Os drones estão por toda parte. Inicialmente uma invenção militar, a tecnologia já está sendo aplicada para uso civil. Há testes para usá-los no comércio, entregando produtos. Sua capacidade de fazer imagens a distância o tornou ferramenta de fotógrafos e cinegrafistas. E por que não aproveitar os drones em prol do meio ambiente?

Um drone – palavra em inglês que significa “zangão”, o macho das abelhas – é na verdade um veículo aéreo não tripulado e pilotado remotamente. A capacidade de sobrevoar a alturas relativamente baixas e a presença de uma câmera de alta definição o tornam uma interessante ferramenta para avaliar e monitorar o sucesso de projetos de restauração em andamento. No Vale do Paraíba, em São Paulo, a equipe de Florestas do WRI Brasil testou o uso do drone para verificar o quanto essa ferramenta pode ser útil no monitoramento de áreas em restauração.

Foram feitos sobrevoos de drones em Extrema, Minas Gerais, berço do mais bem sucedido trabalho de restauração no Brasil; em Pindamonhangaba, em São Paulo, avaliando as diferenças de vários modelos de restauração econômica, como sistemas agroflorestais ou plantios multidiversos; e em São Francisco Xavier, um distrito da cidade de São José dos Campos em áreas em processo de regeneração da vegetação.

Em São Francisco Xavier, a equipe encontrou um lugar interessante para o sobrevoo, a Fazenda da Serra. A propriedade já foi focada em pasto para a pecuária e plantio de eucalipto para celulose no passado. Hoje, seu proprietário está disposto a restaurar 62 hectares de florestas. A restauração começou já faz algum tempo: a fazenda tem áreas de restauração com mais de 40 anos. Outras áreas são mais jovens, com 12, 7 ou 2 anos. Essas diferenças são interessantes para avaliar a capacidade do drone de monitorar uma área, já que permite aos pesquisadores comparar imagens de áreas restauradas com diferentes idades em restauração.

A equipe de Florestas do WRI Brasil, em parceria com Rafael Albuquerque, especialista em uso de drones para avaliação do uso da terra, fez uma série de voos na Fazenda da Serra – além de outras áreas de restauração já mencionadas. Os voos foram testes para identificar formas de usar o drone no monitoramento. Para leigos, produzem imagens e vídeos de tirar o fôlego. Para os técnicos, é uma mina de ouro para compreender a floresta, identificando quantidade de árvores, tipos de espécies e ajudando a avaliar se uma área restaurada está ou não saudável, questões importantes para o monitoramento.

<p>Drone para restauração, primeira etapa: plano de voo</p>

<p>Drone para restauração, segunda etapa: preparação da aeronave</p>

<p>Drone para restauração, terceira etapa: decolagem</p>

<p>Drone sobrevoa área de floresta</p>

As várias etapas de preparação para o uso de drone no monitoramento. Primeiro, cria-se um plano de voo. O drone é então montado, controlado para a decolagem e enfim sobrevoa a área a ser estudada (fotos: Bruno Calixto/WRI Brasil)

Monitorar é preciso

Os testes com drones – assim como outras tecnologias, incluindo imagens de satélites ou medições em campo – são cruciais para o desenvolvimento de uma metodologia de monitoramento da restauração. Esse monitoramento é importante porque nos mostrará se o Brasil está conseguindo cumprir suas metas de restauração. O país se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030, uma área equivalente ao território do estado do Ceará.

O monitoramento também é importante para identificar o que é e o que não é restauração. Por exemplo, uma área antes usada para atividade econômica pode ter sido simplesmente abandonada e viu crescer vegetação e árvores. Ela não necessariamente é uma área restaurada, já que está em risco e pode ser desmatada novamente. Com uma metodologia de monitoramento definida, poderemos identificar quais áreas foram de fato restauradas e acompanhar se essas áreas permanecem com cobertura florestal a longo prazo.

<p>Imagem de área restaurada feita por drone</p>

Uma floresta restaurada há 40 anos, em foto tirada durante sobrevoo de drone em São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos (SP) (Foto: Bruno Calixto/WRI Brasil)

Outros usos dos drones

Não é apenas no Brasil que há tentativa de usar a tecnologia dos drones em prol da restauração. Um caso interessante é o da empresa BioCarbon Engineering, com sede no Reino Unido e atuações no Reino Unido, Myanmar e Austrália. A empresa literalmente planta árvores a partir de drones. A tecnologia usa os drones para dispersão de sementes em áreas de difícil acesso. O caso foi destaque na publicação The business of planting trees, publicada pelo WRI em 2017. Eles esperam restaurar, até 2020, 100 mil hectares de florestas.

No Brasil, ainda não há expectativa de usar drones para o plantio. Mas a tecnologia anima os pesquisadores, e pode ser uma grande aliada na restauração das nossas paisagens e florestas.