O reflorestamento com espécies arbóreas nativas e sistemas agroflorestais é uma atividade competitiva do ponto de vista financeiro se comparada à produção agrícola e à silvicultura com pinus e eucalipto praticada no Brasil. Essa é a conclusão de dois anos de trabalho do Projeto VERENA — de Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas.

O resultado foi apresentado nesta quinta-feira (14) durante evento realizado em São Paulo (SP). O Projeto VERENA, inédito no Brasil, faz o primeiro levantamento no setor privado do país sobre o potencial de negócio do reflorestamento com espécies dos ecossistemas brasileiros.

A pesquisa considerou as análises e a documentação de 12 casos de propriedades rurais localizadas na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica. As propriedades exploram comercialmente pelo menos 30 tipos de árvores nativas em plantios puros, consorciados com múltiplas espécies nativas ou exóticas e sistemas agroflorestais. Os dados foram confrontados com os de nove culturas tradicionais da agricultura (banana, cacau, café, limão, pupunha e mandioca) e silvicultura (pinus e eucalipto).

Comparados à média dos resultados na agricultura e silvicultura, a análise conjunta dos 12 casos estudados pelo VERENA levaram mais tempo para garantir retorno do investimento realizado. O tempo médio para o retorno financeiro foi de 16 anos frente 12 anos nos casos da agricultura e silvicultura. O tempo é mais longo devido ao ciclo da colheita de espécies arbóreas nativas.

Por outro lado, o estudo do VERENA também apontou que o retorno foi maior (16%) para o reflorestamento com espécies nativas e sistemas agroflorestais do que a média da agricultura e da silvicultura com pinus e eucalipto (13%).

“Estatisticamente, não há diferença. O que as análises indicam é que o reflorestamento com espécies arbóreas nativas e sistemas agroflorestais se mostra um bom negócio”, afirma Alan Batista, analista de investimentos do WRI Brasil. Segundo ele, os estudos de caso são importantes para a criação de um histórico de práticas e para diminuir a percepção de risco desse tipo de negócio.

Alan é um dos autores da Ferramenta de Investimento VERENA, que também foi apresentada ao público nesta quinta-feira (14). A ferramenta é gratuita e está disponível para qualquer pessoa calcular se um projeto de reflorestamento ou sistema agroflorestal (conhecido pela sigla SAF) é viável, ou seja, se equilibra capital financeiro e natural e oferece oportunidades de negócio e emprego no meio rural.

“Poucos países têm a vocação florestal do Brasil e é possível olhar para este tema na lógica das oportunidades de negócio", destaca Miguel Calmon, diretor de Florestas do WRI Brasil.

Rachel Biderman abre evento em SP. No fundo, Marcelo Furtado e Ana Young (Foto: Mauricio Boff)

"Para tomar uma decisão, os investidores precisam ter mais informação sobre risco e retorno. As espécies arbóreas nativas brasileiras existem há milhares de anos e já protagonizam experiências comerciais bem-sucedidas, mas não no mercado de capitais. Estudos de caso são importantes para diminuir a percepção de risco", aponta Alan.

O Brasil comprometeu-se em restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 como parte de sua meta climática no Acordo de Paris. O Projeto VERENA ancora-se na premissa de que o compromisso brasileiro pode ser um bom negócio para investidores, empresários e produtores rurais.

"O Brasil tem muito o que oferecer para o mundo. O potencial do capital natural e das florestas brasileiras é imenso para vencer o desafio climático. Os resultados do VERENA indicam que temos negócios robustos para receber investimentos e que podem ganhar escala”, diz Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil.

Além da contribuição para o alcance da meta climática, o investimento em reflorestamento com espécies nativas e sistemas agroflorestais contribui para o cumprimento do Código Florestal Brasileiro. É o caso do uso econômico da Reserva Legal (RL). Grande parte dos ativos estudados pelo VERENA são compatíveis com o manejo sustentável em RL. As análises do projeto indicam outras oportunidades de negócio com sistemas produtivos integrados. É exemplo a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), que possibilita o plantio de culturas anuais paralelamente ao plantio de espécies nativas.

"Se diversificado o plantio, que é uma característica dos sistemas agroflorestais, é possível mitigar os riscos ambientais (estiagens e secas, por exemplo) e de variação de preços", salienta Alan.

Público lota auditório de centro de eventos em SP (Foto: Debora Pinho)

O evento na capital paulista contou com a presença de 140 pessoas entre especialistas da área florestal, investidores, empresários, produtores rurais, pesquisadores e representantes do setor público e de organizações não governamentais. Além da equipe de Florestas do WRI Brasil, o Projeto VERENA conta com o apoio de mais da 50 parceiros de trabalho.

O Projeto VERENA é liderado pelo WRI Brasil em parceria com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e tem o apoio financeiro da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF).