Uma rua histórica para servir de exemplo em Campinas
Desenhar mudanças em uma rua central de uma cidade como Campinas é um trabalho que exige muitas mãos. Criar um espaço de discussão foi o objetivo do encontro promovido pelo WRI Brasil e pela Prefeitura de Campinas para dar seguimento ao seu projeto de Ruas Completas. Cidade membro da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono, Campinas selecionou sete quadras da Rua José Paulino, localizada na região central, para melhor hierarquizar seu uso, que contempla um grande fluxo de pedestres, carros e ônibus. Cerca de 40 pessoas participaram do encontro para conhecer o projeto e dar suas primeiras contribuições.
Evento em Campinas teve a participação de cerca de 40 pessoas. (Foto: Daniel Hunter/WRI Brasil)
Transformar a José Paulino é mais uma peça dentro de uma estratégia de requalificação do centro de Campinas e de toda a cidade. Esse esforço está inserido em um dos polos estratégicos de desenvolvimento urbano previstos no novo Plano Diretor. Para conseguir priorizar a caminhada, a bicicleta e o uso do transporte coletivo ao longo da José Paulino, a cidade trabalha para o estabelecer o seu Plano Cicloviário e também para readequar o sistema de linhas de transporte coletivo, para dar mais eficiência ao serviço. “Hoje é um dia de apresentar as ideias do projeto. Nós pretendemos fazê-lo não de uma maneira impositiva. Viemos trazer a nossa ideia, explicar os motivos da escolha da José Paulino, e ouvir vocês”, explicou Carlos José Barreiro, secretário de Transportes e presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec).
O trecho localizado entre as Avenidas Moraes Sales e Benjamin Constant, de cerca de 550 metros, dá espaço a comércio, uma sede do Corpo de Bombeiros e à Catedral Metropolitana de Campinas, construção inaugurada em 1883, hoje tombada pelo patrimônio histórico, e que é considerada a maior edificação feita em taipa de pilão ainda em uso no mundo.
Como destacou o secretário, são diversas as razões pela escolha da José Paulino, entre elas por ela ser paralela à avenida Francisco Glicério, via recentemente revitalizada; estar em um local estratégico para permitir a criação de um binário no sistema de transporte; estar próxima de um futuro importante terminal com a implantação do BRT e estar em um local importante para a valorização da região central. “Queremos inverter uma balança que, hoje, pende muito para o carro, para pender para o pedestre, o ciclista e o transporte público. A rua precisa deixar de servir ao carro e passar a servir a todos”, ressaltou Marcelo José Vieira Oliveira, gerente de divisão da Divisão de Inovação e Tecnologia para Mobilidade Urbana (DPI). “As pessoas não precisam apenas passar pela José Paulino, mas têm de poder usufruir dela. Isso vai ter reflexos, é claro, no comércio local, mas também na qualidade de vida das pessoas”, completou.
Uma das principais preocupações reveladas pelos comerciantes, moradores e equipe técnica da prefeitura é a manutenção dos serviços de transporte coletivo que atendem a região. Contagens na Rua José Paulino apontaram que cerca de 140 ônibus passam pelo trecho na hora pico, número muito alto e que indica uma possível readequação nos itinerários e horários das linhas de ônibus, porém sem que os usuários sejam prejudicados.
Moradores e comerciantes locais puderam conhecer as ideias do projeto e acrescentar pontos importantes. (Foto: Daniel Hunter/WRI Brasil)
"Tenho uma preocupação com o ambiente e com os moradores da região. Precisamos de um local mais limpo, onde as pessoas tenham uma melhor qualidade de vida principalmente quando falamos na questão do ar que respiramos. É extremamente importante pensarmos na saúde das pessoas”, lembrou Vanusa Aparecida da Silva, moradora da região. A José Paulino está situada na Área Branca, projeto em desenvolvimento em Campinas que irá formar um anel viário na região central onde apenas veículos não poluentes poderão circular, como os ônibus elétricos.
O uso noturno da Rua José Paulino e do seu entorno também foi uma questão levantada pelos presentes no encontro. "Um comércio que permaneça aberto depois das 18h, isso significa ter uma cidade ativa. O advento dos shoppings levou grande parte dos consumidores para lá, mas quem é morador do centro sabe que é possível viver o centro à noite também", exaltou Walquíria Sonati, da Secretaria Municipal de Relações Institucionais de Campinas e antiga moradora da região.
A presença de um quartel do Corpo de Bombeiros é um elemento de grande importância no contexto da Rua José Paulino. “O Corpo de Bombeiros pode falar bem da José Paulino, pois está na rua desde 1906. Nossa preocupação é ter fluidez na rua, para que possamos atender os chamados de emergência”, disse Leonardo Henrique Simões Matos, do Corpo de Bombeiros. “A vocação da José Paulino é comercial e residencial, muita gente mora nela. Mas há algum tempo esse lado residencial foi esquecido. Hoje, há uma tendência em todas as cidades de revitalizar as áreas centrais. Já tivemos o advento da avenida Francisco Glicério e esse projeto na José Paulino vai complementar essas ações”, afirmou Walquíria.
A meta de Campinas é ter sua primeira Rua Completa até 2020. O atual projeto ainda passará por diversos outros debates para que atenda com eficiência as necessidades da rua e do seu entorno. Uma dinâmica realizada durante o encontro servirá como base para o estudo dos principais problemas e soluções do local.
Dinâmica permitiu que os participantes indicassem os principais problemas e soluções para a Rua José Paulino (Foto: Daniel Hunter/WRI Brasil)
Ruas Completas
Com a proposta de estimular projetos-piloto de ruas mais seguras e inclusivas, o projeto, desenvolvido pelo WRI Brasil em parceria com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), propõe que o município escolha uma via para aplicar o conceito. O objetivo é garantir acesso a todos os usuários, sejam eles pedestres, motoristas, ciclistas ou usuários de transporte coletivo. Iniciado em 2017, no IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS), o projeto apoia o desenvolvimento de Ruas Completas em dez municípios e o Distrito Federal, integrantes da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono.