Este blog foi publicado originalmente no Insights.


A Ponte do Brooklyn, com suas torres góticas e cabos de aço suspensos, é um dos monumentos mais conhecidos no mundo. Está em inúmeros filmes, fotografias, livros e séries de TV. Tem até sua própria expressão na linguagem americana – quando alguém estiver lhe “vendendo a Ponte do Brooklyn” (selling the Brooklyn Bridge, em inglês) está oferecendo um negócio bom demais para ser verdade. Alguns nova-iorquinos podem inclusive considerar que a expressão descreve sua própria relação com a ponte.

Apesar dos famosos encantos, a Ponte do Brooklyn está sempre lotada, com pedestres apressados disputando espaço com turistas a passeio. Apenas uma fina linha pintada no chão separa pedestres e ciclistas que se amontoam nos pontos mais perigosos.

É por isso que o Conselho Municipal de Nova York e o Instituto Van Alen lançaram a iniciativa Reimaginando a Ponte do Brooklyn – um concurso de planejamento internacional para tornar a ponte mais segura, acessível e sustentável. Depois de avaliar centenas de propostas, eles selecionaram nosso projeto como um dos finalistas. O projeto foi liderado por Scott Francisco, da Pilot Projects Design Collective, Cities4Forests e Wildlife Conservation Society (Sociedade para Conservação da Vida Selvagem).

Nossa proposta, como muitos dos outros excelentes projetos submetidos, apresenta uma ciclovia protegida, novas plataformas de “observação”, para aliviar os pontos mais apertados, e o acréscimo de vegetação. Mas, diferentemente das outras propostas, o nosso projeto tem um diferencial que está no uso de um material especial capaz de garantir meios de subsistência no meio rural, proteger culturas e espécies ameaçadas e combater as mudanças climáticas.

Que material especial é esse? Madeira.

Nossa proposta para o Reimaginando a Ponte do Brooklyn, chamada Brooklyn Bridge Forest, vai restaurar as áreas de passeio da ponte com madeira tropical de origem sustentável, originada de uma floresta administrada pela comunidade local da Reserva da Biosfera Maia, na Guatemala. Nosso esforço faz parte de um movimento maior, no qual os moradores das cidades reconhecem que a madeira tropical e outras mercadorias de florestas distantes desempenham um papel considerável em nossas vidas, mesmo quando não estamos cientes disso. Construir novas parcerias para cultivar e adquirir esses produtos de maneira sustentável pode enriquecer a vida de todos os envolvidos.

Comunidades protegendo florestas a partir de silvicultura sustentável

Espécies de madeira tropical, como manchiche e pucte, são particularmente adequadas para a infraestrutura urbana ao ar livre. São materiais extraordinariamente fortes, resistentes à deterioração, e as árvores crescem altas e retas o suficiente para produzir tábuas de calçadão.

Na última vez em que o calçadão da ponte do Brooklyn foi substituído, o Departamento de Transportes da cidade usou uma madeira chamada “coração verde” (Ocotea rodiaei ou Chlorocardium rodiei), cujas árvores crescem no norte da América do Sul. No entanto, o material foi adquirido com pouca preocupação ou conhecimento dos impactos nas comunidades locais ou se contribuiu para o desmatamento.

É por isso que nossa proposta para a ponte obterá a madeira com a comunidade de Uaxactún, na Reserva da Biosfera Maia (Guatemala), que cultiva as árvores em uma operação de silvicultura sustentável. Em parceria com a Wildlife Conservation Society, a comunidade já foi amplamente reconhecida pelo trabalho bem-sucedido de conservação florestal, que inclui uma certificação do Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal).

Em vez de derrubar a floresta, a comunidade pratica a extração de madeira de baixo impacto, usando equipamentos de pequena escala para remover apenas algumas árvores de cada área durante a rotação dos locais de cultivo. Eles replantam milhares de mudas e deixam as áreas de colheita intocadas por 40 anos. Com mais de 100 anos de uso comunitário contínuo, a comunidade manteve suas florestas intactas e a vida selvagem está florescendo.

<p>imagem da floresta na comunidade Uaxactún</p>

A floresta cresce novamente nas áreas administradas pela comunidade Uaxactún (foto: Pilot Projects Design Collective)

Um contrato de grandes proporções para o fornecimento de madeira sustentável, como o do Brooklyn Bridge Forest, pode ter um impacto considerável nas pessoas da comunidade Uaxactún e na floresta da qual elas dependem.

A Reserva da Biosfera Maia, como acontece a muitas florestas tropicais, está ameaçada pela expansão da agricultura comercial. Nesse caso, grupos de criadores de gado de fora da reserva querem desmatar a floresta de forma ilegal para criar áreas de pastagem. Em geral, são grupos com muitos recursos financeiros e até armados que tomam posse das áreas para depois desmatá-las.

Atualmente, a única defesa da floresta é um grupo relativamente pequeno de membros da comunidade, trabalhadores de ONGs e alguns guardas para patrulhar uma área do tamanho da cidade de Nova York. A venda de madeira sustentável pagaria por mais patrulhas florestais, combate a incêndios, pesquisa e monitoramento por satélite, bem como instalações médicas comunitárias, escolas e meios de subsistência para as pessoas da reserva.

Cadeias de produção sustentável para madeira – e além

Reconstruir a Ponte do Brooklyn com madeira sustentável seria inspirador, mas, para reverter uma onda global de desmatamento, a solução precisa ir além de um único projeto.

Em 2019, o mundo perdeu impressionantes 3,8 milhões de hectares de cobertura vegetal em florestas tropicais, devido principalmente à produção insustentável de polpa de madeira, azeite de dendê (óleo de palma), soja, carne bovina e outras mercadorias. Nem todos os consumidores estão cientes do papel que sua demanda desempenha no incentivo ao desmatamento, e não há muitos caminhos fáceis para as pessoas reivindicarem produtos mais sustentáveis em larga escala.

O Cities4Forests /a> atua para mudar essa situação por meio do Partner Forest Program (Programa Floresta Parceira), que conecta cidades a comunidades e áreas de florestas tropicais específicas para apoiar estratégias de conservação e restauração com benefícios mútuos. Essas parcerias, de “local para local”, podem gerar um valor educacional para além de seu impacto imediato no estabelecimento de cadeias de produção sustentáveis para madeira, cacau, café e borracha.

Para o projeto Brooklyn Bridge Forest, esse trabalho vai envolver uma programação cultural e educacional na cidade de Nova York e com a comunidade Uaxactún, a fim de conectar pessoas para além das fronteiras geográficas e ajudar a gerar interesse e empatia no apoio à sustentabilidade ambiental e cultural.

Parcerias para conservação e restauração florestal nunca foram tão urgentes. O desmatamento aumenta o risco de novas doenças passarem da vida selvagem para os seres humanos (como aconteceu com o vírus que causa a Covid-19). Reduzir o desmatamento, especialmente por meio do manejo comunitário sustentável, também é uma poderosa ferramenta na luta contra as mudanças climáticas.

Com os recursos para a recuperação econômica da Covid-19 direcionados a projetos de infraestrutura, as cidades estão vendo abrir uma rara janela de oportunidade para uma “recuperar melhor”. As comunidades dependentes das florestas, por sua vez, precisam de apoio urgente em seus esforços de conservação, já que a caça e o desmatamento aumentaram à medida que a pandemia passou a preocupar mais os governos.

Ajude a tornar realidade o projeto da Brooklyn Bridge Forest

Há uma maneira fácil de você ajudar. Vote aqui no projeto Brooklyn Bridge Forest para levar essa proposta adiante na competição (a votação vai de até 30 de julho e é aberta a qualquer um). Se você mora em uma área urbana, pergunte ao governo de sua cidade se eles possuem uma política de compras sustentável para produtos de madeira e outras mercadorias.

Quando foi aberta em 1883, a Ponte do Brooklyn era a maior ponte suspensa do mundo. Agora, a ponte tem a chance de se estender ainda mais, conectando comunidades de diferentes continentes em torno de uma relação compartilhada com a madeira e as florestas.

Junte-se a esse esforço aqui.