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Em todo o mundo, práticas não sustentáveis de gestão dos solos, o aumento da fragmentação, a degradação das florestas e de outros ecossistemas e a monocultura estão colocando em risco a natureza, o clima e os meios de subsistência. À medida que o solo se degrada em decorrência de práticas agrícolas e de pastagem que agridem o meio ambiente, as comunidades encontram cada vez mais dificuldade para produzir alimentos suficientes. Tudo isso tem um impacto profundo na segurança nutricional, principalmente para os grupos mais vulneráveis. E, em paralelo, a perda de biodiversidade alcança taxas sem precedentes.

Estima-se que mais de metade do PIB mundial – US$ 44 bilhões – depende da natureza e dos serviços que ela fornece. A perda de natureza e biodiversidade, portanto, não só prejudica a economia como põe em risco o acesso ao ar, solo e água limpos, necessários para uma boa alimentação e para a manutenção da saúde.

Uma abordagem de restauração na escala das paisagens pode aumentar a produtividade e o rendimento na agricultura, tornar a terra mais resiliente a fenômenos climáticos extremos e aumentar a biodiversidade, além de absorver o dióxido de carbono que prejudica o planeta.

Uma abordagem de restauração como essa funciona por meio de mudanças na gestão dos solos – como aumentar a diversidade de culturas ou evitar o desmatamento de árvores e da vegetação em geral, a fim de melhorar as condições do ecossistema local e tornar o solo mais fértil. A restauração é possível por meio de práticas como agroflorestas (cultivo de árvores entre as culturas), sistemas silvopastoris (cultivo de árvores em pastagens), plantio de árvores em áreas florestais degradadas e regeneração natural.

À medida que essas soluções se tornam mais atrativas a investimentos dos setores público e privado, os projetos de restauração precisam prever mais fiscalização e garantir a capacidade de sobrevivência e sustentabilidade das soluções, além de gerar impactos capazes de atrair novos investimentos. Ou seja, precisam ser bem estruturados, priorizando investimentos ecológicos e liderados pela comunidade local e que gerem retornos financeiros para investidores, gestores e proprietários de terras. Isso porque, cada vez mais, as empresas que investem em projetos de restauração exigem práticas de prestação de contas e comprovações de devida diligência para os seus investimentos.

Para ajudar esses projetos e garantir mais investimentos, o WRI e seus parceiros criaram o Restoration Launchpad Guidebook, um guia com o passo a passo dos processos de planejamento e implementação de projetos de restauração na escala das paisagens, a fim de contribuir para o planejamento, desenvolvimento, implementação e monitoramento dos projetos.

O guia fornece uma estrutura para aliar metas de conservação e desenvolvimento em uma mesma paisagem – com foco nas pessoas e reunindo as principais partes interessadas para solucionar desafios como degradação da terra, conservação dos recursos naturais e melhora dos rendimentos e meios de subsistência locais.

homem segura equipamento usado para apicultura na índia
A apicultura está entre as diversas atividades que podem ser incluídas em um projeto de restauração na escala da paisagem (foto: WRI Índia)

Quando realizada de forma sistemática tanto na etapa de planejamento quanto de implementação, a restauração na escala das paisagens pode permitir uma gestão adaptativa com foco nas metas de conservação e, ao mesmo tempo, de redução da pobreza.

O guia lançado pelo WRI propõe uma estrutura para que planejadores e demais profissionais da área possam planejar projetos de restauração do início ao fim, integrando boas práticas recomendadas por diversos especialistas em restauração, desde desenvolvedores de projetos até financiadores e implementadores. Se necessário, o guia também pode ser utilizado em projetos de restauração já em andamento, para preencher possíveis lacunas e reavaliar questões sociais, econômicas, ecológicas e financeiras.

5 etapas essenciais de projetos de restauração

O guia identifica cinco etapas essenciais aos projetos de restauração: escopo, planejamento, financiamento, implementação e monitoramento. Cada uma explora aspectos fundamentais para conduzir a restauração de forma eficaz, junto a um checklist que planejadores e profissionais podem usar para acompanhar o avanço dos projetos e garantir que todos os tópicos foram considerados. Esses checklists podem ser usados, adaptados e aprimorados para apoiar o andamento dos projetos de restauração na prática e ajudar a atrair financiamento para a natureza e as comunidades.

1) Escopo

A definição do escopo exige uma avaliação do contexto ecológico, social, econômico, financeiro e regulatório de qualquer possível local para o projeto, a fim de determinar as áreas onde a restauração é mais viável. A identificação da paisagem e das metas para a área pode variar se o projeto for conduzido por uma empresa implementadora ou por uma comunidade local, por exemplo. As principais ações necessárias incluem:

  • Definir metas de restauração
  • Mapear oportunidades de restauração e priorizar paisagens e intervenções
  • Identificar as principais condições facilitadoras e barreiras
  • Analisar as compensações e desenvolver uma estratégia para mitigar os riscos
  • Selecionar uma área para o projeto
  • Determinar uma proposta de valor

2) Planejamento

Planejar um projeto eficaz exige que todos os processos internos e externos sejam conceituados, definidos e organizados pelos profissionais que também estarão envolvidos durante a implementação. As principais ações incluem:

  • Definir intervenções de restauração
  • Gerenciar as principais atividades
  • Assegurar os recursos
  • Envolver atores-chave e estabelecer parcerias
  • Adotar protocolos, padrões e certificações

3) Financiamento

O financiamento é um elemento fundamental desde o conceito até a implementação dos projetos. É preciso garantir um orçamento efetivo, alocação de recursos e diferentes opções de financiamento. Os principais aspectos que precisam ser considerados são:

  • Fontes de receita
  • Custos
  • Opções de financiamento
  • Financiadores

4) Implementação

A implementação do projeto é o processo de realizar intervenções de restauração na prática, trabalhando com proprietários de terras e comunidades para corrigir e preparar o local. Envolve intervenções como plantio, regeneração e cultivo de árvores, mitigação de riscos e o monitoramento dos avanços nas fases iniciais, quando são feitos testes de viabilidade das espécies. As principais considerações em relação a essa etapa incluem:

  • Preparar o local e os recursos necessários
  • Plantar, regenerar e cultivar
  • Fazer a manutenção da área e dos recursos necessários

5) Monitoramento

O monitoramento é baseado no processo de implementação como um todo. Nessa etapa, o desempenho de um projeto é avaliado em termos de parâmetros ecológicos, sociais e econômicos, criando oportunidades para uma gestão adaptativa e embasando a tomada de decisões para o projeto avançar. As principais considerações relacionadas ao monitoramento são:

  • Desempenho
  • Processos adaptativos de aprendizado e gestão
  • Dimensionamento e saída
Mulheres cultivam mudas para melhorar o crescimento e a qualidade dos cultivos na África
Mulheres cultivam mudas para melhorar o crescimento e a qualidade dos cultivos na África. Uma abordagem de restauração na escala da paisagem funciona por meio de práticas de gestão do uso da terra, como aumentar a diversidade de culturas ou evitar o desmatamento de árvores e da vegetação, a fim de melhorar as condições do ecossistema e tornar o solo mais fértil (foto: Arcos Network)

Escopo do guia Restoration Launchpad

O guia Restoration Launchpad apresenta abordagens, etapas e princípios de ampla aplicabilidade. Encorajamos planejadores e demais profissionais da área a adotar e adaptar o conteúdo do guia a diferentes contextos e, com isso, desenvolver projetos de restauração ecologicamente sustentáveis, socialmente inclusivos e economicamente viáveis para estimular uma economia da restauração.

À medida que os esforços para conter a perda de biodiversidade crescem em todo o mundo por meio de ações de larga escala, projetos individuais de restauração podem contribuir com esses objetivos. O Restoration Lauchpad complementa os objetivos de iniciativas como a AFR100, da África, a Iniciativa 20x20 e o Desafio de Bonn, contribuindo para que a restauração aconteça nos locais certos, com os usos certos e com as espécies certas.