Esse artigo foi escrito por Helen Mountford publicado originalmente no Insights.


É um sinal dos tempos que até o Fundo Monetário Internacional (FMI) esteja explorando maneiras de ajudar a enfrentar a crise climática. Levando em consideração os dois novos relatórios da organização divulgados recentemente e os oito anos de liderança da diretora-executiva Christine Lagarde, é perceptível como esse símbolo do pensamento econômico tradicional empresta sua voz e posicionamento único à causa do combate às mudanças climáticas. Mais especificamente, o FMI está trabalhando para melhor refletir a resiliência climática nos quadros macro fiscais e financeiros, avaliar os impactos fiscais e financeiros das diferentes políticas climáticas e incorporar o risco climático aos estudos dos países. Como Christine observou, “a mudança climática é o grande desafio existencial de nossos tempos”. Já está mais do que na hora de essa realidade estar adequadamente refletida no trabalho do FMI.

O que há de novo no FMI?

Um dos novos documentos divulgados é uma atualização detalhada sobre os subsídios globais para combustíveis fósseis e as externalidades negativas, como a poluição do ar. O relatório descobriu que o mundo está desperdiçando 6,5% do PIB global – US$ 5,2 trilhões por ano – subsidiando energia suja. O valor baixo da poluição do ar local , sobre o qual a Organização Mundial de Saúde estima vitimar 4,2 milhões de pessoas a cada ano, é a maior parte desses custos. O carvão continua sendo o maior beneficiário de subsídios, apesar de ser o mais poluidor.

Pela primeira vez, a análise sobre subsídios do FMI está ligada a um novo documento que explora como os países podem aplicar uma série de políticas fiscais para atingir seus objetivos do Acordo de Paris e o que o FMI pode fazer para apoiá-los. O documento enfatizava a importância central da precificação do carbono e de medidas para reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis, bem como a importância de outras iniciativas simultâneas como investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), infraestrutura, políticas do mercado financeiro e estratégias para apoiar grupos vulneráveis.

Esses dois documentos do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI são excelentes. O desafio agora é integrar a riqueza das orientações que eles contêm em trabalho relevante no restante da organização, bem como em políticas nacionais.

O que o FMI e outros estão fazendo agora?

De fato, o FMI já começou a integrar alguns dos impactos macrofiscais e financeiras das mudanças climáticas em outras áreas de seu trabalho. Por meio de suas consultas anuais ao Abrigo do Artigo IV, em que analistas avaliam a saúde econômica atual e futura dos países, o FMI ajudou a identificar maneiras pelas quais alguns países podem alinhar as políticas macroeconômicas e fiscais com a resiliência climática. Esse desenvolvimento aparentemente desinteressante foi em grande parte impulsionado pelo alerta de recentes eventos climáticos extremos, incluindo o furacão Maria em 2017, que dizimou ilhas no Caribe.

Com as consequências das mudanças climáticas começando a atingir as economias do mundo todo, o setor financeiro, sempre pragmático, também está despertando para os riscos climáticos. Sinais dessa mudança foram capturados no relatório de setembro de 2018 do New Climate Economy. Apenas alguns meses após o lançamento, aparentemente há um efeito bola de neve acontecendo.

Por exemplo, a Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD) estabeleceu uma série de recomendações, em julho de 2017 para aumentar a transparência em torno dos riscos financeiros significativos das mudanças climáticas, a fim de melhorar as escolhas de investimento. A aceitação dessas recomendações em um período relativamente curto é notável: o TCFD agora conta com mais de 500 empresas apoiando, que representam um valor de mercado de mais de US$ 7,9 trilhões, incluindo 287 empresas financeiras responsáveis por ativos de quase US$ 100 trilhões.

E o que poderia ser um símbolo mais claro dessa mudança do que o Sovereign Wealth Fund da Noruega, construído a partir das receitas de petróleo e gás, excluindo as empresas de exploração e produção de combustíveis fósseis da sua carta de investimentos para reduzir os riscos à economia norueguesa?

Como o FMI e outros podem intervir na ação climática?

Essa notável mudança no setor financeiro, somada ao entusiasmo contagiante das greves Fridays for Future, do Green New Deal, dos protestos da Extinction Rebellion e outros, colocam agora a responsabilidade de aumentar a ambição climática diretamente em nossos líderes políticos e institucionais.

Para o FMI, essa é uma excelente oportunidade para aproveitar o grande trabalho iniciado e promover de forma mais sistemática o uso da política econômica e fiscal para impulsionar a ação climática nacional, inclusive por meio da recém-lançada Coalition of Finance Ministers for Climate Action. E isso significa ir além do foco nos impactos climáticos, mas também lidar com as implicações macro da transição para economias de carbono zero. O FMI deve integrar a avaliação de riscos climáticos em todas as consultas do Artigo IV, para todos os países e para todos os anos, bem como tomar outras medidas importantes para apoiar essa agenda.

Para os líderes de países, tudo isso significa ação – não para gerações distantes, mas para as pessoas hoje. Os benefícios econômicos e sociais do desenvolvimento de baixo carbono, que somam US$ 26 trilhões até 2030, estão à disposição. Isso inclui 65 milhões de novos empregos até 2030, bem como 700 mil mortes a menos por poluição do ar.

A Indonésia é um bom exemplo de como os países podem aproveitar essa oportunidade. Através de sua nova Iniciativa de Desenvolvimento de Baixo Carbono, agora está tomando ações climáticas ambiciosas como parte de seu próximo plano de desenvolvimento de cinco anos, colocando o país em um caminho para atingir ou superar suas metas de redução de emissões enquanto alcança 6% de crescimento do PIB por ano entre 2019 e 2045, superando o crescimento registrado no modelo usual. Ver uma economia rica em recursos, dependente de combustíveis fósseis, populosa e crescente como a Indonésia realizando essa mudança, deve fazer com que todos os ministros da economia parem e pensem. O mesmo deveria ocorrer sobre o fato de que o FMI está buscando integrar ativamente os riscos climáticos em seu trabalho.

O mundo enfrenta uma contagem regressiva em relação ao clima, sem poder perder nenhuma oportunidade. Como Christine Lagarde disse, "a ação é uma exigência para todos, todas as instituições, todos os países". Não há desculpas, nem qualquer razão para retardar a transição para uma nova economia climática.