Este artigo foi escrito por John H. Matthews e publicado originalmente no WRI Insights.


No leste da África, a maior represa do mundo está quase vazia pela redução das chuvas. No Brasil, os reservatórios da Cantareira, em São Paulo, foram reduzidos a lama três anos atrás, e especialistas dizem que a cidade pode enfrentar uma nova seca em breve. Enchentes catastróficas provocaram estragos na Inglaterra, no Texas e em Bancoc.

Não são meros eventos isolados. Eles representam a sistemática falha no desenvolvimento da infraestrutura de água – falhas que estão ficando mais frequentes e severas conforme o clima da Terra muda.

Um novo mecanismo financeiro – “green bonds” que paguem pelo uso dos ecossistemas como uma “infraestrutura natural” por água limpa – pode ajudar.

Green bonds para Infraestrutura Natural

A maioria das pessoas pensa em infraestrutura de água como represas, aquedutos e estações de tratamento. Infraestrutura natural, como florestas saudáveis, fazendas, rios e pântanos podem resolver dificuldades de quantidade e qualidade da água ao filtrar água, proteger contra enchentes e regular o fluxo dos rios. Combinar infraestrutura construída com a natural – por exemplo, restaurando uma floresta nos arredores de uma estação de tratamento de água – combina os benefícios dos dois sistemas. Essa abordagem híbrida frequentemente economiza dinheiro, aumenta o tempo de vida da infraestrutura construída, aumenta a resiliência a mudanças climáticas e produz co-benefícios como redução de emissões de carbono, recreação, empregos no meio rural e proteção dos habitats.

Projetos de infraestrutura são, em geral, financiados por títulos, que permitem que uma cidade ou empresa pague investidores com o tempo. Historicamente esses títulos têm ignorado a infraestrutura natural em favor da infraestrutura tradicional. Até mesmo os “green bonds”, ou títulos verdes, que são direcionados especificamente para projetos ambientais, têm ignorado o potencial da infraestrutura natural. Apenas uma pequena porcentagem do que o mundo gasta em investimentos para água vai para projetos verdes certificados. Nós estamos investindo em concreto, pedra e aço quando ecossistemas poderiam estar nos providenciando mais resiliência e flexibilidade para o futuro.

Os novos Padrões de Infraestrutura de Água da Climate Bonds Initiative (CBI) permitem que projetos de água – incluindo os que usam infraestrutura natural – possam ser certificados como green bonds. Isso cria uma grande oportunidade para projetos híbridos de infraestrutura tradicional e natural de atrair o financiamento necessário para enfrentar o crescente desafio do abastecimento de água. Os padrões também permitirão que as cidades se comuniquem com empresas e investidores interessados em crescimento sustentável.

Mais “água” no mercado de green bonds

Os Padrões para Infraestrutura Natural se baseiam na fase 1 dos padrões lançados em 2016, focados em infraestrutura tradicional para água. A fase 1 já direcionou mais de US$ 1,8 bilhão para infraestrutura de água inteligente para o clima. Por exemplo, São Francisco, na Califórnia, emitiu quatro green bonds em 2016-17 para financiar projetos de água. Cidade do Cabo, na África do Sul, emitiu um green bond em 2017 para melhorar seus reservatórios, tratar água suja para o nível bom para o consumo, e substituir encanamento e sistema de esgotos. Apesar de focar em infraestrutura tradicional, esses projetos também levaram em consideração as emissões de gases de efeito estufa e resiliência climática.

A fase 2 procura emitir títulos para sistemas baseados na natureza, como restauração de florestas, áreas úmidas, pastos e sistemas agrícolas. Esses sistemas permitem o armazenamento e estoque de água, proteção contra enchentes e o fortalecimento da resiliência contra secas. Esses títulos financiarão projetos que usam a floresta como uma ferramenta-chave de infiltração da água – em vez de, ou em parceira com uma nova estação de tratamento – para atrair investidores.

É importante mencionar que os green bonds são certificados, o que significa que eles atendem critérios específicos em mitigar as mudanças climáticas e passam por uma avaliação de terceiros. Isso garante a investidores que eles estão investindo em projetos realmente verdes – e recompensa grupos que desenvolveram projetos de água que protejam ecossistemas.

A crescente crise de água em várias partes do mundo faz com que a necessidade do investimento em infraestrutura seja evidente. Investimentos precisam migrar para infraestrutura de água no futuro, em vez de repetir os erros do passado. Projetos envolvendo infraestrutura natural duram mais, se adaptam para um clima que está mudando e ajudam a reduzir emissões de gases de efeito estufa.