Essa postagem foi escrita em colaboração de Stewart Maginnis, diretor global do Grupo de Soluções Baseados na Natureza (Nature-Based Solutions Group) da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN) e Carole Saint-Laurent, vice-diretora do Programa de Florestas Globais e Mudanças Climáticas (Global Forest and Climate Change Programme) da IUCN.


Um movimento global para restaurar florestas degradadas e desmatadas está emergindo. O Desafio de Bonn, lançado em 2011, provoca a restauração de 150 milhões de hectares até 2020. A Declaração de Florestas da Cúpula de Clima de Nova York, assinada em 2014, ampliou essa meta em mais para 200 milhões de hectares até 2030. Em dezembro de 2014, a Iniciativa 20x20 foi lançada com objetivo de promover a restauração de 20 milhões de hectares de áreas degradadas na América Latina até 2020, reunindo esforços com a meta do Desafio de Bonn. A Iniciativa 20x20 está recebendo compromissos para completar sua meta e, além disso, vários países já anunciaram compromissos de restauração significantes para aderir ao Desafio de Bonn.

O movimento está crescendo rápido. É importante, então, explicar o que é a restauração de paisagens florestais, quais resultados essa restauração pretende atingir e onde ela deve ocorrer. Assim, desmistificamos as oportunidades de restauração ao redor do mundo.

O que é Restauração de Paisagens Florestais?

Restauração de Paisagens Florestais (RPF) é um processo que recupera a integridade ecológica e melhora o bem-estar humano em áreas degradadas ou desmatadas em biomas com potencial natural de sustentar florestas. Acima de tudo, a RPF reforça as funções naturais do ecossistema de uma área e promove o retorno da produtividade econômica e ecológica sem novas perdas de florestas nativas, pastos ou outros ecossistemas. A RPF não visa aumentar a cobertura florestal além do que é ecologicamente apropriado para uma paisagem.

O que é o Atlas de Oportunidades de Restauração Florestal?

O Atlas de Oportunidades de Restauração Florestal, criado pelo WRI, a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN) e a Universidade de Maryland, é um mapa que mostra as áreas potenciais para Restauração de Paisagens Florestal no mundo. A criação do Atlas tem o objetivo de inspirar e ajudar iniciativas de RPF, como o Desafio de Bonn, e a Iniciativa 20 x 20, e de indicar áreas onde é necessária uma análise mais detalhada.


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Como o Atlas foi feito?

Para encontrar oportunidades de RPF, foram comparados dois mapas globais: o potencial de cobertura florestal natural e a cobertura florestal atual, usando bancos de dados geoespaciais já existentes, com resolução de um quilômetro. O potencial de cobertura florestal foi mapeado em três classes de densidade baseadas em uma análise de clima, solo e bioma. A diferença entre a potencial cobertura e a cobertura atual de florestas indica a oportunidade de restauração, sendo que foram incluídas todas áreas com a capacidade biofísica de pelo menos 10% de cobertura florestal. Mais informações sobre a metodologia estão disponíveis em inglês aqui.

O que o Atlas mostra?

O Atlas destaca paisagens, em detrimento de áreas individuais, que têm o potencial para serem restauradas. Cerca de 25% dessas paisagens possuem baixa densidade populacional e tem capacidade biológica necessária para restauração de paisagens florestais. A maioria das oportunidades de restauração são do tipo “mosaico”, no qual as árvores são integradas com atividades já estabelecidas na área, como a agricultura e a agropecuária de pequena escala.

Como o Atlas deve ser usado?

O Atlas forneceu subsídio e orientou o Desafio de Bonn e os componentes da Declaração de Florestas da Cúpula de Clima de Nova York. Governos, ONGs e outros interessados no setor florestal orientaram-se pelo Atlas para anunciar seus compromissos de restauração.

Como se trata de um trabalho com informações globais, ele não mostra exatamente onde a restauração deve ocorrer nem quais atividades e intervenções são mais adequadas para o local. Porém, o Atlas pode ser usado para guiar análises mais detalhadas em áreas que possuem maior potencial de restauração, nas quais deve-se integrar aspectos locais como a condição ecológica, conhecimento de especialistas e stakeholders, definições de floresta usuais e incorporação de dados com alta resolução que estão disponíveis no nível nacional ou regional.

Como podemos desenvolver análises mais detalhadas para apoiar projetos locais de restauração?

O WRI e a IUCN desenvolveram um Guia sobre a Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração (ROAM) para ajudar interessados a determinar quais atividades de restauração são ecológica, social e economicamente benéficas para uma determinada área degradada; a entender o contexto social, legal e institucional que permite a restauração; e a formular estratégias de longo prazo a nível nacional ou subnacional. A edição-teste do Guia sobre a ROAM está disponível em Inglês, Francês, Espanhol e Português. Governos e ONGs em vários países como Gana, Ruanda, México, Brasil, Etiópia e Quênia já começaram a aprimorar as avaliações de restauração usando a ROAM.

Quais são os próximos passos no mapeamento de restaurações?

Diversos grupos estão dispostos a aprimorar o mapa global e acrescentar mapeamentos que contêm outras florestas e ecossistemas passíveis de restauração. Outros interessados ligados às áreas áridas pretendem capturar oportunidades de restauração em áreas com cobertura florestal esparsa, como o Sahel africano. Além disso, especialistas em pradarias querem mapear pastagens antigas, onde a cobertura florestal é naturalmente baixa e não deve haver incremento florestal. A comunidade relacionada à mitigação às mudanças climáticas tem interesse em saber quanto carbono pode ser estocado por meio da restauração de paisagens florestais. A combinação desses interesses pode promover a restauração de áreas degradadas, permitindo a utilização de forma produtiva para a sociedade e o meio ambiente.

Novos produtos e sistemas também têm que ser desenvolvidos. O Desafio de Bonn e a Declaração de Florestas da Cúpula de Clima de Nova York demandam um mapa global como linha de base para monitorar progresso. Isto porque países que se comprometem a restaurar precisam ter o cenário inicial mapeado e um sistema de monitoramento capaz de reconhecer a recuperação da cobertura florestal e outros aspectos da restauração de paisagens florestais.

Convidamos pesquisadores e outros especialistas a colaborarem com um mapeamento mais detalhado, no monitoramento de paisagens florestais e na identificação de oportunidades de restauração em nível global, nacional ou subnacional para incorporar novas informações e disponibiliza-las.