Este artigo foi escrito por Eliot Metzger, Samantha Putt del Pino e Lindsey Longendyke e originalmente publicado no WRI Insights.

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Muitas empresas medem o crescimento vendendo mais produtos para mais pessoas. Há uma expectativa de que o mercado de consumo simplesmente cresça com o passar dos anos. O mundo deve abrigar mais de 9,5 bilhões de pessoas até 2050, e ter muito menos gente vivendo abaixo da linha da pobreza em relação ao cenário atual. Graças à rápida industrialização de países em desenvolvimento, como o Brasil, a China e a Índia, 3 bilhões de pessoas são esperadas para acender à classe média global nos próximos 15 anos. Tal mudança demográfica representa tanto uma vitória do desenvolvimento humano, como também uma enorme oportunidade de negócio para empresas que atenderem às necessidades desses consumidores.

No entanto, há uma conta que não fecha: os padrões atuais de consumo colocam a economia global – ainda que ela passe por melhorias de eficiência – em uma trajetória insustentável. Se seguirmos nesse caminho, nós, seres humanos, usaremos três vezes mais recursos naturais até 2050 em comparação ao que usamos no ano 2000 – sendo que os recursos usados hoje já excedem os limites do planeta.

Poucas são as empresas que fundamentalmente estão repensando os modelos pelos quais atendem às necessidades dos consumidores. Isso é o que chamamos de “o elefante na sala de reuniões” (elephant in the boardroom, em inglês) – algo desconfortável e que ninguém menciona porque a solução requer uma mudança radical.

Líderes empresariais na berlinda

As empresas não vão prosperar com estratégias de crescimento baseadas no fornecimento infinito de recursos finitos. A falta de avanços frente aos desafios ambientais, como a mudança do clima, proporcionará instabilidade econômica e social, minando o desenvolvimento do planeta. As empresas que permanecerem estagnadas serão diretamente ameaçadas por modelos de negócios inovadores que surgirão para oferecer mais valor com os recursos disponíveis.

Enquanto alguns grupos empresariais já investem em operações e bens mais limpos e eficientes, como automóveis que consomem combustível com eficiência, esses passos são insuficientes se os modelos de negócios continuarem baseados em vender mais produtos para mais pessoas, exigindo cada vez mais recursos. Mesmo com uma economia significativamente mais eficiente no uso de insumos, estima-se que a extração de recursos naturais aumentaria em 40% até 2050, o que mina os objetivos globais de mudanças climáticas e de desenvolvimento sustentável e gera outros riscos ambientais.

Isso significa que para atender à demanda dos consumidores até 2050 – e aumentar os lucros –, as empresas devem promover mudanças nos seus modelos de negócios prioritários. Elas terão de repensar como suprir necessidades básicas, oferecer conforto e ser convenientes para milhões de consumidores – sem ultrapassar os limites do planeta.

Roupas exibidas em cabidesA indústria do vestuário é responsável por 10% das emissões de gases do efeito estufa no mundo e 20% da poluição industrial da água (Foto: Emily Orpin/Flickr)

Modelos emergentes para um mundo com recursos limitados

Uma classe média global crescente pede o surgimento de produtos e serviços inovadores que proporcionem valor aos acionistas e atendam às necessidades dos consumidores de diferentes maneiras.

Gwynnie Bee e Rent the Runway (disponíveis apenas nos Estados Unidos) são dois serviços que permitem aos consumidores alugar ao invés de comprar roupas. Esses dois exemplos têm o potencial de reduzir o desperdício na indústria da moda. Roupas descartadas representaram cerca de 8% de todos os resíduos sólidos urbanos nos Estados Unidos em 2013. Dar escala ao compartilhamento de peças de roupa reduziria drasticamente os danos ambientais causados pela indústria do vestuário, responsável por 10% das emissões de gases de efeito estufa e 20% da poluição industrial da água.

Lidando com o 'elefante na sala de reuniões'

Afastar-se de modelos de consumo que desconsideram a finitude dos recursos pode ser o desafio da sustentabilidade em nosso tempo. Mesmo assim, empresas com agendas de sustentabilidade louváveis fazem vista grossa para padrões de consumo insustentáveis. A análise de 40 mil relatórios corporativos de sustentabilidade entre 2000 e 2014 mostra que apenas cerca de 5% das empresas mencionam algum tipo de limite ecológico. Destes, a maioria não fornece detalhes sobre mudanças atuais ou planejadas para tratar do assunto.

Conversar sobre algo desconfortável e que ninguém comenta vai estabelecer as bases para a busca de novos modelos de negócios que permitam o crescimento dentro dos limites do planeta e gerem valor de uma maneira nova e excitante. Um relatório lançado recentemente pelo World Resources Institute (WRI), O Elefante na Sala de Reuniões: Porque o consumo descontrolado não é opção nos mercados de amanhã (em inglês), pode servir de guia para orientar a conversa dentro de empresas e entre as partes interessadas.

As escolhas que os líderes empresariais fazem hoje vão definir o futuro das gerações que virão.