Comunidade do Morro dos Macacos, no Rio, trabalha plano de resiliência climática
Escutar, debater e conversar para transformar. Esse foi o foco da segunda oficina que o WRI Brasil, em parceria com a Prefeitura do Rio e a Defesa Civil, realizou no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro. A atividade, realizada na última quinta-feira (28) faz parte do projeto “Avaliação Comunitária de Resiliência Urbana”, que começou em 2015, e reuniu cerca de 30 moradores.
A oficina surgiu da necessidade de ajudar a comunidade a se prevenir, se preparar e se recuperar de eventos climáticos cada vez mais comuns e que trazem riscos incalculáveis à população. A partir de problemas e soluções indicados por quem mora no local, o objetivo é a construção de planos de resiliência para o Morro do Macaco. “As mudanças climáticas trazem novos riscos para a população e atingem, especialmente, as pessoas mais vulneráveis. Nossa intenção foi entender como os moradores reagem e estão preparados em situações como chuvas fortes, para que haja um planejamento para evitar os problemas. Quando você fortalece a comunidade, os moradores sofrem menos com os impactos climáticos”, explica Katerina Elias-Trostmann, analista de pesquisa sênior em resiliência climática do WRI Brasil.
A dinâmica aconteceu a partir do resultado da aplicação da ferramenta Avaliação Comunitária de Resiliência Urbana, que levantou 33 indicadores sobre resiliência contextual, da comunidade e dos indivíduos. Os resultados foram apresentados para os moradores em uma oficina no mês de julho, na qual foram escolhidos os quatro principais indicadores capazes de trazer mudanças positivas para a comunidade: comunicação com vizinhos, hábitos de resiliência dos moradores no dia a dia, engajamento político e acesso à coleta de lixo.
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Nesta segunda oficina, os moradores foram divididos em quatro grupos e os participantes votaram nas melhores soluções para cada um dos quatro indicadores e pensaram em quem seriam os melhores parceiros para implementá-las. Além disso, eles identificaram no mapa do Morro dos Macacos os lugares ideais para as soluções eleitas serem implantadas.
O aposentado Jorge Ferreira, 72 anos, elegeu a coleta de lixo como o principal problema da comunidade. Ele aposta no retorno da função do gari comunitário como solução. "Eles limpavam as valas, o morro era muito mais limpo. Todos os dias desciam com toneladas de lixo. Hoje, não tem mais isso. Quando chove, o lixo desce o morro e aumenta o trabalho da companhia de limpeza urbana nas ruas", afirma.
Um elemento que complica a coleta de lixo na comunidade é a ausência de vias e ruas que permitam o acesso às casas. As pequenas passagens dificultam a limpeza e outros serviços, como atendimento de saúde aos idosos que vivem no alto do morro. Com brilho no olhar enquanto participava da atividade, o gari Lúcio Fraga, 38 anos, aponto esse como o principal problema do Morro dos Macacos: “Se tivéssemos acesso aos pontos altos, seria fácil fazer a coleta. É preciso uma obra para resolver isso. Mas também é importante que os moradores se organizem, tragam o lixo para o pé do morro enquanto isso não acontece. Assim, os sacos não ficam acumulados lá em cima”.
O projeto realizado na comunidade tem a aprovação de Lúcio, que comentou a felicidade de participar do projeto: “Isso é muito importante para a nossa comunidade. É uma oportunidade de expor nossa necessidade. É muito gratificante contribuir para tudo melhorar”. Crébia Cristina, 30 anos, acredita que a oficina ajuda os moradores a aprender a resolver os problemas coletivamente. Para ela, o principal indicador a ser trabalhado é justamente a falta de comunicação entre eles. “Antigamente, tinha um alto-falante que anunciava o que acontecia no Morro. Acho que temos que ter os telefones uns dos outros para conversar, pedir ajuda, avisar sobre algum imprevisto na comunidade. Sinto falta dessa união e da participação das pessoas. Essa interação fortalece as relações”, analisa.
Essa coesão entre as pessoas é fundamental para que as melhorias aconteçam. Flávia Corloni, coordenadora de Sustentabilidade e Resiliência da Prefeitura do Rio, explica que a oficina é importante para mostrar aos moradores que eles também são responsáveis por mudanças: “Muitas das soluções levantadas por eles mostram atitudes que as pessoas devem ter, sem esperar o poder público. A oficina cria essa consciência. Quanto mais comunidades conseguirmos atingir, melhor o resultado”. Para Flávia, tratar a resiliência com o apoio e a proximidade da comunidade ajuda a fortalecer o trabalho da Defesa Civil.
A gerente de Operações a Defesa Civil na área da Grande Tijuca, Inês Mendes, reforça que a participação dos moradores é fundamental para a atuação do órgão: “É deles que vêm os desejos e anseios pelas melhorias. Eles receberam muito bem as oficinas e estão empenhados. A partir disso, vão ver com mais clareza o trabalho que a Defesa Civil exerce, não só em momentos de crise, mas no dia a dia e no trabalho de prevenção de riscos climáticos”.
Os mapas e as soluções apresentadas pelos participantes da oficina serão reunidos em um documento e entregues à Defesa Civil, à Prefeitura do Rio e à Associação de Moradores do Morro dos Macacos em cerca de um mês. “Uma comunidade mais coesa é capaz de enfrentar melhor os problemas. Nossa intenção é expandir o projeto para outras comunidades do Rio e melhorar e finalizar a metodologia para apoiar outras cidades a fazerem um planejamento de resiliência climática que responda às necessidades de comunidades mais vulneráveis aos impactos”, conclui Katerina.
Cerca de 30 moradores do Morro dos Macacos participaram da oficina realizada pelo WRI Brasil (Foto: Elis Bartonelli/WRI Brasil)