São Paulo lançou recentemente o Vida Segura, Plano de Segurança Viária que reúne ações de curto, médio e longo prazo para reduzir à metade as mortes ocorridas no trânsito da cidade até 2028. A capital paulista é a primeira do país a adotar a abordagem de Sistema Seguro para salvar vidas no sistema viário. A mesma estratégia já vem sendo implementada com sucesso há anos em diversas cidades do mundo. Bogotá e Buenos Aires são duas delas e vêm concretizando ações transformadoras.

Buenos Aires focou nos ônibus e nas bicicletas

A capital argentina anunciou o Plan de Seguridad Vial de la Ciudad em 2017 e estipulou como meta reduzir em 30% as fatalidades e as lesões graves no trânsito até 2019. Nos últimos anos, a cidade tem realizado melhorias nas condições de segurança viária das ruas, gerando mudanças urbanas em escala humana e criando alternativas de mobilidade saudáveis e sustentáveis. Essas transformações tem como base em cinco eixos fundamentais: infraestrutura, fiscalização eficiente através da tecnologia e agentes de trânsito, campanhas de conscientização e programas de educação viária, informação de qualidade e participação cidadã.

Buenos Aires, com seus 3 milhões de habitantes, registra diariamente a entrada de outras 3 milhões de pessoas por questões de trabalho, estudo, saúde, entre outras. Para melhorar os deslocamentos de todos, a cidade optou por priorizar o transporte coletivo. Segundo Paula Bisiau, subsecretária de Mobilidade Sustentável e Segura, o sistema Metrobus, baseado em uma rede de corredores exclusivos de ônibus, foi a primeira grande bandeira do Plano e, nos últimos anos, o projeto começou a se espalhar com sucesso também pela Grande Buenos Aires. Atualmente, a rede metropolitana do Metrobus já possui 81,3 km de extensão de corredores de ônibus e beneficia 1,8 milhão de passageiros.

O incentivo ao uso da bicicleta também é um dos principais esforços da cidade. "Há 10 anos, pensávamos que as bicicletas deveriam ser o ator principal no sistema de mobilidade e hoje estamos conseguindo isso. Desde então, o número de viagens cresceu dez vezes”, afirma Paula. Em 2009, as viagens de bicicleta na cidade representavam 0,4%. Atualmente, são 4%. O desafio agora é aumentar o número de estações do Ecobici, o sistema público e gratuito de bicicletas compartilhadas.

<p>Até o final de 2019, 4 mil bicicletas compartilhadas devem estar disponíveis gratuitamente em Buenos Aires</p>

Até o final de 2019, 4 mil bicicletas compartilhadas devem estar disponíveis gratuitamente em Buenos Aires (foto: Prefeitura de Buenos Aires)

"Estimamos que antes do final do primeiro semestre teremos instalado 400 estações Ecobici em 38 bairros da cidade e 4 mil bicicletas de alta qualidade estarão disponíveis. A isso também se somam os 232 km de ciclovias seguras, e chegaremos a 250 km até o final do ano”, conta Paula. Outra importante conquista foi a construção de cinco novas áreas com prioridade para pedestres, que reduziram em 50% a entrada de veículos particulares na área central da cidade.

Em nome da transparência, a cidade conta ainda com o Observatorio de Seguridad Vial de la Ciudad (OSVC) para monitorar e avaliar as intervenções e resultados do Plano. Através do órgão, Buenos Aires também passou a publicar relatórios e estudos específicos para a população acompanhar as ações em curso.

Bogotá investiu na redução das velocidades

Desde 2015, Bogotá faz parte da Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito, um grupo de dez municípios de países de baixa e média renda comprometido com a implementação de intervenções de segurança viária. A cidade adotou a abordagem de Sistema Seguro em 2017, com o lançamento do Plano Distrital de Segurança Viária, que tem como objetivo reduzir em 35% o total de mortos e feridos graves em acidentes de trânsito até 2026.

Bogotá promove a gestão da velocidade para salvar vidas (foto: Dylan Passmore/Flickr)

Para atingir esse objetivo, Bogotá propôs um trabalho baseado em cinco eixos: institucionalidade e gestão da segurança viária, usuários da via, comunicação e cultura viária, vítimas, infraestrutura segura e fiscalização da segurança viária, tecnologia e veículos. Esses eixos incluem programas e ações que envolvem não apenas o setor de mobilidade, mas outras áreas da prefeitura que puderam contribuir para melhorar a segurança viária a partir de suas diferentes perspectivas.

O Visión Cero define a gestão da velocidade nas zonas urbanas como a maneira mais eficaz de proteger todos os usuários das vias, já que a velocidade é um dos principais fatores de risco no trânsito. A partir do plano, a cidade desenvolveu um programa de gestão para estabelecer limites de velocidade seguros nas vias urbanas. Essa é a estratégia de maior êxito no entendimento de Claudia Diaz, chefe do escritório de Segurança Viária da Secretaria Distrital de Mobilidade de Bogotá. A redução do limite de velocidade de 60 km/h para 50 km/h em cinco avenidas que concentravam 25% das mortes no trânsito da cidade reduziu em 32% o número de ocorrências fatais em seis meses de estratégia.

Ao contrário do que parte da população e dos veículos de mídia estavam temendo, e inicialmente criticando, a diminuição dos limites de velocidade, segundo análises preliminares da prefeitura, vem reduzindo congestionamentos ao nivelar os fluxos de tráfego e diminuir gargalos.

“O sucesso da estratégia está na integração de medidas de infraestrutura (mudança de sinalização nas avenidas) com controle (aumento de pontos de fiscalização) e comunicação. Criamos campanhas de televisão, peças gráficas e vídeos em redes sociais, relatórios diários e mensais para a comunidade sobre o andamento da estratégia, oficinas para jornalistas, entre outros”, afirma Claudia.

A parte do plano de segurança viária que trata de motociclistas, formulada entre instituições do governo, setor privado e associações de motociclistas, e o programa Niños Primero, voltado à segurança de crianças, também são ações exitosas na avaliação de Claudia.

Iniciativas em rede

Um dos possíveis entraves para a adoção da abordagem de Sistemas Seguros é a questão dos recursos financeiros disponíveis. Grande parte das ações em prol da segurança viária não causam necessariamente tanto impacto no orçamento, mas exigem boa administração e captação de novos recursos. Em países como Alemanha, Holanda e Suécia, o setor privado desempenha um papel importante na obtenção de recursos financeiros e na colaboração com o setor público e demais organizações.

Prioridade para pedestres e ciclistas em rua de Bogotá (foto: Dylan Passmore/Flickr)

Em Bogotá, a secretaria de mobilidade lançou a Rede Empresarial de Segurança Viária, que reúne entidades públicas e privadas para trocar conhecimento e implementar boas práticas empresariais de segurança viária. Em atividade desde agosto de 2018, a rede conta com 255 membros e 29 empresas que receberam selos de boas práticas por promover a segurança viária. Ao todo, elas reduziram os acidentes em 52% entre os mais de 37 mil funcionários.

Em Buenos Aires, o Programa Amigos da Mobilidade Sustentável e Segura agrega mais de mil entidades que fomentam a segurança viária em suas comunidades. O grupo é formado por empresas locais, multinacionais, universidades, embaixadas, ONGs, estabelecimentos comerciais, entre outros. A Secretaria dos Transportes oferece uma série de ferramentas técnicas e assessoria aos membros do programa, para acompanhá-los na tarefa de promover a mobilidade sustentável e segura.

"A implementação do Plano não é uma ação unilateral, mas todos os dias construímos e inovamos com moradores, organizações não-governamentais e entidades privadas para atingir nossas metas. O plano só é bem-sucedido se a abordagem sistêmica for consistente, com a responsabilidade pela segurança das vias compartilhada entre vários atores e com apoio mútuo entre eles", destaca Paula.