O último final de semana foi marcado por intervenções temporárias que levaram a Fortaleza e São Paulo uma mensagem de como os espaços públicos podem ser requalificados a partir de iniciativas de baixo investimento e grandes resultados para refletir sobre a segurança e a experiência dos pedestres pela cidade. 

Na capital cearense, o projeto batizado "Cidade da Gente" deu o primeiro passo neste domingo (17), com o espaço da Avenida Central, no bairro Cidade 2000, transformado para inverter a prioridade dada antes aos veículos. A ação foi uma forma de mostrar à população como é possível dar novo uso ao espaço público disponível. Uma grande área exclusiva para pedestres foi formada onde antes os carros estacionavam e circulavam. Apenas uma faixa de tráfego foi mantida.

Com uma comunidade bastante ativa, o bairro Cidade 2000 tem na Avenida Central o seu eixo de convívio. Essa primeira intervenção, ainda temporária, com uso de tinta, vasos de plantas e cones, é uma maneira de permitir à população testar uma nova forma de uso da área. A partir dessa primeira experiência as pessoas poderão contribuir com sugestões antes que as obras definitivas sejam realizadas. Foram acrescentadas calçadas, que eram estreitas, e muitos espaços de convívio, que neste final de semana foram ocupados por apresentações de grupos musicais e outras atrações artísticas, oficinas profissionalizantes, doação de mudas de plantas regionais, exames e orientações de saúde, além de serviços públicos, como solicitação do Bilhete Único, Cartão do Idoso e emissão de credenciais para vagas especiais.

Esse é o primeiro local da Cidade que transformamos uma área de carros em uma grande praça. Aproveitamos a infraestrutura plana e colocamos uma série de comodidades para que o espaço vire uma grande área pública da Capital. Começamos com projetos pilotos muitas das nossas mudanças para experimentar, avaliar, ouvir a população e, se tiver apoio, a nossa obrigação passa a ser expandir a política. Nós acreditamos que essa ideia vai prosperar e ir para outros locais de Fortaleza”, afirmou o prefeito Roberto Cláudio.

O WRI Brasil apoia Fortaleza em projetos de segurança viária como parte da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), que também conta com a parceira da Iniciativa Global de Desenho de Cidades (NACTO-GDCI) e da Vital Strategies. Na Avenida Central, os parceiros apoiaram o projeto que deu uma nova cara à Cidade 2000. "Foi incrível ver a população se apropriar daquele espaço. Ainda durante a montagem do projeto, já havia pessoas usando o mobiliário urbano, tirando fotos, elogiando e perguntando se ficaria sempre assim. A cidade inovou ao oferecer essa intervenção para a população e ao envolver as pessoas na decisão sobre como utilizar aquele espaço. É um prazer ver de perto, em poucos dias, um local que antes servia basicamente de estacionamento se tornar vivo, alegre e vibrante, um espaço público devolvido para as pessoas", afirma Rafaela Machado, especialista de Segurança Viária do WRI Brasil.

O novo desenho urbano implantando temporariamente antecipa parte do projeto da área de trânsito calmo anunciado para a região. A ideia é que a comunidade conheça a intervenção durante duas semanas e participe das discussões sobre o novo desenho urbano para área, que oferece mais condições de segurança para os usuários mais vulneráveis das ruas, além de garantir espaços de lazer e convívio urbano. Por isso, um totem desenvolvido em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor) vai registrar as opiniões dos moradores que, posteriormente, poderão ser incluídas de forma definitiva na área de trânsito calmo. O prefeito também afirmou, nas redes sociais, que se a iniciativa prosperar, poderá ser levada a outras regiões de Fortaleza. 

Em São Paulo, mais cor e segurança para os pedestres da Zona Norte


Em São Paulo, uma ação semelhante foi realizada no sábado (16), após um desafio proposto pela 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, que neste ano aborda o projeto como instrumento capaz de combinar diversas disciplinas presentes no planejamento urbano. O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e a Citi Foundation realizaram, em parceria com o WRI Brasil, a BIGRS, a NACTO-GDCI e a Companhia de Engenharia de Tráfego CET-SP, uma intervenção urbana temporária em Santana, bairro da Zona Norte da cidade. 

As esquinas das ruas Dr. César e Salete e da Voluntários da Pátria e Leite de Moraes receberam pinturas temporárias e ganharam uma nova cara, muito mais segura para quem caminha. As calçadas foram estendidas em todas as esquinas, duas vagas de estacionamento se tornaram espaços de convívio, uma rotatória foi incluída e as ilhas de refúgio aumentadas. Com isso, houve uma diminuição da velocidade dos veículos e o pedestre passou a ganhar preferência na negociação, com travessias mais curtas.

Na Rua Dr. César, ampliou-se uma ilha de refúgio onde normalmente as pessoas precisam ficar apertadas, organizando o fluxo. Na conversão também foi feita uma canalização para os veículos, o que induz o motorista a reduzir a velocidade antes da curva. Obstáculos, como vasos de plantas, foram posicionados para que os pedestres não atravessassem em diagonal, fora da faixa, em lugares inadequados. A pintura foi realizada durante a noite, com apoio da Companhia de Engenharia de Trafego (CET). 

O objetivo da ação era sensibilizar a população para a segurança viária e o impacto do desenho urbano na experiência de caminhar pela cidade. A região tem alto fluxo de pedestres e é próxima a estações de metrô e ônibus. "Quando a intervenção ficou pronta, a reação das pessoas foi imediata. Um ônibus parou para duas senhoras e uma delas me procurou e disse: 'moro há 82 anos no bairro e nunca um ônibus havia parado tão rápido para eu atravessar'. Foi perceptível como o desenho da rua muda o comportamento das pessoas, tanto pedestres, que se beneficiam das travessias, quanto motoristas, ciclistas e todos os outros usuários, que respeitam mais", conta Diogo Lemos, analista de Segurança Viária do WRI Brasil. 

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p>A equipe do WRI Brasil aproveitou o momento de interação com a população para aplicar uma pesquisa sobre o fluxo de pedestres no entorno da estação Santana. Os moradores marcaram em um mapa o caminho que percorrem para chegar e sair da estação e destacaram os motivos que trazem insegurança a quem caminha no bairro.