Um estudo com revisão de pares conseguiu provar com números o que o movimento pela restauração já suspeitava: a restauração de florestas e paisagens é a melhor ferramenta para retirar carbono da atmosfera. O estudo “Potential for low-cost carbon dioxide removal through tropical reforestation”, produzido por pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e pela organização The Nature Conservancy, e publicado na edição de junho da revista científica Nature, mostra que o plantio de árvores gera mais benefícios do que apostar em tecnologias ainda em testes para capturar carbono.

O foco do estudo da Nature foi analisar o custo-benefício da restauração em 90 países florestais do mundo, incluindo o Brasil, a partir de um hipotético preço de carbono. Nesse sistema, os proprietários de terras receberiam um recurso financeiro para conservar e restaurar florestas. Esse recurso seria pago por empresas que emitem muitos gases de efeito estufa.

O estudo analisou dois cenários. O primeiro considera que o preço do carbono custaria US$ 20 por tonelada de carbono emitido. Esse é o valor em locais que têm mecanismos de marcado de carbono, como na Califórnia ou na Europa. O segundo cenário considera um custo de carbono de US$ 50 por tonelada, um valor que um outro estudo, financiado pelo Banco Mundial, considerou como necessário para atingir as metas do Acordo de Paris. A partir disso, os pesquisadores calcularam os o que aconteceria em cada cenário caso produtores rurais optassem pela restauração.

No primeiro cenário, o preço de US$ 20 dólares por tonelada de carbono estimularia os produtores a restaurar mais de 31 milhões de hectares de florestas no mundo – uma área equivalente ao tamanho da Itália. Essa restauração retiraria da atmosfera 5,7 gigatoneladas de carbono. Além disso, mais 55 gigatoneladas de carbono deixariam de ser emitidas pela redução do desmatamento. Para compreender o que isso significa, um dos autores do estudo, o pesquisador Jonah Busch, faz a seguinte comparação: é como se as florestas a serem restauradas pudessem tirar da atmosfera tudo o que o Kuwait, um país produtor de petróleo, emite em 30 anos.

No segundo cenário, o resultado é ainda mais surpreendente. Um preço de US$ 50 dólares por tonelada de carbono estimularia a restauração de 84 milhões de hectares, o equivalente à área do estado do Mato Grosso. Essa restauração retiraria da atmosfera 15 gigatoneladas de carbono e evitaria a emissão de 108 gigatoneladas. Na comparação de Busch, é como se o Japão, sétimo maior emissor do mundo, deixasse de poluir por 30 anos.

Florestas têm melhor custo-benefício para o clima

Assim, o estudo mostra que a restauração florestal, incentivada por uma taxa de carbono, pode gerar renda para produtores rurais e resultar numa importante redução de emissões. Os resultados indicam que as florestas são o mais seguro e eficiente meio para manter a temperatura global entre 1,5˚C e 2˚C, o limite considerado seguro pela comunidade científica.

Isso porque muitos modelos climáticos indicam que reduzir emissões apenas não será suficiente para limitar o aquecimento. É preciso investir nas chamadas “tecnologias de emissão negativa”. São propostas como a bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS) ou a captura e armazenamento direto de carbono no ar (DACCS), tecnologias caras e ainda em testes. Os autores do estudo mostram que a restauração florestal, uma solução natural, tem melhor custo-benefício do que essas tecnologias: retiram mais carbono custando menos.

Nem tudo é carbono

Apesar do foco do trabalho publicado na Nature ser o impacto do incentivo que um preço no carbono pode dar para as florestas, é importante não esquecer que a restauração florestal também pode se viabilizar por outras maneiras. O WRI Brasil atua, por meio do projeto Verena, no estudo de modelos de negócios que envolvem o plantio de árvores para fins ecológicos e econômicos.

Esses modelos mostram que o produtor rural pode se beneficiar das florestas na sua produção agrícola. Modelos mistos, como os Sistemas Agroflorestais e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, permitem que a restauração seja feita em conjunto com a produção agropecuária, protegendo o solo e as nascentes e impulsionando a produtividade das lavouras. Além disso, as florestas podem mover uma economia florestal a base de madeiras extraídas legalmente, frutas, castanhas, óleos e essências.

Essa economia da floresta já está acontecendo em várias paisagens no mundo, incluindo no Brasil, com trabalhos interessantes ocorrendo no Vale do Paraíba Paulista, no Espírito Santo, na Amazônia e no Sul do país. Um preço de carbono seria uma ferramenta adicional para ampliar a escala da restauração, ajudando o país a atingir a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.