Colisões no trânsito matam mais de 1,2 milhões de pessoas ao ano no mundo, quase o mesmo número de mortes provocadas por HIV/AIDS. Mas existe uma abordagem ainda subvalorizada que pode levar mais segurança para as ruas do mundo: um bom projeto urbano.

Enquanto a maioria das iniciativas de segurança no trânsito costumam focar em abordagens de comportamento – como campanhas para uso de capacete e cinto de segurança – uma nova publicação da iniciativa de mobilidade sustentável EMBARQ, do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis, aponta sete princípios de design que podem auxiliar cidades a diminuir bastante os números de mortes em suas vias. Acompanhe nos gráficos abaixo como autoridades locais e urbanistas podem projetar ambientes urbanos mais seguros e sustentáveis:

1) Evitar a expansão urbana

Cidades compactas e integradas costumam ser mais seguras que as espalhadas sobre uma área maior. As cidades compactas de Estolcomo e Tóquio apresentam os menores índices de fatalidades no trânsito do mundo – menos de 1,5 morte para cada 100 mil moradores. Já a extensa Atlanta tem uma taxa de mortes seis vezes maior: nove fatalidades para cada 100 mil pessoas.

/sites/default/files/city_traffic_deaths.png Figura: Dados de fatalidades no trânsito para cada 100 mil habitantes, em algumas cidades ao redor do mundo. Índices divulgados de fatalidaes (a cada 100.000 habitantes)

As cidades devem aspirar por quadras menores, ruas acessíveis para pedestres e conjuntos densos de moradias, permitindo assim um acesso a pé para outros transportes e para espaços públicos e de diversão. Isso reduz a necessidade de dirigir e garante um espaço seguro para caminhadas e pedaladas.

/sites/default/files/city_sprawl.png Figura: Cidades extensas vs. cidades compactas e integradas

2) Diminuir limites de velocidade

A diminuição do limite de velocidade para automóveis, particularmente abaixo dos 40 km/h a 50 km/h, reduz drasticamente o risco de fatalidades.

/sites/default/files/city_speed.png Figura: O risco de morte do pedestre diminui com limites de velocidades menores

As cidades podem implementar zonas de baixa velocidade e “áreas amortecedoras de tráfego”, com lombadas, chicanas (curvas em formato de ‘S’), avanços de esquina e passarelas. Pesquisas mostram que lombadas podem reduzir a velocidade dos veículos de mais de 36 km/h para menos de 25 km/h. Paris, por exemplo, vem usando ferramentas do tipo para criar vias com limites de velocidade de 30 km/h.

3) Garantir ruas seguras para todos, não só para carros

A garantia de segurança é particularmente importante para as vias principais, as mais movimentadas, onde pedestres e motoristas geralmente se misturam. Um movimento crescente em prol de “vias completas” significa que todos os tipos de usuários terão uma passagem segura pelo espaço que lhes cabe na via. Por exemplo: ilhas de refúgio e canteiros centrais dão a pedestres locais seguros ao atravessar ruas. Para cada metro de largura de vias desprotegidas na Cidade do México, por exemplo, há um aumento de 3% de acidentes com pedestres. Recentemente, uma de suas vias mais movimentadas, a Avenida Eduardo Molina, foi reformada como uma via completa, com acessos específicos para cada tipo de usuário, ciclovias e canteiros centrais para pedestres. Mudanças semelhantes - mas menos impactantes - no design das ruas da cidade resultaram numa queda de 40% no número de fatalidades.

/sites/default/files/city_complete_street.png Figura: Uma “via completa” na Cidade do México

A Avenida Eduardo Molina, na Cidade do México – uma via arterial com faixas exclusivas para ônibus e bicicletas, calçadas reformadas e canteiros centrais verdes em alguns trechos – acomodando transporte público, veículos, ciclistas e pedestres.

4) Crie espaços para pedestres

Mais de 270 mil pedestres perdem suas vidas todo ano em estradas ao redor do mundo. Se pedestres não possuem um espaço de qualidade, estão expostos a riscos maiores. Espaço básico nas calçadas é necessário, mas ruas exclusivas para pedestres e calçadões podem ser ferramentas eficientes na proteção dos pedestres. Nos últimos anos, Nova York vem liderando uma mudança global na transformação de ruas para carros em calçadões para pedestres, calçadas reformadas e áreas livres de carros. Um exemplo: atualmente, grande parte da região da Times Square só é acessível para ciclistas e pedestres. A velocidade na cidade caiu em 16%, e as colisões com ferimentos caíram 26% nas ruas que possuem calçadões.

/sites/default/files/city_nyc.png Figura: Programa de Espaços Públicos de Nova York Antes/Depois

5) Garantir uma rede interligada e segura para ciclistas

Estudos de várias cidades mostram que os índices de ferimentos caem e mais pessoas passam a pedalar quando há uma infraestrutura dedicada para ciclistas, como ciclovias e trechos exclusivos fora das ruas. Essa rede deve interligar áreas residenciais às de comércio e varejo, escolas, parques e transportes públicos.

/sites/default/files/city_bikes.png Figura: Rede para ciclistas conectada a destinos importantes. Verde: Trechos exclusivos fora das ruas. Vermelho: Ciclovias. Vermelho fino: Ciclovias protegidas. Azul: Avenida para bicicletas

Dados de Bogotá, na Colômbia, mostram que a implementação de mais de 100 quilômetros de ciclovias reduziu em 47,2% as mortes de ciclistas entre 2003 e 2013, e aumentou o uso de bicicletas em trajetos diários de 3% para mais de 6%.

6) Garantir o acesso seguro a transportes públicos de alta qualidade

Transporte público de alta qualidade leva mais gente e está sujeito a menos acidentes que veículos de uso privado. Segundo pesquisas, os sistemas de corredores exclusivos de ônibus Bus Rapid Transit (BRT) conseguem reduzir mortes e acidentes de trânsito em 50%. Mas não é o suficiente providenciar só esse meio de transporte. Urbanistas precisam garantir o acesso seguro para os usuários. Em Belo Horizonte, foi lançado recentemente o BRT-MOVE, que transporta cerca de 700 mil passageiros por dia. A cidade reconstruiu ruas centrais e criou faixas exclusivas para ônibus com faixas de pedestres de fácil acesso. Esse sistema facilita o acesso seguro dos usuários aos ônibus, da espera ao embarque.

/sites/default/files/city_brt.png Figura: Acesso seguro de pedestres às estações BRT

7) Use dados para detectar problemas

As cidades devem mergulhar numa análise de dados para identificar problemas urgentes nas vias, onde todas as soluções citadas acima podem ser integradas. Com isso, as cidades conseguem acessar dados confiáveis de colisões de trânsito, que podem ser mapeadas e analisadas, como o exemplo abaixo, de Eskisehir, na Turquia, que usou o software PTV Visum Safety para criar mapas de calor em locais de colisões.

/sites/default/files/city_heat_map.png Figura: Mapa de calor das colisões em Eskisehir, Turquia

Londres também usou análise de dados e mapeamento para incrementar seus dados de colisões. Com isso, autoridades locais descobriram que o aumento na morte de ciclistas era provocado por acidentes com caminhões de entregas de produtos no centro da cidade. Desde então, a cidade vem desenvolvendo um programa-teste para relocar essas entregas durante períodos de pouco tráfego de ciclistas. Ruas mais seguras para um mundo mais seguro

Ruas Mais Seguras Para um Mundo Mais Seguro

Vivemos num mundo cada vez mais urbano: as cidades vão abrigar 70% da população global até 2030. Projetar cidades seguras agora vai garantir a proteção dos cidadãos de hoje e do futuro.


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