Em Fortaleza, redução de velocidade contribui para queda de 40% em mortes no trânsito
Readequar velocidades é uma das medidas mais efetivas para evitar mortes e lesões no trânsito. Fortaleza é um caso exemplar: a capital cearense reduziu em 40% as mortes no trânsito desde 2014 e se encaminha para ser uma das poucas cidades a atingir a meta proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de reduzir esse indicador pela metade até 2020.
O excesso de velocidade é a principal causa de multas em Fortaleza: só em 2018 foram 220,7 mil flagrantes desse tipo. Intervir nesse cenário é uma maneira efetiva de contribuir para a segurança viária. Cada 1,6 km/h de redução na velocidade dos veículos em vias urbanas resulta em uma diminuição de 6% nas fatalidades de tráfego. Em velocidades mais baixas, condutores, pedestres e ciclistas têm mais tempo para ver uns aos outros e reagir. Também diminui a distância necessária para que um veículo pare quando ocorrem conflitos, melhorando a capacidade dos condutores de evitar acidentes.
A OMS recomenda um limite de velocidade urbano de até 50km/h, e foi o que fez Fortaleza em duas das avenidas arteriais mais críticas em acidentes. Assim, a cidade alcançou uma redução de 31,5% dos acidentes com vítimas na Av. Leste-Oeste, e de 32,8% na Av. Osório de Paiva.
A ação, que tem se mostrado efetiva, contou com uma estratégia mais abrangente para a readequação da velocidade ao reconhecer a influência do meio físico (larguras de faixa, infraestruturas de pedestres e ciclistas, oportunidades de travessia aos pedestres etc) no desenvolvimento de velocidade por parte dos motoristas. Também foi adotada abordagem de fiscalização com período de isenção de autuações acima do novo limite, levando em consideração a sensibilidade e o tempo de adaptação da população a mudanças em seu cotidiano. São exemplos de boas práticas a serem disseminadas por outros municípios.
Resultados positivos na Avenida Leste-Oeste...
A readequação do limite de velocidade na Avenida Leste-Oeste ocorreu em fevereiro de 2018 e foi pioneira na cidade. A via era a segunda avenida mais perigosa da cidade e contabilizou 106 mortes em um período de 10 anos. A estratégia para implementar a redução de velocidade contou com um pacote de intervenções físicas de redesenho ao longo do trecho entre as avenidas Pasteur e Radialista José Lima Verde.
A mudança de velocidade foi acompanhada pela implementação de novos semáforos, ciclofaixa, redução da largura das faixas de tráfego e do redesenho de algumas vias perpendiculares. O pacote de medidas, focado na proteção dos usuários vulneráveis, além de diminuir o número total de acidentes, reduziu em 63,3% no número de atropelamentos.
As intervenções físicas e de sinalização foram acompanhadas pela estratégia de fiscalização de transição, na qual condutores flagrados dirigindo até 60km/h não eram autuados, somente notificados, em um período de seis meses. Essa estratégia, de caráter educativo, se mostra efetiva para que os usuários assimilem as mudanças na via.
...Também ocorreram na Avenida Osório de Paiva
Após o caso de sucesso da Av. Leste-Oeste, em setembro do mesmo ano, a cidade orientou seus esforços para a redução de velocidade na avenida com maior número absoluto de acidentes fatais, a Av. Osório de Paiva. Nos últimos 10 anos, 129 pessoas perderam a vida devido a acidentes de trânsito no local.
Seguindo uma estratégia similar à da Av. Leste-Oeste, o limite de velocidade foi readequado para 50km/h no trecho entre a Av. Luiz Vieira e Av. Gomes Brasil, percurso de jurisprudência municipal da avenida. Além da nova sinalização, da inserção de novos semáforos e da implementação de ciclofaixa em canteiro central, houve o redesenho de cruzamentos críticos.
Cones ajudaram a testar novo desenho da avenida Osório de Paiva
A partir de uma auditoria de segurança viária do WRI Brasil, a Av. Osório de Paiva agregou ao processo de readequação uma etapa de teste do novo desenho viário. Essa estratégia permitiu adequar o projeto aos fluxos de veículos e pedestres na avenida de forma rápida e com baixo custo, a partir de testes com cones que simulavam as futuras intervenções.
A intervenção reduziu o número de acidentes com e sem vítimas, e diminuiu em 28,6% os atropelamentos no local. Os bons resultados da iniciativa agora subsidiam o município a pleitear com o estado do Ceará a implementação das mesmas ações no trecho de jurisprudência estadual da avenida.
Continuidade das ações
Tidas como projetos piloto, os resultados das duas avenidas se mostram tão positivos que novas intervenções do tipo estão planejadas ainda para esse ano. As próximas vias a serem readequadas serão as avenidas Francisco Sá, Augusto dos Anjos e José Bastos.
A readequação dos limites de velocidade, como visto, deve ser acompanhada de ações complementares que garantam a efetividade das reduções. Desde 2015, Fortaleza implementou uma série de medidas, fomentada pela Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito e com o apoio do WRI Brasil. A cidade se prepara, agora, para o lançamento de seu Plano de Segurança Viária. O documento garantirá a sustentabilidade das ações no município, em um esforço coordenado e multisetorial para manter a redução do número de mortes e gravemente feridos no trânsito, consolidando Fortaleza como uma referência latino-americana em segurança viária.