Este blog foi publicado originalmente no Insights.

Esta publicação faz parte de nossa análise das emissões por setor a partir dos dados do Climate Watch. Também publicado: Agricultura.


Pessoas e mercadorias movimentam-se em velocidades e por distâncias maiores do que nunca. Todo esse movimento tem um custo – não apenas o preço de um carro novo, de uma passagem de trem ou do transporte marítimo, mas também um custo ambiental. Uma parcela significativa do nosso orçamento de carbono é consumida pelo transporte.

As emissões de transporte – que envolvem principalmente transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo – representaram mais de 24% das emissões globais de CO2 em 2016. Também é esperado que elas cresçam a uma taxa mais rápida do que a de qualquer outro setor, representando um grande desafio para os compromissos de redução de emissões firmados no Acordo de Paris e em outros objetivos globais.

A descarbonização do setor de transportes criaria um futuro mais limpo, saudável e sustentável para todos. E isso pode ser feito sem sacrificar a interconectividade que esperamos da modernidade.

Mas qual o impacto das emissões de transporte? Como os países têm lidado com elas e quais são as novas oportunidades de descarbonização? Para entender melhor essas perguntas, usamos o Climate Watch para examinar os dados de perto.

1. Qual é o problema das emissões do transporte?

As emissões do setor de transportes são as principais contribuidoras para as mudanças climáticas – cerca de 14% das emissões anuais (incluindo gases não-CO2) e cerca de um quarto das emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis.

Ainda mais preocupante: as emissões globais precisam diminuir, mas as emissões de transporte estão aumentando, com as melhorias na eficiência dos veículos sendo ultrapassadas pelo maior volume de viagens.

Tomemos os Estados Unidos como exemplo. Depois de experimentar um declínio nas emissões relacionadas ao transporte em relação ao pico em 2005, as emissões atingiram o nível máximo e têm aumentado a cada ano desde 2012. Em 2016, o setor de transportes superou o setor de energia elétrica como o maior emissor de GEE dos EUA pela primeira vez.

2. De onde vêm as emissões de transporte?

Quanto ao tipo de transporte, 72% das emissões globais são provenientes de veículos rodoviários, responsáveis ​​por 80% do aumento das emissões entre 1970 e 2010.

As emissões também aumentaram em outros meios, como aviação internacional, aviação doméstica e transporte marítimo internacional e costeiro. A principal exceção são as ferrovias: em grande parte alimentadas por eletricidade, as emissões ferroviárias realmente diminuíram.

<p>De onde vêm as emissões do transporte</p>

3. Quais países são os principais responsáveis ​​pelas emissões de transporte?

Em termos geográficos, as emissões de transporte provêm principalmente de países de renda média alta e alta. Em comparação, o sul da Ásia e a África Subsaariana contribuem menos do que outras regiões.

Os 10 países com mais emissões de transporte em 2014 foram (em ordem decrescente): Estados Unidos, China, Rússia, Índia, Brasil, Japão, Canadá, Alemanha, México e Irã. Juntos, contribuíram com 53% das emissões globais.

4. De que fontes de energia o transporte depende?

O uso de energia para o setor de transportes é produto de quão longe você vai e como chega lá. O consumo total de energia para o transporte aumentou cerca de 44% nos primeiros 15 anos do século 21; as emissões totais aumentaram apenas 31%, refletindo algum crescimento da eficiência. A demanda por petróleo no setor de transportes aumentou cerca de 25%; o transporte permanece extremamente dependente do petróleo, e o setor representou cerca de dois terços do consumo global de petróleo em 2015, sendo o transporte rodoviário responsável por metade do consumo de petróleo. A participação da eletricidade no consumo de energia dos transportes aumentou marginalmente de 0,7% em 2000 para 1% em 2015. Curiosamente, as ferrovias são movidas por uma parcela significativa de eletricidade (39%) em comparação a 56% de derivados de petróleo. O restante do aumento do consumo de energia vem de um aumento no consumo de gasolina, diesel, eletricidade e outros combustíveis.

<p>De onde vêm as emissões do transporte</p>

O uso de energia no setor de transportes provavelmente continuará aumentando nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. A maioria dos cenários energéticos – incluindo aqueles que levam em conta os compromissos nacionais no âmbito do Acordo de Paris – mostram que o consumo de energia relacionado ao transporte continuará aumentando e o petróleo seguirá constituindo a maior parcela até 2050. A dependência dos combustíveis fósseis precisa mudar drasticamente para ser consistente com uma trajetória de limitação do aumento da temperatura global abaixo de 2°C.

5. Como podemos reduzir as emissões do transporte?

Para manter o aumento da temperatura dentro de uma faixa que evite os piores impactos climáticos, uma modelagem da Agência Internacional de Energia sugere que as emissões de transporte precisam atingir o pico por volta de 2020. A transição para o transporte de emissão zero é uma etapa crucial em direção a um futuro habitável. Para chegar lá, é necessário um conjunto abrangente de melhorias, que passa por combustíveis limpos, eficiência de veículos, a maneira como construímos cidades e como movemos pessoas e mercadorias.

A eletrificação é uma parte importante da solução para o desafio de reduzir as emissões do setor de transporte, pois elimina as emissões do escapamento e contribui para a oportunidade de descarbonizar a matriz elétrica. Por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental americana informou que veículos a combustível alternativa estão "começando a ter um impacto mensurável e significativo para veículos novos tanto na economia de combustível quanto nas emissões de CO2", aumentando a economia geral de combustível em 2016 em 0,1 milha por galão (0,4km/L), mesmo que isso represente apenas 1% da produção de veículos novos nos Estados Unidos. Até 2050, a participação da eletricidade no consumo de energia dos transportes precisa aumentar sete vezes em relação ao nível de 2011. No entanto, as emissões da geração e transmissão de eletricidade também devem ser levadas em consideração para decidir se a eletrificação faz sentido em um determinado local.

Padrões mais rigorosos de eficiência de combustível, não apenas para carros de passeio, mas também veículos pesados, como ônibus e caminhões, também são cruciais para reduzir as emissões de transporte. O transporte de mercadorias consome cerca de 40% da energia utilizada no setor de transporte. As empresas privadas também vêm adotando iniciativas como a produção e prototipagem de caminhões com emissão zero e comprometendo-se com a neutralidade de carbono até a metade do século.

O transporte público pode transportar pessoas com muito mais eficiência do que veículos particulares. O foco no transporte público também foi integrado à eletrificação, ampliando as redes de transporte e outros serviços de transporte urbano. Por exemplo, ônibus elétricos estão ganhando terreno na China e no Chile.

Um melhor planejamento da cidade e o incentivo a diferentes centralidades ​​poderiam reduzir ainda mais a demanda de transporte e, assim, reduzir as emissões, oferecendo acesso a meios de transporte como transporte público, bicicleta e caminhada, melhores do que veículos motorizados individuais.

A nova mobilidade poderia promover o uso de carros e bicicletas compartilhados, além de integrar os avanços das tecnologias elétricas, autônomas e orientadas por dados. Se as cidades adotarem a automação, a eletrificação e o compartilhamento de viagens, pesquisas apontam que poderiam reduzir as emissões de transporte em 80%. Em consideração à equidade, acessibilidade e sustentabilidade, a nova mobilidade pode ter um efeito maior na mudança de comportamento e na regulamentação de políticas.

Atualmente, cerca de uma em cada cinco contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) apresentadas no Acordo de Paris incluem metas quantificadas de mitigação para o transporte. Uma pequena porção delas inclui metas para transporte público e veículos elétricos. Os países precisam especificar metas e planos para o setor de transporte que tratem dessas oportunidades, não apenas em suas NDCs, mas também em suas estratégias de longo prazo. Das 13 estratégias de longo prazo já apresentadas, 12 incluem estratégias do setor de transportes; 11 incluem estratégias para eletrificação, dez para transporte público e nove para nova mobilidade.

  Medidas para o transporte? Electrificação Transporte público Nova mobilidade
Benin        
Canadá
República Tcheca  
Fiji  
França  
Alemanha
Japão
Ilhas Marshall
México  
Portugal
Ucrânia  
Reino Unido  
Estados Unidos

Embora as emissões de transporte representem mais de 15% das emissões globais e cresçam rapidamente, ainda há muitas oportunidades para tornar o transporte mais limpo. Os países ainda precisam especificar caminhos mais claros e mobilizar os setores público e privado para descarbonizar o transporte logo, se quiserem evitar riscos e aproveitar as oportunidades oferecidas pelos meios de locomoção do século 21.