O custo humano das mudanças climáticas
Este artigo foi escrito por Felipe Calderón, ex-presidente do México e membro do Conselho Diretor do WRI, e publicado originalmente na Newsweek.
O lar é um lugar de estabilidade e segurança. É onde as famílias se reúnem para trabalhar pela prosperidade e celebrá-la. Mas à medida que o custo humano e econômico das mudanças climáticas continua aumentando, enfrentamos o risco legítimo de que esse senso do lar seja arrancado.
No ano passado, enchentes devastadoras no sul da Ásia levaram mais de 1,2 mil vidas e afetaram mais de 20 milhões de pessoas, incluindo 6,8 milhões de crianças. Com um número estimado de 18 mil escolas destruídas ou danificadas em Bangladesh, Índia e Nepal, a educação de centenas de milhares de crianças está ameaçada, mesmo muito tempo depois que as águas recuaram.
O ano de 2017 também foi um dos anos mais custosos em termos de desastres climáticos nos Estados Unidos. Os furacões Harvey e Irma causaram quase US$ 200 bilhões em danos apenas no Texas e na Flórida, enquanto os incêndios florestais na Califórnia podem custar até US$ 65 bilhões em danos materiais.
Infelizmente, previsões indicam que 2018 também deve trazer uma temporada acima da média para furacões na região do Atlântico. Esses prognósticos são particularmente preocupantes à medida que as comunidades continuam a reconstruir seus meios de subsistência após as tempestades do ano passado.
Algumas pessoas simplesmente não têm recursos para reconstruir. Por isso, conforme aumentem os impactos mais lentos das mudanças climáticas, como a escassez de água e a quebra de safras, espera-se que o número de migrantes climáticos internos aumente drasticamente. Se nenhuma ação for tomada, especialistas preveem que pode haver mais de 140 milhões de migrantes climáticos até 2050. Mais da metade dessas pessoas devem ser da África Subsaariana.
Enfrentando os desastres naturais
Os desastres naturais afetam desproporcionalmente os pobres porque eles não dispõem de recursos para enfrentar os desastres, e seus meios de subsistência muitas vezes dependem de ecossistemas cada vez mais ameaçados. Não é necessário que haja eventos climáticos extremos que obriguem as pessoas a abandonar seus lares e meios de subsistência. Muitos serão forçados a se mudar devido a impactos climáticos mais lentos, como mudanças na disponibilidade de água, nas condições de agricultura e no aumento do nível do mar. Ninguém discute o fato de que, a menos que tomemos medidas urgentes para garantir a resiliência climática para todos, os mais vulneráveis do mundo serão os mais atingidos, dificultando ainda mais seus esforços para sair da pobreza.
Se agirmos agora, podemos reduzir o número de pessoas forçadas a migrar devido à mudança climática em até 80%. Essa ação não apenas preservaria os meios de subsistência, mas também proporcionaria oportunidades econômicas significativas. A New Climate Economy descobriu que investimentos no desenvolvimento verde em Uganda poderiam aumentar o PIB em cerca de 10% até 2020 (US $ 3,4 bilhões) em comparação com os negócios atuais. Da mesma forma, as políticas certas no meu próprio país, o México, poderiam alcançar uma economia líquida em gastos de mais de 500 bilhões de pesos acumulados até 2030 (cerca de 2% do PIB de 2015).
No entanto, algumas migrações climáticas internas serão uma realidade do nosso século. Grande parte da mudança climática é resultado de emissões do passado. Mas os padrões de migração climática não precisam, intrinsecamente, se tornar crises sociais ou políticas. Se cuidadosamente gerenciada, apoiada por boas políticas de desenvolvimento e investimentos direcionados, a migração pode ser uma estratégia de adaptação sensata em resposta à mudança climática.
Para minimizar seus efeitos negativos, é importante que a migração seja apoiada por medidas para ajudar os migrantes a encontrar moradia e integrar-se ao mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, os tomadores de decisão devem estar atentos para salvaguardar não apenas a resiliência daqueles que estão se mudando, mas também daquelas comunidades que enviam e recebem migrantes.
Considerar a migração climática como um fator no planejamento do desenvolvimento pode colocar os países nos trilhos para mitigar ou adaptar-se aos riscos climáticos e reduzir a pobreza. Por exemplo, o Plano de Crescimento e Transformação da Etiópia e a estratégia de Economia Verde Resiliente às Alterações Climáticas estabeleceram metas para mudar os empregos do setor agrícola para os setores de serviços e indústria, tornando os meios de subsistência menos dependentes do clima.
É da natureza humana buscar segurança e prosperidade para sua família. Conforme as comunidades começarem a enfrentar os impactos das mudanças climáticas, algum nível de migração é inevitável, e uma estratégia de adaptação poderia fornecer um caminho para melhorar a vida das pessoas. Mas é também uma obrigação moral e um imperativo prático reduzir a migração climática ao mínimo. Tomando medidas imediatas para reduzir emissões, podemos evitar interromper a vida de milhões de pessoas e, ao mesmo tempo, explorar oportunidades econômicas significativas – tudo isso enquanto preservamos o planeta que chamamos de lar.