já conta com o Programa Reflorestar, que inclui a RNA como um dos métodos de seu portfólio de intervenções e que pode ser utilizado em áreas que podem beneficiar também estratégias de promoção de infraestrutura natural para água.
Custo baixo, amplos benefícios
A ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração, e a regeneração natural assistida tem papel importante nesta agenda. A técnica pode ser aplicada em diversas paisagens e, como vimos, algumas regiões já demonstram especial potencial, como a Amazônia e a Mata Atlântica. Na Amazônia, o WRI Brasil e parceiros vêm trabalhando para apoiar o ganho de escala da RNA no projeto Promovendo e implementando a Regeneração Natural Assistida no Mato Grosso e Pará.
Para os pequenos produtores, é uma forma de recuperar a fertilidade do solo, melhorar a produção de água, potencializar a produção e os serviços ecossistêmicos – tudo com custos relativamente baixos. E, com a aplicação em larga escala, os benefícios alcançam toda a sociedade, uma vez que a recuperação das florestas contribui intensamente para a captura de carbono da atmosfera – ação tão necessária no combate às mudanças climáticas.
*Andréia Pinto é Pesquisadora Adjunta do Imazon.