Melhorar o transporte público requer um olhar atento não apenas para veículos e itinerários, mas para como as pessoas entram e saem deles. Com frequência se vê o planejamento urbano não levar em conta todos os tipos de pessoas e como elas usam um sistema de transporte.

No Brasil, quase 25% da população tem mobilidade reduzida. A população do país também está envelhecendo – é a quinta mais idosa do mundo. Em 2030, é provável que a população de idosos ultrapasse a de crianças. Apesar de as cidades brasileiras terem sido pioneiras em algumas inovações de transporte, a acessibilidade para os mais vulneráveis permanece um grande desafio.

Belo Horizonte, por exemplo. A cidade de cinco milhões de habitantes tem um sistema avançado de Bus Rapid Transit (BRT) e o melhor índice de qualidade de vida da América Latina, segundo a ONU. Mas uma análise sobre algumas decisões feitas no projeto mostram graves problemas de segurança, ainda mais para uma população que está envelhecendo.

Em 2016, Belo Horizonte produziu uma inspeção de acessibilidade de suas estações de BRT e arredores. A avaliação incluiu calçadas, rampas, travessias e passarelas de pedestres e outros elementos. Encontrou, entre outras coisas, problemas evidentes de acessibilidade nas estações, que estão obrigando os passageiros a padrões de comportamento perigosos.

O mapa abaixo mostra uma estação do corredor de BRT. Ela tem duas plataformas de embarque, uma para as linhas da cidade e outra para ônibus intermunicipais. Os pontos de acesso para ambas as plataformas são duas passarelas de pedestres e há uma travessia de pedestres no nível da rua com um semáforo entre as duas.

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Digamos que um pedestre na foto abaixo queira acessar uma das plataformas da estação. Parece que a opção melhor e mais direta é atravessar a rua no nível do solo e chegar à plataforma de embarque. Mas, na verdade, as estações não têm portas no lado da faixa de pedestres e não há um caminho para pedestres entre as plataformas.

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Em vez disso, os pedestres devem usar as passarelas com rampas para cruzar a avenida e chegar ao outro lado das plataformas.

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fotos: Marcelo Araújo/WRI Brasil

Essas decisões de desenho urbano tiveram várias consequências.

Primeiro, muitas pessoas ainda tentar usar o caminho mais direto no nível da rua e caminham para as plataformas pela grama. Quando elas chegam e percebem que não há porta, são obrigadas a entrar na pista do BRT para escalar a plataforma ou precisam voltar e fazer um trajeto ainda maior para chegar às passarelas.

Seguir a rota mais longa e segura é desgastante para idosos e pessoas com mobilidade reduzida, que precisam subir rampas longas. O que é simplesmente uma complicação para quem não tem nenhum problema, se torna uma verdadeira barreira para quem tem.

Belo Horizonte está desenvolvendo planos para melhorar a acessibilidade das estações de BRT, graças a essa inspeção. É um assunto complexo de planejamento urbano, que as cidades precisam trabalhar constantemente em ajustes e avaliações para aumentar a qualidade dos seus sistemas de mobilidade.

Em muitos projetos de transporte coletivo, o planejamento da acessibilidade continua sendo algo lembrado depois de finalizado.

Muitas vezes, o número baixo de pessoas idosas ou com mobilidade reduzida utilizando o transporte coletivo não é porque essas pessoas não existem ou não querem, mas porque simplesmente não conseguem. É importante que as cidades minimizem os obstáculos da mobilidade urbana, priorizando o deslocamento das pessoas e não apenas de alguns modos de transporte ou tipos de veículos. É preciso levar em consideração a diversidade. Belo Horizonte mostra que um olhar mais atento beneficia não apenas os idosos ou com mobilidade reduzida, mas a todos os usuários.