4 coisas que você precisa saber sobre o desafio global de adaptação
Este post foi escrito por Manish Bapna, Christina Chan e Carter Brandon e publicado originalmente no WRI Insights.
Ao longo da história, a humanidade demonstrou uma extraordinária capacidade de engenhosidade e resiliência diante de desafios extremos – recuperação em cenários pós-guerra, erradicação de doenças, combate à desigualdade e opressão.
Hoje, a Comissão Global de Adaptação apela a esse espírito e determinação para responder ao grande desafio do nosso tempo: as mudanças climáticas. O novo estudo conclama lideranças em todo o mundo a acelerar a adaptação climática para criar economias e comunidades mais fortes, seguras e prósperas.
Os impactos das mudanças no clima estão acontecendo aqui, agora, devastando populações e economias. Precisamos elevar nossa ambição em ações de mitigação. Ao mesmo tempo, não podemos mais adiar o investimento em adaptação e pagar um custo cada vez mais alto em vidas perdidas.
Precisamos mudar profundamente a maneira como olhamos para a adaptação e, principalmente, como agimos em relação a isso. O novo relatório da Comissão Global de Adaptação mostra como. A seguir, elencamos quatro pontos essenciais sobre o documento Adapt Now: A Global Call for Leadership on Climate Resilience (“Adaptação agora: um apelo global por liderança na resiliência climática”, em tradução livre).
Casal em Bangladesh planta pimentões em sua casa adaptada às mudanças climáticas (Foto: WorldFish/Flickr)
1. Adaptação é um bom investimento
Ações de adaptação podem ser um dos investimentos mais eficientes que um país, cidade ou empresa pode fazer. A pesquisa lançada nesta semana mostrou que a taxa geral de retorno dos investimentos em resiliência é extremamente atrativa. Investir US$ 1,8 trilhão em todo o mundo entre 2020 e 2030 poderia gerar até US$ 7,1 trilhões em benefícios líquidos totais. Esse investimento foi calculado considerando cinco áreas: sistemas de alerta, infraestrutura resiliente, agricultura em terras secas, proteção de mangues e gestão resiliente dos recursos hídricos.
Não é só a economia que se beneficia. O investimento em adaptação também traz benefícios sociais e ambientais. Considere a Barreira do Tamisa, uma das maiores barreiras móveis contra inundações do mundo. A barreira ajuda a proteger 1,3 milhão de pessoas e US$ 340 bilhões em propriedades e infraestrutura contra inundações. Ao reduzir o risco de impactos climáticos, essa estrutura também incentivou o investimento e ajudou a criar o movimentado distrito comercial de Canary Wharf, em Londres. A restauração de manguezais é outro exemplo: em países como a Tailândia e as Filipinas, os mangues ajudam a proteger as comunidades costeiras de tempestades extremas. Ao mesmo tempo, criam o habitat ideal para a pesca local e oportunidades de turismo, aumentando a prosperidade dos países.
Esses múltiplos benefícios da adaptação foram amplamente ignorados pelos tomadores de decisão por muito tempo. Uma melhor conscientização do “dividendo triplo” da adaptação torna a urgência de agir ainda mais forte.
2. Revoluções no entendimento, planejamento e financiamento são necessárias para acelerar a adaptação
Com todos esses retornos, por que não vemos a adaptação ganhar escala? Porque algumas das barreiras ainda permanecem no caminho – o entendimento de quem e o que está em risco, preconceitos de curto prazo, silos institucionais e estruturas de poder existentes. Precisamos de revoluções nesses três níveis para garantir que a adaptação ganhe força e espaço na tomada de decisão em todos os níveis, tanto no setor público quanto no privado.
Uma revolução no entendimento garantirá que os riscos climáticos enfrentados pelas sociedades e economias sejam visíveis e refletidos na tomada de decisão. Uma revolução no planejamento melhorará a maneira como integramos o risco climático nas decisões políticas e de investimento e a forma como implementamos soluções. E ajudará a dar escala a soluções mais resilientes e economicamente eficientes.
3. Aplicar essas revoluções a sistemas-chave afetados pelas mudanças climáticas construirá um futuro mais resiliente
O mundo precisa priorizar a ação em sete sistemas principais, a fim de aumentar a resiliência: alimentos, ambiente natural, água, cidades, infraestrutura, gerenciamento de riscos de desastres e financiamento. O novo estudo elenca recomendações em cada uma dessas áreas para impulsionar a adaptação.
Por exemplo: incorporar soluções baseadas na natureza na forma como governos e empresas gerenciam os riscos climáticos pode aumentar a resiliência de uma maneira rentável economicamente. O México adotou essa abordagem ao identificar e designar “reservas de água”, áreas que cobrem mais de um terço das bacias hidrográficas do país – quase 50 milhões de hectares. Sendo uma mistura de áreas protegidas e zonas úmidas, essas reservas ajudam a manter fluxos adequados, protegendo o abastecimento de água de 45 milhões de pessoas.
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Mulher colhendo arroz no Nepal (Foto: Neil Palmer/CIAT)
4. Esse é um ano crucial para a ação
Vivemos tempos urgentes. Os próximos 15 meses – até a COP26 em 2020 – são cruciais para mobilizar ação no combate às mudanças climáticas. Por meio dos compromissos dos comissários e em parceria com outros, a Comissão Global de Adaptação dedicará os próximos meses a um conjunto de linhas de ação essenciais para impulsionar as transições necessárias.
Essas linhas de ação incluem esforços para integrar os riscos climáticos em todos os aspectos do planejamento financeiro nacional e no processo de tomada de decisão, duplicando a escala da pesquisa agrícola focada em resiliência climática e aumentando significativamente os recursos disponíveis para organizações comunitárias que realizam trabalhos de adaptação. Vamos defender essas linhas de ação na próxima Cúpula de Ação Climática da ONU. E convidamos todos – governos, setor privado, organizações da sociedade civil e as pessoas – a se juntarem a nós à medida que avançamos nessa agenda. Juntos, podemos adaptar nosso mundo.